São José do Egito é minha cidade
Comecei com dezessete de idade,
Imitando a voz do uirapuru
Nesta hora canto eu e cantas tu,
que a minha cantiga nada afeta
É preciso ter uma ideia concreta
Que o povo entenda o que é cantoria
E se poeta vencer-me em poesia,
Não direi a ninguém que fui poeta. *
Rico de amor, de elegância
Testemunha ocular da minha infância,
Dos meus dias românticos do passado
Onde eu corri muito atrás do gado,
Barbatões, vacas brabas e garrotes
O cavalo suado, a dar pinotes,
Mas, eu que na sela tinha apoio
Abri a garganta e dava aboio
Que abalava os angicos do serrote. **
Tenho visto dez, doze numa feira
Maltratando os colegas de primeira
E enganando, iludindo a humanidade
Namorando mocinhas com maldade,
depois fala mal da moça alheia
Esses cabras merecem muita peia
Pra deixarem de ser tão imorais
E eu não a polícia o que é que faz
Que não bota esse cabra na cadeia? *
Dou o peso esquisito do meu braço
Não existe prisão feita de aço
que, com um murro, eu não parta pelo meio
No momento eu acabo com o esteio,
Que alguém pra fazer gasta um ano
Tiro telha, quebro ripa, envergo cano
De metal, de aço bem maciço
E você morre e não faz esse serviço,
Só faz eu porque sou Paraibano.**
E nem da guerra a cruel calamidade
Não me causa o temor a tempestade,
Nem corisco, nem raio, nem trovão
Não me assombra, também, qualquer leão
E da cobra o veneno fulminante
Não faz medo a tromba do elefante,
Nem do mundo, afinal o seu segredo
E neste mundo o que me tem feito medo
É cantar com um sujeito ignorante. *
Entrei pela porta de atrás
E peguei o irmão de satanás
O primo, o sobrinho e um parente,
Pra mostrar-lhe que sou cabra valente
Dei-lhe um tapa no diabo carrancudo,
Peguei outro diabo cabeludo
Dei-lhe tanto que ele ficou calvo,
E se você morrer hoje já esta salvo
Porque o que tinha de diabo eu matei tudo. **
Um cachorro ladrou dando sinal
Cem mulheres morreram no hospital
E o sol nas alturas se escondeu
Uma praga de mosca apareceu
O oceano parou o movimento
A lua deixou o firmamento
E foi queixar-se, no final, ao Padre Eterno
E o diabo gritou lá do inferno:
Foi Diniz que nasceu neste momento *
E por vilas, cidades e aldeias
Viajou um ano com um par de meia,
Sem tirar a miséria pra lavar
No momento que ele foi tirar,
O mau cheiro pegou fazendo efeito
Uma vaca passou perdeu um peito,
Uma cobra com nojo vomitou
Um urubu engoliu e congestou,
Com três horas morreu, não teve jeito. **
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