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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Poesia: Conversa em glosa, rima e prosa, por Jesus de Rita de Miúdo



PROSA SOBRE GLOSA

Tenho pesquisado sobre a Glosa e percebi que o estilo propriamente dito anda um tanto quanto fora de uso. Não sei se é porque em sua gênese o estilo possui um apelo tido por imoral na maioria das vezes, ou se apenas pelo crescimento e advento das poesias tidas como “livres e modernas”.
O fato é que tenho empenhado – com a ajuda de alguns amigos – verdadeiro esforço em trazer de volta as glosas, para o nosso divertimento próprio e, depois, para fazer rir, também, os amigos mais próximos. Para isso haja fescenismo nas poesias.
A Glosa, como já sabemos, é uma poesia popular desenvolvida a partir de um mote geralmente feito em dois versos. Geralmente esse mote era criado por alguém e desenvolvido pelo glosador (poeta) provocado.
Algumas diretrizes para a criação de um mote devem ser respeitadas. A sílaba tônica sendo a sétima do verso, havendo raríssimos casos do não uso “dessa regra”, além, claro, das “leis gerais da metrificação”.
E pesquisando sobre o tema vou encontrando tesouros e me aprofundando na busca de maior riqueza literária. Por exemplo, eu descobri que no Rio Grande do Norte a forma mais comum de se escrever Glosa usa – de uma prática herdada da região do Assu – o esquema de rimas ABBAACCDDC.
Há também o estilo criado sobre um mote de apenas um verso, coisa bem rara no Brasil e desusada também em Portugal.
Tomo por exemplo o mote “Nem tudo que tomba cai”, que o poeta Manoel Pitomba de Macedo (1924 – 1957), assuense, assim glosou:

Nem todo homem tem brio
Nem toda moça se casa
Nem todo fogo tem brasa
Nem toda lã dá pavio.
Nem todo inverno faz frio,
Nem todo filho tem pai,
Nem tudo que entra sai,
Nem toda fera é valente,
Nem todo lorde é decente
Nem tudo que tomba cai.

Apesar do mote em apenas um verso, a distribuição da rima se deu no estilo dominante nas glosas de autores potiguares (ABBAACCDDC).
Se há uma forma clássica no estilo poético da Glosa, poderíamos defender o primeiro verso desse mote caindo na quarta linha da poesia e o segundo na décima. Tal estilo é o mais comum também em Portugal, onde a Glosa Fescenina foi bastante popular, principalmente na poesia jocosa composta para a diversão.
O mote composto por três versos esteve sob grande apreciação no Brasil colonial, mas se perdeu com o tempo.
Aliás, é do período citado a obra de Gregório de Matos Guerra (1636 – 1695), que por suas obras fesceninas foi apelidado de Boca do Inferno ou Boca de Brasa, pois que não economizava na sátira e da indecência quando glosava para criticar um inimigo, ou mesmo, apenas, para divertir seus pares.
No livro A Arte do Poeta (Livraria São José, 1956, pag. 51) o autor Murilo Araújo cita a glosa como um “gênero de pequenos poemas, muito usado no século XVIII e que consistia em compor a peça lírica sujeito à obrigatoriedade de encerrar estrofes com versos do mote, fornecido por outra pessoa”. Para o autor citado a Glosa é um elemento vão de verbalismo e dificilmente pode ser considerada como verdadeira poesia.
No livro Glosa Glosarum (Edições Clima, 1979) do assuense Celso da Silveira, o autor demonstra grande conhecimento sobre glosas e chega a fazer uma breve análise entre a semelhança da Glosa e da Décima. Ambas são, pela compreensão de Celso, “ligeiramente diferentes, pois a primeira é rigorosamente uma composição septisilábica, a outra varia até o decassílabo, embora ambas sejam poemas de dez versos”.
Há certa discussão sobre a origem de ambas. Muitos defendem que as duas têm a mesma pátria. Outros defendem a Décima com origem na Espanha, onde Miguel de Cervantes (1547 – 1616) formulava as suas obras no estilo ABABACCDDC.
As primeiras décimas portuguesas, por sinal, observavam a sequência de rimas obedecendo ao esquema ABBAECCDDE.
Tal debate é objeto da pesquisa de Luiz da Câmara Cascudo, e foi evidenciado em sua obra nas páginas dezoito e dezenove do seu livro Vaqueiros e Cantadores (Edições de Ouro, 1970), no qual o autor defende que no Brasil mais rural tanto na Glosa quanto na Décima reinava o esquema ABBAACCDDC.
Da Paraíba, mais precisamente de Bananeiras, trago hoje o mote e os versos de Felício Vaz Guedes, funcionário público, nascido em dezesseis do século passado e morto em setenta e seis do mesmo século, saindo do estilo satírico, jocoso e fescenino tradicional da Glosa.

Mote:
Doutor, eu não sou poeta
Sou curioso somente.

Glosa:
Qualquer um que saiba veta
Os versos que às vezes faço,
Pra rimar sinto embaraço,
Doutor, eu não sou poeta.
Versejando pego a reta,
Com medo de muita gente
Também não sou descendente
De Bilac ou Mariano,
Pra não entrar pelo cano
Sou curioso somente.

Daí, eu vou sobre o mote de Felício Vaz e destaco da minha pena, extensão do meu pensar:

Queria cumprir a meta
De viver só de poesia
Mas descobri outro dia
Doutor, eu não sou poeta.
Isso muito me afeta
Chegando a ser comovente
Meu esforço diligente
Pra fazer verso perfeito
Mas creio que não tem jeito
Sou curioso somente.

Fonte: Jornal Besta Fubana

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