
Envolvido em polêmica após participar de um comercial da Coca-Coca, o cantor passou de "gênio" à "bunda mole" nas redes sociais. Em resposta aos julgametos do público, doou o cachê de R$ 80 mil que havia recebido à Sociedade Lítero Musical, no Irará, cidade baiana onde nasceu. Contra-atacou ainda com o álbum Tribunal do Feicebuqui.O BookSong veio para apaziguar os ânimos entre músico e patrão - como se refere aos fãs.
Entrevista >> Tom Zé
"A vida de artista virou uma religião. É muita ocupação"
Como está a sua rotina?
A quantidade de trabalho é tudo o que eu posso aguentar. Agora mesmo estou envolvido em uma música para um disco infantil do Zeca Baleiro. Entre uma coisa e outra, gravo umas imagens para um vídeo do colega Marcus Preto. É tanta ocupação. Quer dizer, a vida de artista virou uma religião. Faço ginástica na direção de ficar pronto para os palcos. Quando viajo, o tempo que não estou trabalhando, estou descansando para trabalhar. É uma espécie de religião. Na verdade, a palavra não é essa. Estou tentando me lembrar, por isso estou gaguejando.
Isso. Devoção é melhor do que religião.
Você gosta de dar entrevistas?
Acho ótimo. Me esforço para tornar o cognitivo mais interessante e fazer o outro se interessar por meu trabalho e, assim, salvar meu futuro. Mas tem um tipo de pessoa que não entende fácil, o que torna tudo um pouco mais pesado. Quando comecei a falar sobre Tropicália lixo lógico, que é um disco muito exato, eu precisava de atenção. E como já fui jornalista, sabia que muitos não teriam o tempo que eu precisava para explicá-lo.
Você foi jornalista por muito tempo?
Durante uns oito meses, mas fui um fracasso na redação. Foi em 1959. Eu era foca (jornalista iniciante) e cobria o serviço de obras públicas de Salvador. Vez ou outra, pegava outras pautas. Lembrei até de uma história boa dessa época. Era véspera do dia de Ação de Graças, meu editor me mandou entrevistar o arcebispo de Salvador. No meio da conversa, ele falou que ‘embora não tivesse o que agradecer, ia comemorar a data’. Pus isso na matéria. No outro dia, não saiu. Fui trabalhar chateado, todo murcho. Quando os outros repórteres me viram, fizeram uma festa, me abraçaram, gritavam ‘filho da puta, você é foda… puta que pariu!’. Como eu era comunista, a turma achou que eu tinha inventado a fala do padre para desmoralizar a igreja. O pessoal adorou, menos o dono do jornal, que era direitista… (silêncio). Você vai escrever isso no jornal?
Tem algum problema?
Não, não, pode colocar.
E a carreira nos palcos, começou depois do episódio?
Um pouco depois. Pensei ‘vou largar essa porra que não tenho jeito para isso’. Mas eu era muito inibido. Foi um drama. Comecei a estudar um homem da mala que vendia remédio na feira. Me acostumei com a forma que ele transformava a praça em palco e plateia. Tomava nota de tudo que ele fazia. Terminei me dando conta que o moço só tinha dois esquetes e uma capacidade de improviso crucial. Hoje eu sou o homem da mala vendendo remédio nos palcos.
Mas você trabalha com “ganchos”, como um jornalista. Foi assim com a música lançada em apoio as manifestações de junho no país e o álbum (Tribunal do Feicebuqui), após a polêmica que se criou com a sua participação no comercial da Coca-Cola.
Sou um jornalista cantando, é verdade. Sempre existe um gancho. Veja bem, o Tropicalismo, por exemplo, aconteceu por causa da educação moçárabe, que, não sei por que, passou em branco na minha escola. Essa é a minha teoria. A minha universidade foi o balcão da loja de tecidos do meu pai. Toda hora tinha comunista conversando e isso ficou no lixo lógico. Meu cérebro nunca jogou fora. É assim com tudo ao meu redor.
Há pouco tempo, você chamou Michel Teló de gênio por causa do hit Ai se eu te pego. Gosta da música?
Gosto da expressão. É um coisa que todo mundo já teve vontade de falar ao se interessar por outra pessoa, mas não existiam as palavras. 'Ai, se eu te pego!' fantástico, não? Eu não tive capacidade de fazer nada parecido.
Neusa, sua esposa, é também sua empresária. O trabalho traz problemas para o casamento?
Empresário fora é uma fortuna. E ainda têm aqueles casos de roubo. Se for para ser roubado, é melhor que seja por alguém de casa (risos).
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