
A luz do sol se escoava
Um traço da cor de anil
O céu deserto mostrava
Num lago triste e sereno
Nadava um cisne pequeno
Eriçando as alvas plumas
As derradeiras neblinas
Faziam lindas ondinas
Por entre as brancas espumas
Nos galhos em que nasceu
Cantava, triste e choroso
As mágoas do peito seu
O sol além se deitava
A sua luz se esvaziava
Pela ramagem da horta
A brisa, em leves ruídos
Levava os ternos gemidos
Da tarde já quase morta
Pelo pequeno gramado
A relva, fresca e macia,
Era um tapete rendado
Se ouvia, lá da colina,
No coração da campina,
Soluçar uma cascata
E o sol, com seus lampejos,
Dava os derradeiros beijos
No rosto verde da mata
Dourava os morros azuis
Tornando o céu uma bela
Pulverização de luz
A aura fresca e macia
Por entre a mata fazia
Os mais suaves rumores
As borboletas douradas
Se misturavam vexadas
Bebendo o rocio das flores
Com lentidão e leveza
Os regatos retratavam
Um lindo céu de turquesa
Os orvalhos cristalinos
Se desprendiam divinos
Da copa dos arvoredos
Nas carnaúbas rendadas
Como com mãos espalmadas
O sol brincava em seus dedos
Lindos colibris dourados
Sugando o néctar das flores
Dos jiquiris borrifados
No pomar, um rouxinol
Contemplava o arrebol
Numa profunda tristeza
Um traço débil de luz
Rasgava os panos azuis
Do corpo da Natureza
Sopravam no campo vago
Fazendo alguns burburinhos
Na face lisa do lago
As abelhas, preguiçosas,
Se escondiam nas rosas
Que a Natureza burila
E o cisne de brancas penas
Cortava as águas serenas
Da superfície tranquila.
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