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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Poesia: "Um inverno no sertão", um poema de João Batista de Siqueira (Cancão)


Fotografia de JAIR SOM

UM INVERNO NO SERTÃO

A passarada revoa,
A chuva cai sobre a terra,
Enquanto o trovão ecoa
Nas aberturas da serra;
Canta alegre o bacurau
E até mesmo o pica – pau
Fura com força a madeira;
Passa a brisa sonolenta,
Espalhando, friorenta,
Cheiro de terra brejeira.

Vão as águas vagarosas
Da cachoeira espumante
Se alargando, preguiçosas
No coração da vazante;
Fazem dobras nos tapumes,
Marulham com mil queixumes,
Lamentos, soluços, mágoas
E logo, ao chegar ao rio,
Recebem mais poderio
Por causa das outras águas.

A terra fica sombria,
Molhada de canto a canto,
Risonha, esbelta e sadia,
Cheia de riso e encanto.
A floresta se deleita,
Fronda, se ergue, se enfeita
De lindas flores bordada;
O verde de sua rama
Faz mais belo o panorama
Por ter a folha lavada.

Sempre perto da corrente
Canta alegre a jaçanã,
Quando o sol no oriente
Desfaz os véus da manhã.
É momento em que o touro,
Com força e por desaforo,
Escava o solo e arromba;
Depois, percebendo bem,
Que, à tarde, a chuva vem,
Fica em redor da maromba.

O gemer do ribeirão,
O fragor das cachoeiras,
O grito do gavião,
O cheiro das laranjeiras.
O furta-cor da ramagem,
Os soluços da aragem
Num leve e sereno açoite;
O brilho dos pirilampos
Perdidos, nos vastos campos,
No bojo escuro da noite.

A brisa passa macia
Por cima do verde monte.
Outra baforada fria
Chega de outro horizonte.
Cai intenso temporal,
As águas banham em geral
Desde a cidade à savana;
São mais espalhafatosas,
Pelas baixadas brumosas,
Cobertas de jitirana.

O vento espalha um bafejo,
Quando a manhã se levanta.
O sabiá sertanejo
Eriça as pernas e canta.
Logo, a seriema grita,
O lambu também apita
Nos carrascais escondidos;
Os pequenos beija- flores
Desafiam suas cores,
Nos jardins mais coloridos.

Quando a noite vai baixando,
Desdobrando seu vestido,
O globo fica cantando
Com prazer de ter chovido.
Cruzam alguns vaga-lumes,
O ar espalha os perfumes
Das flores dos manacás;
As estrelinhas fulguram,
Logo, depois, se misturam
Nas brumas que a noite traz.

Contente, o sapo coaxa
Sobre as águas da lagoa;
Ele mesmo sente e acha
Ter a vida muito boa.
Brinca o peixe no riacho,
Vai em cima, vem em baixo,
Sem se arredar da corrente;
Canta contente o carão,
Dando o anúncio que o trovão
Há de voltar novamente.

A lavadeira, também,
Não sai da beira do rio;
Toda manhã ela vem
Sem sentir calor nem frio.
Entre a palha do coqueiro,
Esvoaça prazenteiro
Um festivo rouxinol;
Salta e canta alegremente,
Esperando, impaciente,
A santa vinda do sol.

O aguaceiro, no rio,
Desce fazendo manobra;
Não procura um só desvio,
Espuma fazendo dobra.
Empecilho grande ou miúdo,
Passa por cima de tudo,
Leva o que tiver na frente...
Até o próprio rochedo
Parece tremer, com medo
Dos abraços da corrente.

Voam lindos bem-te-vis
Por cima dos despenhados.
As águas rolam sutis
Dos montes emaranhados.
O tetéu, pela açudagem,
Olha, n’água, a sua imagem,
Se sente meditabundo...
De manhã, grita assustado;
Passou a noite acordado
Sem cochilar um segundo.

O agricultor bem cedo
Desperta a rapaziada;
Diz: – vamos lutar no bredo,
Visto a terra estar molhada!
Passam o dia no roçado,
Pé de milho apendoado,
Muitos de boneca loura;
Voltam todos satisfeitos,
Imaginando os proveitos
Do serviço da lavoura.

Faz, alegre, o papagaio,
Revoada barulhenta.
Já está no fim de maio,
Junho, agora, se apresenta.
Mês de finos nevoeiros,
De serenos passageiros,
De fraca evaporação,
De bailes de realejos,
De novenas, de festejos
Oferecidos a São João.

O povo todo animado
Desde a choupana às fazendas;
O mundo, um reino encantado,
Qual seja o País das Lendas.
Em cada boca, um sorriso;
Cada feição, um aviso
De paz, amor e harmonia;
As festas de apartações,
Belas manifestações
Nas noites de cantoria.

João Batista de Siqueira (Cancão)

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FONTE: ANTOLOGIA POÉTICA RETRATOS DO SERTÃO
GRÁFICA FAC FORM 2009
MARCOS PASSOS

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