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Fotografia de JAIR SOM |
A chuva cai sobre a terra,
Enquanto o trovão ecoa
Nas aberturas da serra;
Canta alegre o bacurau
E até mesmo o pica – pau
Fura com força a madeira;
Passa a brisa sonolenta,
Espalhando, friorenta,
Cheiro de terra brejeira.
Da cachoeira espumante
Se alargando, preguiçosas
No coração da vazante;
Fazem dobras nos tapumes,
Marulham com mil queixumes,
Lamentos, soluços, mágoas
E logo, ao chegar ao rio,
Recebem mais poderio
Por causa das outras águas.
Molhada de canto a canto,
Risonha, esbelta e sadia,
Cheia de riso e encanto.
A floresta se deleita,
Fronda, se ergue, se enfeita
De lindas flores bordada;
O verde de sua rama
Faz mais belo o panorama
Por ter a folha lavada.
Canta alegre a jaçanã,
Quando o sol no oriente
Desfaz os véus da manhã.
É momento em que o touro,
Com força e por desaforo,
Escava o solo e arromba;
Depois, percebendo bem,
Que, à tarde, a chuva vem,
Fica em redor da maromba.
O fragor das cachoeiras,
O grito do gavião,
O cheiro das laranjeiras.
O furta-cor da ramagem,
Os soluços da aragem
Num leve e sereno açoite;
O brilho dos pirilampos
Perdidos, nos vastos campos,
No bojo escuro da noite.
Por cima do verde monte.
Outra baforada fria
Chega de outro horizonte.
Cai intenso temporal,
As águas banham em geral
Desde a cidade à savana;
São mais espalhafatosas,
Pelas baixadas brumosas,
Cobertas de jitirana.
Quando a manhã se levanta.
O sabiá sertanejo
Eriça as pernas e canta.
Logo, a seriema grita,
O lambu também apita
Nos carrascais escondidos;
Os pequenos beija- flores
Desafiam suas cores,
Nos jardins mais coloridos.
Desdobrando seu vestido,
O globo fica cantando
Com prazer de ter chovido.
Cruzam alguns vaga-lumes,
O ar espalha os perfumes
Das flores dos manacás;
As estrelinhas fulguram,
Logo, depois, se misturam
Nas brumas que a noite traz.
Sobre as águas da lagoa;
Ele mesmo sente e acha
Ter a vida muito boa.
Brinca o peixe no riacho,
Vai em cima, vem em baixo,
Sem se arredar da corrente;
Canta contente o carão,
Dando o anúncio que o trovão
Há de voltar novamente.
Não sai da beira do rio;
Toda manhã ela vem
Sem sentir calor nem frio.
Entre a palha do coqueiro,
Esvoaça prazenteiro
Um festivo rouxinol;
Salta e canta alegremente,
Esperando, impaciente,
A santa vinda do sol.
Desce fazendo manobra;
Não procura um só desvio,
Espuma fazendo dobra.
Empecilho grande ou miúdo,
Passa por cima de tudo,
Leva o que tiver na frente...
Até o próprio rochedo
Parece tremer, com medo
Dos abraços da corrente.
Por cima dos despenhados.
As águas rolam sutis
Dos montes emaranhados.
O tetéu, pela açudagem,
Olha, n’água, a sua imagem,
Se sente meditabundo...
De manhã, grita assustado;
Passou a noite acordado
Sem cochilar um segundo.
Desperta a rapaziada;
Diz: – vamos lutar no bredo,
Visto a terra estar molhada!
Passam o dia no roçado,
Pé de milho apendoado,
Muitos de boneca loura;
Voltam todos satisfeitos,
Imaginando os proveitos
Do serviço da lavoura.
Revoada barulhenta.
Já está no fim de maio,
Junho, agora, se apresenta.
Mês de finos nevoeiros,
De serenos passageiros,
De fraca evaporação,
De bailes de realejos,
De novenas, de festejos
Oferecidos a São João.
Desde a choupana às fazendas;
O mundo, um reino encantado,
Qual seja o País das Lendas.
Em cada boca, um sorriso;
Cada feição, um aviso
De paz, amor e harmonia;
As festas de apartações,
Belas manifestações
Nas noites de cantoria.
GRÁFICA FAC FORM 2009
MARCOS PASSOS
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