Foto Reprodução de capa de disco
O
ano de 2019 entra hoje em cena com a missão de fazer ecoar em todo o Brasil a
voz já centenária de Nelson Gonçalves. Cantor de multidões, como o
contemporâneo Orlando Silva (1915 – 1978), Nelson Gonçalves nunca foi celebrado
pela modernidade como este referencial colega que influenciou até João
Gilberto.
Nelson
optou por deixar o nome na história da música brasileira pela eternidade do
repertório formado por sambas-canção, boleros, tangos e outros gêneros
passionais. Sim, a voz grave de barítono – cuja afinação e dicção impecáveis
ocultavam no palco e nos estúdios de gravação a gagueira lendária do cotidiano
– ardeu na fogueira das paixões folhetinescas do cancioneiro do Brasil
pré-Bossa Nova.
Com
roteiro centrado neste repertório de amores explícitos, um musical de teatro
escrito em tom filosófico, Nelson
Gonçalves – O amor e o tempo, estreia esta semana na cidade do
Rio de Janeiro (RJ) para abrir as comemorações do centenário de nascimento
deste cantor acidentalmente gaúcho, nascido em 21 de junho de 1979 na cidade de
Sant'Ana do Livramento (RS) com o nome de Antônio Gonçalves Sobral, mas criado
em bairros populares de São Paulo (SP).
Nelson Gonçalves, nascido em 1919, tinha voz de barítono aclamada pela afinação impecável — Foto: Reprodução de capa de disco
Ao sair de cena em 18 de abril de 1998,
Antônio já era Nelson. Aliás, para o Brasil, Antônio já tinha virado Nelson
Gonçalves desde os anos 1940, década áurea da era do rádio. De 1941 a 1998,
período em que esteve em atividade no mundo do disco, Nelson Gonçalves gravou
uma centena de álbuns e quase duas centenas das velhas bolachas de 78 rotações por minuto.
Ao
todo, entre LPs e compactos (os singles da
época de Nelson), o cantor teria vendido estimados 50 milhões de cópias de
discos. Número compatível com a popularidade deste intérprete que atravessou
modismos e movimentos musicais sem nunca sair de moda sob a ótica dos fiéis
ouvintes das rádios e dos discos do barítono.
Se
Nelson quase saiu de cena na década de 1960, não foi por causa do carimbo de
cafona posto pelos adeptos da Bossa Nova em todos os cantores que abriam o
coração e o diafragma para dar vozes robustas às dores de amores. Foi porque a
vida pessoal saiu momentaneamente dos trilhos.
Nelson Gonçalves foi cantor romântico, como está estampado na capa deste disco
— Foto: Reprodução de capa de disco
Cantor que chegou a gravar com Lobão nos anos
1980, Nelson Gonçalves teve vida rock'n'roll quando mergulhou nas drogas,
seguindo o mau exemplo do cantor que começou imitando, o tal do Orlando Silva,
até adquirir identidade própria. Penou na lutra contra o vício, mas se livrou
da cocaína. E conseguiu reabilitar na década de 1970 a voz limpa de cacoetes
que o fazia ser percebido como o Frank Sinatra brasileiro aos ouvidos de muita
gente boa.
Era
cantor tão seguro que, contam produtores musicais como José Milton, costumava
deixar o táxi esperando na porta do estúdio quando ia gravar uma música.
Voltava logo, pois tinha a justa fama de gravar de primeira.
Boêmio
e machista que disparava frases que hoje o fariam ser implacavelmente tachado
como politicamente incorreto, Nelson Gonçalves foi grande como a voz que
ressoou por seis décadas antes de se eternizar na música do Brasil. Falta
somente o Brasil redescobrir tal grandeza em 2019, ano do centenário de
nascimento de Nelson Gonçalves, um cantor de multidões.
Por Mauro Ferreira, G1
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