Toda tarde, vai preso, novamente."
Madrugada; vestido negro às horas.
Alvorada; é de cores seu vestido.
O crepúsculo, um instante dividido;
Movimento contrária à sua aurora.
Um que vem quando o outro vai embora,
Sendo, assim, um do outro, sempre ausente.
Um enquanto é passado, outro, presente.
Numa troca, por Deus, perpetuada.
“Todo dia o sol mata a madrugada,
Toda tarde, vai preso, novamente.”
Como é belo no campo o fim do dia!
Como o céu se desenha no infinito!
Um bailado de cores tão bonito
Pelas mão da divina sintonia.
A mistura real com a magia,
Num momento em que o sol não mais é quente;
Que se entrega nos braços do poente
E se esconde pra lua ser mostrada.
“Todo dia o sol mata a madrugada,
Toda tarde, vai preso, novamente.”
E liberta-se, o sol, num novo instante
Em que as vestes da noite são rasgadas.
Os seu raios se espalham nas calçadas,
Quando a luz já conquista seu levante.
Tem a estrela, que é o astro mais brilhante,
Que é o guia que traz o meu nascente.
Numa nova manhã vou, certamente,
Ver a noite, de novo, assassinada.
“Todo dia o sol mata a madrugada,
Toda tarde, vai preso, novamente.”
Ouço o som do cantar do urutau
Quando o dia se enfada de outro embate,
Numa luta que sempre acaba empate.
Já se espanta na estrada o bacurau.
Mãe-da-lua espreitando um pica-pau,
Arquiteto do seu próprio ambiente.
Que cochila e mantém o corpo quente
Bem no tronco, onde faz sua morada.
“Todo dia o sol mata a madrugada,
Toda tarde, vai preso, novamente.”
Quem, da noite, é passado e é futuro
Se refaz pra cumprir o seu reinado.
Nessa hora o tetéu já está cansado.
E quem canta é o canário em tom plangente.
Pois agora é a noite que é dormente
Para a mata poder ser despertada.
“Todo dia o sol mata a madrugada,
Toda tarde, vai preso, novamente.”
É sublime o arvoredo na chapada
Completando a paisagem do nascer.
E por sempre ter que amanhecer
“Todo dia o sol mata a madrugada.”
O reinado começa na alvorada
Vai, aos poucos, ficando, assim, mais quente.
Mas depois, abrandando, lentamente,
Vai perdendo, aos pouquinhos, o seu brio.
E pra lua espelhar, então, no rio.
“Toda tarde vai preso, novamente.”
Como o riso precisa da alegria
E o vento precisa do açoite,
Sei que o dia precisa, sim, da noite
E a noite precisa, enfim, do dia.
Um bailado que busca sintonia
Numa dança entre o agora e o mais à frente.
Se não fosse a imagem, então a lente,
Sei que não serviria para nada.
“Todo dia o sol mata a madrugada,
Toda tarde vai preso, novamente.”
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