DEIXA UM CHEIRO DE PASTO MASTIGADO.
Quando a brisa é um sopro benfazejo,
A galinha com sede dá um beijo
Na frieza da água da bacia;
No curral todo o gado principia
A ficar num recanto improvisado;
Com calor, fica tudo ali deitado,
Cada um parecendo uma criança.
Toda sombra de pau que um boi descansa
Deixa um cheiro de pasto mastigado.
Mastigando o que sobra do almoço;
Um cachorro cutuca no pescoço,
Onde as pulgas fizeram paradeiro;
Passa um gato correndo bem ligeiro,
Perseguindo um calango esverdeado;
O curral fica todo perfumado
Com a baba da boca da rês mansa.
Toda sombra de pau que um boi descansa
Deixa um cheiro de pasto mastigado.
Da garganta esquisita do rochedo;
Um preá pequenino sente medo
Quando vê chegar perto uma serpente;
Se destaca um aroma diferente
No lugar onde passam os pés do gado;
Um jumento lá fora do cercado
Ronca alto, dá coice, pula e dança.
Toda sombra de pau que um boi descansa
Deixa um cheiro de pasto mastigado.
Pra buscar mais um pouco de comida,
Quando a sombra da mata é mais comprida
E o sol faz partida na ladeira.
O vaqueiro, com jeito, abre a porteira,
Vendo o touro correndo agoniado;
A mutuca mordendo no costado,
Dando coice e fungando, ele se cansa.
Toda sombra de pau que um boi descansa
Deixa um cheiro de pasto mastigado
Encostado na sombra do arvoredo,
Descobrindo pra gente esse segredo
Da ração que lhe serve de sustento;
Com o rabo fazendo movimento,
Um chicote que Deus deixou pregado,
Espantando os mosquitos do seu lado,
Vez por outra a cabeça se balança.
Toda sombra de pau que um boi descansa
Deixa um cheiro de pasto mastigado.
Dá marrada debaixo da turina;
A novilha com fome inda se inclina
Pra comer mais um pouco o pasto santo.
Outra rês dá um pulo com espanto,
Quando escuta na cerca algum chiado;
As ovelhas, berrando, olham o roçado
Esperando mais tarde encher a pança.
Toda sombra de pau que um boi descansa
Deixa um cheiro de pasto mastigado.
MARCOS PASSOS.
FacForm - 2009
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