No riacho a areia esturricada
Traz lembranças da chuva que caia
E do barulho da água que corria
Impedindo a passagem da estrada
Onde outrora passava prateada
E se ouvia a zoada da cascata
Não se acha uma gota cor de prata
Pra fazer o café de manhã cedo
Quem for lá no sertão volta com medo
Das caveiras dos bois que a seca mata
O orvalho afastou-se da manhã
Na represa não canta a jaçanã
E nunca mais cachimbou a Borborema
Não se escuta o cantar da seriema
Na vazante não nasce mais batata
Se procura e não acha uma barata
E no roçado não tem um pé de bredo
Quem for lá no sertão volta com medo
Das caveiras dos bois que a seca mata
Na Lagoa não canta mais a gia
Nem o orvalho começa mais o dia
Gotejando a lavoura do roçado
Não se escuta a pingueira no telhado
Nem zoada da bica enchendo a lata
Sabiá nunca mais cantou na Mata
E nem têm água no tanque do lajedo
Quem for lá no sertão volta com medo
Das caveiras dos bois que a seca mata
Nunca mais vi preá passar na trilha
E no espelho da água o sol não brilha
Sertaneja não bota água no pote
Nuvens passam no céu dando calote
Aumentando demais a seca ingrata
E a cigarra fazendo a serenata
No lugar que cantava o passaredo
Quem for lá no sertão volta com medo
Das caveiras dos bois que a seca mata
Mote: Geraldo Amâncio
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