É ossada à vagar por vasta estrada
Que persiste seguir sua jornada
Tendo a dor torturando cada osso
Nem das sobras com seu sabor insosso
O seu cheiro sequer eu posso ter
Não encontro mais forças pra sofrer
E meu corpo do pão já não se nutre
Sou sobejo das garras de um abutre
Que não acha em meu ser o que comer
Por viver nessa vida abandonado
Desconheço o prazer de ser lembrado
Por qualquer um que seja meu parente
Já não tenho mais mente consciente
Pra seguir a correta direção
Todo rumo que sigo é contramão
E não tenho parada em lugar certo
Na cidade, no campo ou no deserto
Tem a marca da minha solidão
Nessa vida de sendas escabrosas
Sigo o tempo das horas pavorosas
Enfrentando o combate violento
Sou fadado a viver no esquecimento
Abraçando o pavor do meu temor
Minha luz apagou seu esplendor
E o negrume das trevas me persegue
Não existe na vida quem carregue
O seu fardo maior que minha dor
Sou espectro secreto e abstrato
Uma sombra no vão do anonimato
Que não muda seu torpe pensamento
Sigo o nada sem nada ter intento
De manter o meu cérebro absorto
O vazio de pleno desconforto
Me acompanha na sina desvalida
E na curva cruel que espreita a vida
Hão de um dia me achar caído morto
São José do Egito - PE.
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