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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Poesia: Da série vale a pena ver de novo: Zezé Lulu


DA SÉRIE VALE A PENA VER DE NOVO: ZEZÉ LULU

O poeta repentista José Gomes do Amaral, Zezé Lulu, nasceu em 04 de dezembro de 1916 no Sítio Serrinha, distrito de São José do Egito. Filho de Luiz Ferreira Gomes e Maria José de Santana, ambos, agricultores. Com apenas seis anos de idade, Zezé Lulu já assistia às noitadas de cantoria do poeta Antônio Marinho, seu tio por afinidade, que, mais tarde, seria referencial poético.
Sua primeira cantoria em 1940 ocorreu na residência do Sr. José Beato, Sítio Serrinha, com o cantador Amaro Bernardino, também filho da região. Assim como Antonio Pereira, o poeta da saudade, não sabia ler, nem escrever, apenas assinava o nome. Contudo, raramente cometia erros de português, pois além de grande repentista, era perspicaz e observador do vocabulário dos letrados colegas de profissão. Nunca estudou, mas tinha o conhecimento da natureza, conforme ele próprio glosou:

Essa palavra ciência
Deus, a mim, não concedeu;
Meus ouvidos não ouviram,
Minha boca nunca leu,
Mas vivo aprendendo os livros
Que a natureza me deu.

Zezé Lulu, o extraordinário cantador que nunca desmetrificava. Seu irmão, o poeta João Lulu, de saudosa memória, dizia: parece que os versos de Zezé vêm todos cortados do mesmo tamanho, como os de Antônio Marinho.
Seu sobrinho e admirador, o poeta João Filho, assim depõe sobre o repentista: 

“Eu nunca vi Zezé perder uma cantoria pra ninguém. Mesmo quando ele, por desconhecimento, não se aprofundava no assunto, ficava correndo por fora, à maneira do ‘Águia do Sertão’, recebendo, na maioria das vezes, mais aplausos do que o companheiro. Outra característica do grande mestre era fazer o povo rir e chorar na hora em que quisesse. Assisti a muitas cantorias dele que, quando desenvolvia algum mote de sentimento, lá pela madrugada, aí é que qualquer um chorava”. Apesar do seu talento nato, Zezé Lulu só ficou mais conhecido quando começou a cantar com Lourival Batista, que muito o valorizou, além de Zé Catota e Job Patriota, entre outros.

No entanto, foi o grande Manoel Xudu, o principal responsável pelo engrandecimento de nome de Zezé, quando reproduziu, através de um folheto de cordel, a grande cantoria que fizeram juntos, pela primeira vez em que se encontraram. Igualmente a outros cantadores ‘assombrosos’ do passado, num tempo em que não havia gravador, pouca coisa foi resgatada de sua fase gloriosa. Porém, o que temos vale muito.

Como prova de sua capacidade de improviso, o poeta nos deixou os magníficos versos:

Lá dentro do meu baixio,
Tem um pé de goiabeira;
Eu, na sombra, não confio,
Vou dormir lá na mangueira.
Tem mais um pé de jaqueira,
Perto de um pé de mamão,
E um de banana pão...
Por entre a folha rasgada,
Vendo a lua debruçada
Na janela do sertão.

Grande observador dos detalhes da natureza campestre, Zezé improvisou:

Eu admiro a aranha
Pela casa que constrói!
Cavar, no chão, um buraco
Pra que aquele lhe ‘apói’,
Botar uma tampa em cima
Que nem a chuva destrói.
Na copa do pé de uva,
Canta canário e vem-vem
E a rolinha saudosa,
Pousa pra cantar também,
E o concriz canta olhando
As cores que a pena tem.

Lagartixa, no coqueiro,
Sobe com todo despacho
A fim de comer abelhas
Que sugam as flores do cacho.
Vai de cabeça pra cima,
Vem de cabeça pra baixo.

A pequena formiga é um inseto
Porém, faz sua casa bem segura.
Com os ‘dentes’, escavaca a terra dura
Na areia, no barro ou no concreto.
Não precisa pedreiro ou arquiteto,
Engenheiro formado ou construtor;
Ninguém sabe quem é seu professor,
Nem também, a ciência que estuda.
Quando o tempo é contrário, ela se muda,
Quanto é grande o poder do criador!

Vejo os campos bordados de mil flores,
Quando as plantas estão em florescência;
Cada uma contendo uma essência,
Muitas delas com três ou quatro cores.
E os órgãos, que são reprodutores,
Dão-lhe a concepção e o olor;
Vinga o fruto que cresce e tem sabor,
Com sementes pra nova produção,
Outros criam batata pelo chão...
Quanto é grande o poder do criador!

Zezé, profetizando sua partida para o sertão celestial:

No dia em que eu morrer,
Vai ser grande a confusão...
Uns costurando mortalha,
Outros pregando o caixão,
Outros dizendo: acabou-se
Um cantador do sertão.

Zezé Lulu deixou o mundo dos cantadores, aos 71 anos de idade, para encantar os salões celestes com o brilho divinal dos seus repentes, ao lado dos companheiros, poetas imortais.

Fonte: Antologia Poética Retratos do Sertão - Marcos Passos

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