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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

POESIA: Severino Ferreira, o gênio em forma de humildade

Severino Ferreira da Silva nasceu no distrito Cajueiro, da cidade de Touros, a 30 de março de 1951 e faleceu em 25 de outubro de 1997. Filho de Antônio Ferreira da Silva e Rita Ferreira da Silva. Ferreira começou a vida de cantador de viola aos 16 anos de idade, pouco estudou, aprendendo apenas a ler, mas se tornou um cantador que fabricava versos de extrema sabedoria em qualquer assunto proposto numa cantoria, seja em um festival ou em um "pé - de - parede". Ferreira improvisava como poucos e mantinha sempre com ele uma expressiva humildade, foi parceiro do grande e exigente poeta Ivanildo Vila Nova, e de muitos outros poetas, sejam eles famosos no mundo da cantoria ou não, Ferreira não escolhia dupla, e onde cantava arrancava aplausos, era versátil e genial em seus improvisos, seus versos tinham pitadas de humor, de ciência, se fosse o caso, de sertão, de amor, era um cantador que se podia chamar completo.

Alguns versos improvisados do gênio Severino Ferreira:

Cantando com Ivanildo Vila Nova, o mesmo termina uma sextilha dizendo - "A casa que muitos moram/ Ninguém sabe quem é dono",  Ferreira disse:

O rei é quem tá no trono
Quando o guarda vem prescreve
Terreno que tem frieza
Só desce garoa e neve
Sei que o velhaco não paga
Mas cobra de quem lhe deve

Mais á frente Vila Nova termina outra sextilha-"Não existe amor eterno/Com fome dentro de casa", Ferreira com genialidade e uma ponta de humor improvisa:

Fogo quente é o de brasa
Terra boa é a que alaga
Carinhoso é quem tem jeito
Mão boa aquela que afaga
E língua que muito fala
O "pé do ouvido" é quem paga

Cantando o mote homenageando o grande Pinto do Monteiro - O Nordeste Poético ainda chora/ Com saudade de Pinto do Monteiro, Ferreira improvisou:

Sei que Pinto deixou como recinto
A Monteiro que é sua cidade
O Nordeste até hoje tem saudade
De um poeta pacato e tão distinto
Outro galo não faz mais outro pinto
Que seja poeta e verdadeiro
Se pegar a galinha no terreiro
E tentar fabricar o ovo "gora"
O Nordeste poético ainda chora
Com saudade de Pinto do Monteiro

Cantando com Ivanildo Vila Nova, mandaram o mote em desafio- "Não bote a mão que se fura/ Que é caco de vidro só!". Ferreira  improvisou:

Sou pior do que cigano
Pra entender de magia
Falando em feitiçaria
Passo lição em baiano
Livro de São Cipriano
Decoro sempre de có
Quem for pra meu catimbó
Mergulha na sepultura
Não bote a mão que se fura
Que é caco de vidro só

Na mesma cantoria cantando sextilhas sobre os animais:

Muito me admira o galo
O nanico ou carijó
De dez ou vinte galinhas
Ele é quem dá conta só
Sem precisar vitamina
Nem caldo de mocotó

No ano de 96 em um festival na cidade de Petrolina, Ferreira duplando com Ivanildo Vila Nova, é sorteado com esse mote em sete sílabas- Não canto sabedoria/ Só sei cantar o sertão, veja duas das estrofes improvisadas pelo gênio


Só sei falar da ressaca
Do homem que se embebeda
Corujão que leva queda
Da cabeça de uma estaca
Canto o carinho da vaca
Com seu bezerro pagão
Por não ter água e sabão
Com a língua lambe a cria
Não canto sabedoria
Só sei cantar o sertão

Só sei cantar o perfume
Da rosa que nasce virgem
Mostrando a melhor origem
Crescendo em cima do cume
O faról do vaga-lume
Sem ter pilha nem bujão
De noite mostra o clarão
Jesus lhe dando energia
Não canto sabedoria
Só sei cantar o sertão

Cantando com o grande poeta Diniz Vitorino, na cidade de João Pessoa, mandam esse mote de profundo lirismo - "Os meus sonhos de poeta/ Já foram realizados", Ferreira em dia inspirado improvisa:

De porta veneziana
Eu não tenho moradia
Pra passar meu dia-a-dia
Tenho apenas a choupana
Uma garrafa de cana
E uns cadernos borrados
Dois troféus enferrujados
Na coleção incompleta
Os meus sonhos de poeta
Já foram realizados

A viola companheira
Que me ajuda todo dia
Eu viver de poesia
Adquirir minha feira
Tem quem ache uma besteira
Meus improvisos rimados
Meus versos filosofados
Bem pouca gente interpreta
Os meus sonhos de poeta
Já foram realizados

Nessa mesma cantoria, cantando o gênero sete linhas ou sextilha, os poetas enveredam pelo assunto de profundo saudosismo, o vate potiguar espalha poesia com esses versos:

Eu também lembro a infância
Meu tempo de meninice
A fase da mocidade
O período da meiguice
Mas tudo está se passando
Aos poucos vai mergulhando
No caldeirão da velhice

Aonde fui habitante
O destino me levou
Vi a casa destelhada
A porta o vento quebrou
Só com lixo na biqueira
Ainda vi a caveira
De um boi que a seca matou

Mais à frente pediram o mote - "Eu moro na capital/ Mas gosto mais do sertão", Ferreira improvisa:

Lembro daqueles caminhos
Onde passam caçadores
De sentir cheiro de flores
Pisar em ponta de espinhos
Escutar os passarinhos
Na sua dócil canção
Deixando uma gravação
No disco do vegetal
Eu moro na capital
Mas gosto mais do sertão

Aqui o comércio ilude
O trânsito é agitado
Quero é voltar pra o roçado
Pra tomar banho de açude
Onde o homem tem saúde
Mais força e disposição
Finda morrendo ancião
Sem tomar um melhoral
Eu moro na capital
Mas gosto mais do sertão

Cantando com Ivanildo Vila Nova, em Natal - RN, o tema era "E o que é que me falta fazer mais",  Ferreira  improvisou:

Visitei lá na Grécia certa hora
Li os lindos trabalhos de Pitágoras
Bati papo também com Anaxágoras
E trouxe a chave da caixa de pândora
Passei perto da Deusa que é Aurora
Dei a ela seis raios boreais
Assisti no palácio as vestais
E de um sopro que eu dei um certo dia
Apaguei o farol de Alexandria
E o que é que me falta fazer mais

Escrevi com Camões em Portugal
Inspirei a Cervantes na Espanha
Junto a Goerte fiquei na Alemanha
E nos Açores dei nome a principal
Aos poemas de Antero de Quental
Eu andei com aedos e andrais
Já passei nos castelos dos feudais
E coloquei uma vez um trem no trilho
Fiz Olívia Palito ter um filho
E o que é que me falta fazer mais

Mote - "A vida é uma incerteza/ A morte é certeza pura", o mestre fez esse verso:

Na hora que a morte vem
Tem a sua foice armada
Que não tem medo de nada
E nunca respeitou ninguém
Com a força que ela tem
Elimina a criatura
Bota um cordão na cintura
Caixão preto e vela acesa
A vida é uma incerteza
A morte é certeza pura

Por último transcrevo o que para mim é uma obra - prima do improviso, foi cantando em um festival que Ferreira foi sorteado com o mote: "No coração da criança/ Não pode existir rancor", ao que o mesmo improvisa:

Avistei um pequenino
Subindo de déu em déu
Quando chegou lá no céu
Foi falar com o divino
Gritaram - pesem o menino
Que também é pecador
Jesus disse - não senhor
Pode guardar a balança
No coração da criança
Não pode existir rancor


Fonte: GeraVersos

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