
Eu me banho e me envolvo no que vejo.
A alegria em meu corpo faz um cortejo
Em uma emoção que não tem tamanho.
Eu me embriago em lucidez, eu me assanho...
Viro menino nos encantos seus,
Aumentando os mistérios que são meus,
Transformando-me em ser alucinado:
Pois quando vejo o meu sertão molhado,
Tenho a impressão que me encontrei com Deus.
E é preciso o pingo tocando nela.
A batuta é o corisco na janela,
Orquestrando sob poder da Criação.
Passarinho faz da folha um gibão,
Galopando um cipó na ventania.
Atrás de um pote o encolher-se da gia,
É pra rezar em agradecimento.
Essas coisas só se veem no momento
Que o sertão é transmutado por magia.
Com as suas bicas bem enfileiradas,
Promovendo a festa das molecadas
Que nos ensinam a ignorar limite.
Quem não cai na chuva, não se permite,
Levantar a sua estima no lirismo.
O banho de chuva tira o cinismo
De um panorama mais embrutecido.
A água vinda do céu tem um sentido
Provocando em nós um novo batismo.
Vejo o renascimento do sertão.
A natureza extasiar-me a emoção
Como um broto orvalhado ao sol nascer.
Em todo o canto um brilho eu posso ver,
Transportando-nos ao útero materno:
O sertão, bem envolvido pelo inverno.
Eu, envolvido na magia do destino,
De conduzir em mim um ser menino
Que vive brincando de ser eterno.

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