Obra faz pesquisa imagética do sertão a partir da trajetória do líder cangaceiro desde o nascimento, em Serra Talhada, até a morte, em Alagoas
Vestes de vaqueiro são retratadas como símbolo do sertão nordestino. Foto: Márcio Vasconcelos/divulgação
Sete décadas após a morte de
Virgulino Ferreira da Silva, o fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos refez os
passos do líder do cangaço, percorrendo mais de 4 mil quilômetros, em cinco
estados do Nordeste. A jornada começou na casa onde o personagem histórico
nasceu, em Serra Talhada, Pernambuco, e se encerrou dois meses depois na Grota
de Angicos, em Alagoas, local da morte do Robin Hood do sertão. O ensaio
fotográfico resultante da expedição é agora publicado no livro Na trilha do cangaço - O sertão que Lampião passou (Vento
Leste, 104 páginas, R$ 99,90), junto com texto de apresentação do historiador
Frederico Pernambucano de Mello, uma das autoridades do assunto. A curadoria é
da fotógrafa Inglesa Maureen Bisiliat. O lançamento será nesta quinta-feira
(2), às 19h, na Livraria Cultura do Shopping RioMar (Avenida República do
Líbano, 251, Pina).
“Tinha essa ideia há muito tempo. Como nordestino, tinha a tendência de querer
mostrar a caatinga, as paisagens sertanejas. Alimentei o projeto com a história
do cangaço, sobretudo com a trajetória de Lampião. Ao fazer essa trilha
imaginária, tentei locais e personagens simbólicos. Entrevistei ex-integrantes
das volantes que perseguiam os cangaceiros”, comenta Márcio Vasconcelos. Uma
das inspirações para o trabalho foram as fotografias e vídeos gravados pelo
libanês Benjamin Abrahão, um dos poucos a capturar a imagem do Rei do Cangaço.
O livro venceu o Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia e foi finalista no
Prêmio Fundação Conrado Wessel de Fotografia.
As lentes de Vasconcelos fazem registros os mais diversos, como casinhas
construídas com taipas, ruínas, locais de conflitos entre cangaceiros e
volantes, animais mortos em consequência da seca, homens em vestes de vaqueiro,
fotógrafos lambe-lambe, romeiros. Entre os personagens fotografados, estão o
cangaceiro Manuel Dantas Loiola (Candeeeiro), Dona Minó, filha de Zé Saturnino,
inimigo número um de Lampião, e Elias Matos Alencar, ex-volante.
Manifestações de fé sertaneja são alvo das lentes do autor. Foto: Márcio Vasconcelos/divulgação
Para a curadora Maureen Bisiliat, a obra é uma
feliz conjuntura entre as imagens do fotógrafo - “silenciosas, sensíveis,
estrofes de um poema” - e a saga de Lampião. “O livro cavalga célere, levado
pelas esporas do cangaço e pelo vento forte do sertão”, elogia. Conhecido pela
fotografia documental de manifestações populares, religiosas e folclóricas,
Márcio Vasconcelos aposta em projetos com influência da antropologia. Antes da
investigação sobre o cangaço, ele havia lançado Nagon Abioton – Um registro
fotográfico e histórico sobre a Casa de Nagô.
SERVIÇO
Lançamento de Na trilha do cangaço - O sertão que Lampião passou (Vento
Leste, 104 páginas, R$ 99,90)
Quando: quinta-feira (2), às 19h
Onde: Livraria Cultura do
Shopping RioMar (Avenida República do Líbano, 251, Pina).
Informações: 3256-7500
+Arte cangaceira
“O cangaceiro, a exemplo do
índio, fazia do corpo seu suporte de arte. Uma arte vestida, portada à
tiracolo, pendurada, calçada, entrançada, por vezes. Arte de projeção do homem,
não custa repetir. Pelo orgulho, pela sobranceria, pela vaidade, pelo
desassombro da imagem ostensiva, pela força de formação de uma subcultura à de
derivações nada desprezíveis na música, na poesia, na dança, na culinária, no
artesanato, na medicina, nos costumes, na moral, na religiosidade, na arte
militar intuitiva e mesmo na arte de expressão plástica, a partir da herança
pastoril, o cangaço sumaria, aos olhos do brasileiro de hoje, a franja de todas
as insurgências, sua saga confundindo-se com a própria ideia de resistência
contra poderosos”.
Frederico Pernambucano de Mello,
na apresentação do livro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário