Não fui ás
ruas pelo falecimento de Getúlio, não vesti luto pela morte inesperada de
Tancredo, muito menos acompanhei o cortejo que levava o corpo de Juscelino.
Coube a minha geração acompanhar cada episódio desse pelas páginas dos livros
de história e as privilegiadas memórias dos avós. Agora, cabe a essa mesma
geração, distante cronologicamente de tantos outros fatos, assistir consternada
o aborto de um sonho, o enterro de uma esperança e uma emboscada do
destino.
Eduardo
nunca gostou do óbvio, detestava o comodismo e era genial no modo como ousava.
Não tinha medo da consequência das suas escolhas nem das intuições do seu
coração. Discurso forte, poético até na prosa, esperançoso, gentil e
convincente. A luz das tribunas. A fé dos palanques. A esperança das multidões.
Poucos políticos reúnem espírito público, carisma e senso administrativo.
Eduardo era um mestre nos três quesitos. Se Arraes foi grande porque foi maior
que a sua causa e além do seu estado, Eduardo foi maior ainda porque morreu
sonhando com os melhores dias para a pátria, despencou do maior vôo da sua
história - aquele que não admitia pouso.
O verde dos
seus olhos permanecerá nos Campos da nossa Zona da Mata e nos vales do Agreste
pernambucano, a tônica forte dos seus discursos rondará a sequidão do Pajeú de
Antonio Marinho e ocupará os ecos da Academia Pernambucana de Letras, ocupando
o leito de Maximiano Campos. Pernambuco jamais foi tão calado como ficou hoje,
Recife nunca tinha ficado tão escura como está agora.
Eduardo foi
perseguidor do seu sonho e dono da sua vaidade, de fazer mais e melhor. Não se
escolhe a forma da morte, mas assim como Ulysses Guimarães, pai da nossa
constituição cidadã, Eduardo imitou as aves e os gênios, se juntou a eles e
morreu no ar. Feliz foi Pernambuco por ter tido um gestor sensível, generoso,
visionário e altamente talentoso. Triste é para o Brasil, sepultar a esperança
da proximidade dos dias melhores e dos ideais mais justos.
Se a
política perde um talento, a humanidade sepulta um ser humano, a história trata
de eternizar quem morreu já sendo maior que ela. Nunca tive dúvida que o mundo
pertence aos grandes sonhos e a história aos grandes homens, por isso mesmo
Eduardo foi do mundo e é da história. Na "Piedade" do pranto que
começa com uma "viagem" nada "boa", alcançamos o nordeste e
nos irmanamos com a do Brasil que antes de conhecer o talento do sempre
governador da Nova Roma, perde um guerreiro disposto a todas as trincheiras que
envolvessem melhores dias para a nação.
Difícil é
tratar dos fatos sem dimensionar a amplitude da dor. Impossível é compreender
os desígnios de Deus e improvável é não lamentar a queda em vôo livre de
milhões de sonhos brasileiros, na mais patriota de todas as convicções.
Na foto,
Eduardo e meu pai na despedida de Lula, como presidente em 2010. O marco zero
da cidade do Recife ouvia e aplaudia os discursos e as saudações encomendadas
pelo então governador, na mais autêntica e maior manifestação cultural, a
poesia. Foi nesse dia que eu, ainda "encadeada" com os holofotes
naturais do Recife, ouvia um governador falar de sonhos e chorar com
versos.
Pernambuco
sepulta um filho no ventre da imortalidade, o Brasil aborta uma esperança, uma
geração perde o mais forte nome, e as urnas ficam órfãs do verde olhar da
esperança.
Tuparetama-
Recife, 13 de agosto de 2014
Tárcio
Viu Assim
Pajeú da Gente
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