Caixa com quatro CDs resgata programa da Sapoti dos anso 50
Uma caixa
de discos para levar o ouvinte à gloriosa era de ouro do rádio: Rainha do rádio
(1955/1956) (Discobertas), quatro CDs, que reproduzem edições do programa
Ângela Maria canta, que ia ao ar pela Rádio Nacional. Vencedora do concurso de
Rainha do Rádio, em 1955, a cantora ganhou seu próprio programa, o que comprova
o prestígio que desfrutava. O programa, acontecia com toda a pompa que a época
exigia, com dois locutores, ou speakers, e um narrador, fazendo a apresentação.
A cantora era acompanhada por uma grande orquestra, dirigidia pelo Maestro
Chiquinho. Tudo acontecia, claro, diante de uma plateia, que lotava o auditório
da Nacional, e que gritava e assoviava ensandecida. O jornalista e radialista
pernambucano Nestor de Holanda, por sinal produtor do progama de Ângela,
batizou as fanzocas de “macacas de auditório”, expressão usada até hoje).
A restauração
das fitas destes show levaram a excelente qualidade sonora dos quatro CDs, que
realçam os detalhes do programa, dos “reclames” (jingles), aos instrumentos que
são usados nas batucadas (como ainda se chamava o samba com percussão,
geralmente para o carnaval), audíveis, mesmo com a gritaria das macacas de
auditório. “Estamos a menos de dois meses da folia de Momo. Hoje à noite Momo entrará
triunfalmente na cidade. De amanhã em diante, com o romper do ano novo, podemos
dizer que já estamos em pleno reinado do monarca da alegria, o rei Gordo e
bonachão, que nos contagia com seus folguedos e seus ritmos alucinantes. Como
deseja um feliz 1956 para todos, Ângela Maria lhes oferece mais uma de suas
criações carnavalescas”, diz empolado e solene Hamilton Fazão, o locutor, e
entra a cantora: “De Mirabeau e Milton de Oliveira, Fala Mangueira”.
Assim como
também acontecia no Recife, onde se realizava o outro grande carnaval do país,
a virada do ano aceitava também marchinhas e sambas carnavalescos, além das
tradicionais canções natalinas. A jovem cantora (então com 25 anos), mostra-se
impecável ao vivo, num repertório eclético, embora caprichado no samba-canção.
Em 1955, ela manteve-se várias semanas nas paradas com Recusa, de Herivelto
Martins, o compositor. Jamais se cantava uma música sem citar o nome do autor.
“Com seus lindos olhos, muito bem tratados e protegidos com o colírio Moura
Brasil, com sus pestans recurvadas com Cilion, aqui está, senhores ouvintes, o
olhar terno de uma das cantoras mais populares do rádio brasileiro”. Ângela
Maria, antes de cantar o samba Rio e amor (Bruno Marnet). Muitas das canções
que Ângela interpreta nem tinham ainda sido gravado, como é caso de Terra
seca, de Ary Barroso, que ela lançaria num compacto em 1956, é antecipado em
1955.
A
caixa acrescenta raridades à discografia da Sapoti, reunindo, por exemplo,
canções natalinas gravadas pela cantora, mas dispersas por 78 rotações, como é
o caso da marchinha Presente de Natal (Oscar Bellandi/Luis de França/Bené
Alexandre), ou Papai Noel esqueceu (David Nasser/Herivelto Martins). que ele
gravou em dueto com o cantor João Dias (que participa do programa nesta faixa) Beste
programa, que foi ao ar em 24 de dezembro de 1955. Os quatro CDs contèm o
registro de programas que foram ao ar de 11 de junho de 1955 até 3 de novembro
de 1956. O programa de 20 de outubro de 1956 é especial. Comemora-se os 20 anos
de fundação da Rádio Nacional. Sem esquecer de lembrar do Moura Brasil, que lhe
trata os olhos, e de Cilion, que lhe curva as pestanas, ela canta Maria do
cais, de Luis Antônio, que só gravaria em 1958. Enqaunto o locutor conta a
história da “maior emissora de rádio da América Latina”, Ângela Maria volta ao
início da Nacional, com Lábios que beijei (de J.Cascata e Leonel Azevedo,
lançada por Orlando Silva em 1937), faixa de Sucessos de ontem na voz de hoje,
seu álbum de estreia na Copacabana, um dos melhores de sua extensa
discografia”.
José Teles
JConline
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