Edu Lobo segue celebrando seus 70 anos com lançamentos, entre eles "São bonitas as canções", sua biografia
Aos 70 anos, Edu Lobo tem Vinicius de Moraes no princípio e no horizonte. Afinal, sua primeira parceria com o poeta, "Só me fez bem", foi feita quando o compositor tinha apenas 19 anos, na noite em que se conheceram, enquanto que a última, "Silêncio", foi finalizada este ano, e é presença garantida em seu próximo disco.
Num momento de retrospectiva inspirada pela data redonda - quando se prepara para lançar a biografia "São bonitas as canções", de Eric Nepomuceno (Edições de Janeiro), o CD/DVD "Edu Lobo 70 anos" (Biscoito Fino/Canal Brasil/Samba Filmes) e o "Songbook Edu Lobo" (Edições de Janeiro, previsto para outubro), além de participar de uma mesa na Flip (no dia 1º, ao lado de Cacá Diegues) e de um bate-papo com a jornalista Regina Zappa no POP ("O som e a estrada de Edu Lobo", no dia 7) -, a ideia do movimento cíclico da vida se afirma não só na presença de Vinicius. Um dos planos de Edu Lobo é uma visita, com as roupas de 2014, ao Recife de suas memórias de infância.
"Já falei com Spok (da Spok Frevo Orquestra) que temos que fazer algo juntos, bolar um show meu com a banda dele, só de frevos", diz o compositor, autor de frevos como "Cordão da saideira" e "Frevo diabo". "Teríamos que pensar no formato. Mas já cantamos juntos uma vez, em Recife, aquela 'Oh, saudade/ Saudade tão grande que eu sinto' (cantarola "Frevo nº 1 do Recife"), e foi incrível. A ideia do show nasceu ali e continua, mas até acontecer tem que virar projeto, ver patrocínio, essas coisas".
Edu vê o futuro assim. Há planos, mas não pressa. Para seu próximo disco, tem três canções. Uma é "Silêncio", feita a partir de poema inédito de Vinicius, de 26 de março de 1958, que Luciana de Moraes, filha do poeta, entregou ao compositor. Outra é uma parceria com Paulo César Pinheiro. Os prazos são soltos. De um lado, porque Edu lembra que produz bem por encomenda ("Quando perguntaram ao Cole Porter o que o inspirava, ele respondeu: 'O telefonema do produtor'", repete sempre o autor de "Arrastão", dizendo que também é assim). De outro, porque não acredita haver muito espaço para uma música como a sua hoje.
"Não é um tipo de música que toca no rádio. E não vejo sentido pagar para uma música tocar, como é feito hoje. O público tem direito de ouvir o que quer. Fazer isso me dá uma liberdade absoluta com relação ao que é comercial", diz o compositor, que lembra da definição do trompista Gunther Schüller para a trilha que Leonard Bernstein compôs para "West Side story". "É a 'terceira corrente', não é música popular, mas também não é clássica, fica entre as duas. Estou aí, nesse lugar", define.
O livro "São bonitas as canções" conta a trajetória musical do artista. As vitórias nos festivais (com "Arrastão" em 1965, depois com "Ponteio" em 1967), a fama e o pavor dela, que o levaram a sair do Brasil para estudar música em Los Angeles (onde viveu entre 1969 e 1971), a obra produzida com parceiros como Capinan, Torquato Neto e Chico Buarque (o mais constante, com 40 músicas para projetos encomendados, e duas "sem patrão", como os parceiros dizem, "Moto contínuo" e "Nego maluco"). Na narrativa, saborosas curiosidades sobre canções como "Beatriz" e "Pra dizer adeus".
Ao vivo
O CD/DVD é outra forma de acompanhar a história de Edu. Gravado no Municipal, em 29 de agosto de 2013, quando completou 70 anos, o show (com participações de Bethânia, Bena Lobo e Chico Buarque) passeia por clássicos como "Upa neguinho", "Cordão da saideira" e "A história de Lily Braun", além da suíte "Pé de vento", que compôs para a Osesp, mostrando o alcance de sua música de "terceira corrente".
Diário do Nordeste
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