No site arnaldobaptista.com.br, dá gosto de ver a quantidade de informações e possibilidades. No texto, o cantor e compositor Arnaldo Baptista e sua equipe convidam o público a celebrar os 40 anos de "Loki?", disco fundamental não apenas para sua carreira, mas para a discografia nacional. Visceral, emblemático, icônico e transcendental são alguns dos adjetivos frequentemente utilizados para descrever a obra - sem exagero em nenhum deles.
Lançado em 1974, o álbum foi a estreia solo de Arnaldo, após sua saída do também antológico grupo Mutantes. Formada em 1966 por ele, o irmão Sergio Dias e a cantora Rita Lee (e, mais tarde, pelos músicos Liminha e Dinho Leme), a banda tornou-se referência basilar do rock nacional, com produção marcada pelo psicodelismo.
Casados durante breve período da trajetória dos Mutantes, Arnaldo e Rita separaram-se em 1972, quando a vocalista deixou o grupo - segundo rumores, pelo desgaste na relação com o ex-marido. O fato agravou ainda mais o comportamento depressivo e patológico de Arnaldo (para o qual também contribuía o uso contínuo de drogas - em especial, o LSD).
Desafio
"Loki?" surge no meio desse mar de dor de cotovelo, solidão e desnorteio profissional, sendo frequentemente apontado por críticos e pelo próprio Arnaldo como uma tradução de sua dor, despida em intenso lirismo. Em entrevistas, o autor também chegou a descrever o disco como uma maneira de provar a si mesmo que era capaz de ser independente dos Mutantes (apesar da parceria com os ex-companheiros da banda Liminha e Dinho Leme nas gravações).
Composto inteiro em isolamento, na serra da Cantareira (onde chegou a morar com os Mutantes), "Loki?" não conta com nenhuma guitarra e, ainda assim, ganhou status de uma das obras mais importantes do rock nacional. As faixas trazem uma mistura então inédita de samba, música clássica, boogie-woogie, bossa nova e MPB, entre outros gêneros.
A proposta foi abraçada pelo músico e à época produtor da gravadora Philips (hoje Universal Music) Roberto Menescal, que convenceu executivos da empresa a lançarem o disco. O resultado, porém, não convenceu a gravadora, que se negou a realizar ações de promoção do material.
O reconhecimento do álbum veio ao longo dos anos. Hoje, quatro décadas após estrear nas prateleiras, "Lóki?" permanece como um trabalho atual e absolutamente inovador, poético e rico em sonoridades pouco comuns.
No site do artista, um depoimento do colega Tom Zé dá a dimensão do impacto de ouvir o trabalho pela primeira vez: "De 74? Como é que eu não tinha ouvido isso? Que seria de minha vida, se. É só piano, bateria e voz? Parecia uma dúzia de assassinos. Música! Nunca mais. Nunca mais faço uma. Ainda bem que esse disco me pariu de novo". À declaração, seguem-se os projetos de Arnaldo e sua equipe, dedicados a antigas e novas gerações (segundo o site, 87% dos seguidores em sua página no Facebook têm entre 17 e 34 anos, dado que traduz a relevância renovada do artista).
Recentemente, não apenas "Loki", mas toda a obra solo do cantor foi remasterizada pela Classic Master, e disponibilizada em formato digital. "Um trabalho de fôlego e independente do time e de voluntários em torno de Arnaldo, não só nos últimos quatro anos", explica o texto no site.
O material, produzido entre de 1973 a 2004, também ganhou um aplicativo exclusivo no Brasil pela Deezer, com comentários dos artistas Tom Zé, Arnaldo Antunes, Lulina, Fernanda Takai, Lobão e Fernando Catatau (deezer.Com/app/arnaldobaptista).
Paralelamente, o ex-Mutante dá continuidade a projetos como o Concerto "Sarau o Benedito?",em que toca e canta ao piano de cauda, seguindo a série iniciada em outubro de 2011 no Sesc Belenzinho (SP). O sucesso de sua reestreia solo nos palcos após hiato de 30 anos levou o artista a uma histórica apresentação no Theatro Municipal de São Paulo, abrindo para a Virada Cultural 2012.
FIQUE POR DENTRO
Dor traduzida em inventividade musical
São de "Loki?" sucessos de Arnaldo como "Será que eu vou virar bolor", "Cê tá pensando que eu sou Loki?" e "Vou me afundar na lingerie". Ao todo, são nove faixas emblemáticas da música brasileira - segundo relatos, boa parte fermentada pela mistura de mágoa e dor causadas pela separação entre o Arnaldo e Rita Lee (que, por sua vez, contribuiu enormemente para a dissolução do grupo). Em entrevista recente, o compositor concordou com a colocação de que o disco não foi compreendido na época de seu lançamento. "Não houve promoção de vendas, foi um pouco difícil e frustrante", desabafou.
Adriana Martins
Repórter
Diário do Nordeste
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