 | |
Professor e regente Sérgio Barza é o responsável pelas aulas sobre os ingleses. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press |
O tempo passa, mas a atração pelos Beatles não se esgota. Criada em 1960 e dissolvida dez anos depois, a banda consegue despertar o interesse e ganhar o coração de músicos de origens e estilos tão díspares quanto Ghost, Roupa Nova, Mutantes, Black Sabbath, Renato e Seus Blue Caps, Miley Cyrus, Reginaldo Rossi e Nick Cave. Desde o início deste semestre, o Conservatório Pernambucano de Música (CPM) tem oferecido aos alunos uma disciplina que analisa a obra construída por George Harrison, Paul McCartney, Ringo Starr e John Lennon.
O curso é ministrado pelo professor e regente Sérgio Barza e focado na música da banda inglesa: na observação de como a linguagem composicional dos Beatles evoluiu e na comparação de técnicas usadas por eles e compositores eruditos. As referências culturais, literárias e históricas funcionam apenas como apoio aos aspectos musicais.
As aulas são semanais e reúnem de adolescentes a alunos com mais de 30 anos. “O impacto cultural dos Beatles é imenso. Você encontra fãs desde os que acompanharam o grupo nos anos 1960 até crianças que não tinham nascido quando George Harrison morreu, em 2001”, reforça Barza, que dá aulas no CPM desde 1994.
Para ele, os quatro beatles eram músicos e compositores excelentes. “Eles eram uma usina de produção musical. Mudaram a estética da canção popular e produziram um catálogo duradouro, cujos registros sonoros continuam atuais”, destaca. Barza cita trabalhos de outros artistas merecedores de estudos. É o caso de Kind of blue, do mestre do jazz Miles Davis, Fragile, da banda inglesa de rock progressivo Yes,The dark side of the moon, do também inglês progressivo Pink Floyd, Pet sounds, do grupo de surf music norte-americano Beach Boys e o quarto disco do Led Zeppelin, britânicos, e um dos criadores do hard rock/heavy metal.
Na visão do professor, entretanto, não há nenhum artista ou banda que se equipare à quantidade de informações melódicas, harmônicas, estéticas, performáticas e de arranjos produzidas por John, Paul, Ringo e George. Daí a escolha dos Beatles como tema específico de uma disciplina. Toda essa riqueza, expressa como música popular, é o que faz o quarteto de Liverpool ser citados e respeitado no mundo inteiro, inclusive por gente imersa no ambiente erudito e do jazz.
Mistura - Rock e frevo No semestre passado, o Conservatório ofereceu a disciplina História do Rock e também trabalha atualmente com Estética do Frevo. “São disciplinas que reforçam os assuntos estudados em outras (como Teoria Musical, Harmonia e Arranjo), a partir de temas que os alunos apreciam e querem aprofundar”, explica Barza. Ele está à frente de grupos do CPM, a exemplo da Orquestra do Conservatório Pernambucano de Música e da Orquestra de Rock. Também já regeu, como convidado, a Orquestra Sinfônica do Recife e a Orquestra Criança Cidadã.
O que os hits têm
Eleanor Rigby - Álbum Revolver (1966)
“Tenho um apreço por ela, especialmente pela escolha da orquestra de cordas para o arranjo. Além, é lógico, dos vocais de McCartney (solo), Lennon e Harrison (backing). A música ainda se destaca pelo arranjo que busca, numa escrita barroca, refletir a angústia e a solidão descritas na letra a partir de ideias como a linha melódica descendente das violas (no trecho “all the lonely people”) e da repetição insistente que evoca a trilha de Psicose (de Alfred Hitchcock, escrita por Bernard Hermann) na terceira parte, que arremata com o contraponto das vozes”.
Here comes the sun - Álbum Abbey Road (1969)
Sérgio Barza lembra que, durante os anos 1960, George Harrison foi bastante influenciado por religiões e músicas da Índia, como se pode ouvir em algumas faixas do Revolver e do Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. A canção Here comes the sun seria uma evolução dessa influência, na qual se pode observar o uso de técnicas harmônicas do Romantismo, alternadas com elementos rítmicos presentes na música clássica indiana.
Something - Álbum Abbey Road (1969)
Também composta por Harrison, a canção é considerada por Barza como uma das maiores canções de amor de todos os tempos. Nela, encontra-se técnica bastante usada no Romantismo do século 19. “Fora isso, temos uma das maiores performances de McCartney como baixista e a banda numa interpretação inesquecível”.
Depoimentos:
 | |
Ingrid (esquerda) e Juliana (direita) são admiradoras da obra do quarteto de Liverpool. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press |
A nova geração
"Sou a maior beatlemaníaca do Conservatório! Escolhi a guitarra por causa de George Harrison. Aprendo muito durante as análises das músicas, que é algo que não domino muito”. (Ingrid Barros, 19 anos, guitarrista)
"É uma música orgânica, artesanal, feita com muito cuidado. Meu álbum favorito é o Revolver, apesar de o Álbum Branco (The Beatles, de 1968) ser esplendoroso, uma obra-prima”. (Juliana Cantarelli, 23 anos, violinista)
Agenda do dia
Beatles in Blues
É o nome do projeto desenvolvido pela Uptown Blues Band, liderada pelo baterista e produtor cultural Giovanni Papaleo. No show desta sexta-feira (4), no St. Paul Bar (Rua Conselheiro Nabuco, 21, Parnamirim), a banda recifense apresenta clássicos do Beatles, como We can work it out, Oh darling,Come together, Ticket to ride, Back in the USSR,Helter skelter e I wanna hold your hand em versões baseadas no blues, jazz e na soul music. Os ingressos custam R$ 20 (mulher) e R$ 30 (homem). Informações: 3204-8508 e 3423-2620.
Nenhum comentário:
Postar um comentário