Os Vips, em 1966: Ronaldo e Márcio Antonucci
Márcio Antonucci, que formou com o irmão Ronaldo, a
dupla da Jovem Guarda, Os Vips, faleceu, hoje, em consequência de uma pneumonia
no Rio. Estava com 69 anos. Ele foi também produtor da Som Livre, e de musicais
da Rede Globo e TV Record.
O anúncio da morte foi feito em São Paulo pela sua
ex-mulher, Lilian Knapp, (da dupla Leno & Lilian. na Jovem Guarda), e na
página do cantor, assinado por seu filho, Bruno Antonucci.
Espelhado nos Everly Brothers (que,
coincidentemente, perdeu um integrante, Phil Everly, há duas semanas)
Os Vips foi responsável por hits como A volta (anos depois regravado pelo autor, Roberto Carlos), É preciso saber viver, Longe tão Perto,Emoção, Largo tudo e venho te buscar.
Foi de longe a dupla mais bem sucedida a era do
iê-iê-iê. E a que mais contou com composições de Roberto e Erasmo Carlos,
responsáveis pelos cinco maiores sucesso da dupla.
Márcio Antonucci entrou para a história da música
pernambucana como produtor do único álbum do Ave Sangria, em 1974. Abaixo
trechos de uma entrevista inédita com Antonucci, feita para o livro Do frevo ao manguebeat. (do titular
deste blog). Acabou não sendo enviada a tempo para a editora, e continuava
inédita.
ENTREVISTA
P – Antes
do Ave Sangria você já havia produzido quais artistas?
Márcio Antonucci – Eu produzi tantos artistas e fiz tantos
projetos que não me recordo de quem, ou quais produzi, antes do Ave. De
qualquer forma, só nos anos 60, eu produzi Marcos Roberto, Sérgio Reis, Dori
Edson, Os Jordans, Demetrius, todos da Jovem Guarda.No 70, produzi
Novos Baianos (o Novos Baianos F.C), Luiz Melodia (Juventude Transviada), Os
Motokas (12 volumes), Os Famks (hoje Roupa Nova), Samba, suor e ouriço,
abertura de novelas, Osmar Milito, Carlos Lyra, Painel de Controle, e muitos
outros, eu era bem eclético.
P – E
nos Vips, quem produzia vocês?
Márcio Antonucci – No início da carreira, na Continental, era eu
e o Roberto Carlos. Depois nós fomos pra CBS, e foi o Jairo Pires. Na já na BMG
foi o Osmar Navarro e depois, na volta à Continental, fui eu novamente.
P – Os
integrantes do Ave Sangria dizem que você ficou meio surpreso com aquele bando
de nordestinos, e que eles até trouxeram peixeiras pro estúdio (as peixeiras,
contado por Paulo Rafael).
Márcio Antonucci – Tudo história, pra tirar onda, apenas. Eu não
tinha porque ficar surpreso com nada, porque já tinha mais de 15 anos de
carreira e conhecia todas as vertentes da MPB. Mas eles foram uma agradável
surpresa, pela personalidade. Sabiam o que queriam, e tenho certeza que uma
delas era não gravar tão rápido e naquelas condições.
P – Como
foi o processo de produção do disco. É verdade que você não queria gravar
algumas músicas que os caras trouxeram (uma dessas, segundo Almir de Oliveira,
o baixista, de cabelo blackpower, chama-se Fora da Paisagem).
Márcio Antonucci – Sabe como é, a gente sempre quer colocar um
pouco da nossa experiência no processo. Apesar de um disco totalmente autoral,
tentei ajuda-los com minhas dicas. Nas aquela música era muito ruim. Não sei se
ouvindo hoje eu vou gostar.
P – O
grupo tocou com quais instrumentos, já que não possuíam boa aparelhagem?
Márcio Antonucci – Não me lembro. Não sei se tocaram com os
deles, ou se aluguel.
P - Como
foi o relacionamento de vocês durante as sessões de gravação?
Márcio Antonucci – De minha parte, o melhor possível. Lembro
muito bem das brincadeiras e gozações que a gente fazia, mas na hora do “vamu
vê” o pau comia
P – Alguma
coisa em especial lhe chamou atenção no grupo?
Márcio Antonucci – Sem dúvida, o Ivinho e o Marco. Eles eram
diferenciados
P – Você lembra se houve alguma sugestão da gravadora
para amaciar o som da banda? Ao vivo eles eram mais pesados, enquanto no disco
soam bem mais acústicos.
Márcio Antonucci – Não, não houve nada disso. O eu houve é
que o estúdio em que a gente gravou era muito ruim para rock and roll e ai o
som ficou meio amaciado.
P – Em
quantos dias vocês gravaram o disco? Alguma música gravada acabou sobrando?
Márcio Antonucci – Penso que em uma semana, mais ou menos. Eles
vieram por conta da gravadora, e cada dia no Rio contava gana. Uma pena, porque
não deu pra mexer muito no que já veio ensaiado.
P – Não
sei se você lembra, mas o álbum, pouco tempo depois de lançado foi proibido
pela censura federal por causa da faixa Seu Valdir, que contava uma paixão de
um rapaz por um senhor mais velho? Você se lembra do episódio, ou dessa música?
Márcio Antonucci – Lembro, e disse pro pessoal, no estúdio, que a
música era boa, mas difícil de ser aceita. Aconteceu. Depois o Ney Matogrosso
regravou e fez um sucesso relativo com ela.
P – E depois? Você continuou produzindo outros
artistas?
Márcio Antonucci – Como já disse, até hoje faço meus trabalhos de
produção. No ano passado, produzi CDs do Louro José, Ana Maria Braga, que teve
como convidados Zezé & Luciano, Fábio Jr, Leonardo e Xande. Mas penso que o
meu maior sucesso foi Os 30 anos da Jovem Guarda, os cinco CDs gravados em
1995, que até hoje venderam mais de três milhões. Eu disse três milhões de
cópias, e ninguém fala nada sobre isso. Coisas do Brasil.
No final da entrevista, Márcio lamentou a morte de
Israel Semente, e os problemas de saúde de Ivinho, e encerrou “ Gostaria de
reencontrar o Marco, o Paulo e o Almir pra gente bater um papo. Ao ave
Sangria, minha saudade e meu reconhecimento pela luta underground. Neste país,
não é fácil.
Confiram os Vips em Emoção (Roberto e Erasmo Carlos):
JConline
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