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foto /Blog Vitinho Gouveia |
Quando juntos lançaram o Baião, em 1946, Luiz
Gonzaga e Humberto Teixeira promoveram uma verdadeira revolução na história da
música popular brasileira, até então dividida entre o samba-canção e outros
ritmos importados. E por um período de quase dez anos o Baião foi a dança da
moda, sendo responsável por 80% das execuções nas maiores Rádios do Brasil,
além de garantir a Luiz Gonzaga a coroa de Rei do Baião.
Não só o Baião, mas também os outros ritmos que lhe seguiram, tais como o
forró, o xote, o xamego e o xaxado, tiveram a mesma aceitação quando lançados
por Luiz Gonzaga naquele período fecundo de sua carreira.
Ainda que cientes do indiscutível talento e da invejável musicalidade de seu
grande criador Luiz Gonzaga, não podemos deixar de mencionar a participação de
grandes parceiros musicais, a exemplo de Humberto Teixeira, Zé Dantas, Hervê
Cordovil, Rosil Cavalcanti e Luiz Guimarães, dentre outros, que também deram
valiosa contribuição para o engrandecimento da música nordestina em diferentes
fases do Baião.
Um outro nome da galeria de importantes parceiros do velho LUA é o paraibano
José Marcolino, o “Poeta” como era carinhosamente chamado por seus amigos.
É lamentável que a morte o tenha impedido de prosseguir na sua carreira de
poeta e cantador de uma forma tão brutal. Mas, lamentável também é o fato de
que quase nenhum órgão da imprensa tenha dado o destaque merecido ao
acontecimento, mesmo tratando-se de um poeta da extirpe de José Marcolino,
autor de NUMA SALA DE REBOCO, PÁSSARO CARÃO, CACIMBA NOVA, SERROTE AGUDO entre
outras canções genuinamente sertanejas
José Marcolino Alves, mais conhecido por Zé Marcolino, era um autêntico
sertanejo, tendo nascido na pequena cidade de Sumé, na Paraíba, a 28 de junho
de 1930. Depois que saiu de sua terra, morou por alguns anos em Petrolina, para
finalmente fixar residência em Serra Talhada(PE), onde viveria até seus últimos
dias.
Em maio de 1961, Luiz Gonzaga excursionava pelo Nordeste e, de passagem por
Sumé, foi procurado pelo poeta Zé Marcolino, àquela época já grande fã e
admirador do rei do baião. Na ocasião, Zé Marcolino mostrou-lhe algumas de suas
composições, que deixaram Luiz Gonzaga entusiasmado ao ver em sua poesia a
mesma linha melódica de Humberto Teixeira e de Zé Dantas
“......Quando terminou de apresentar todo o seu potencial artístico, Gonzaga
riu satisfeito e interrogou com voz brejeira:
- E quantas músicas você vai me dar?
- Quatro, por enquanto.
- Pois agora escute: gostei de você, de suas músicas e de sua voz. Prepare os
trens porque daqui a dois meses virei aqui para levá-lo para o Rio de Janeiro.
Você é um grande artista e a música nordestina não pode lhe perder.
Como palavra de Rei não volta atrás, dois meses mais tarde, já o caboclo Zé
Marcolino cruzava os caminhos nordestinos rumo ao Sul....”.
Em janeiro de 1962, Luiz Gonzaga lançou o seu novo LP, intitulado Ô VEIO MACHO,
e junto com ele, o nome do poeta e compositor Zé Marcolino, parceiro em seis
das doze músicas contidas neste disco: SERTÃO DE AÇO (xote), PÁSSARO CARÃO
(baião), A DANÇA DO NICODEMOS (xote), NO PIANCÓ (xote), MATUTO APERREADO
(baião), e SERROTE AGUDO (toada-baião).
No ano seguinte, em seu LP A FESTA DO MILHO, Luiz Gonzaga gravou mais duas
músicas de autoria do poeta de Sumé: os baiões PEDIDO A SÃO JOÃO e CABOCLO
NORDESTINO
No ano de
1964, quando gravou o LP A TRISTE PARTIDA, mais quatro músicas de Zé Marcolino
foram interpretadas pelo Rei do Baião: CACIMBA NOVA (toada-baião), MARIMBONDO
(forró), CANTIGA DE VEM-VEM (baião) e uma de suas mais famosas composições em
parceria com Luiz Gonzaga, o xote NUMA SALA DE REBOCO.
Um ano depois, Luiz Gonzaga lançou FOGO SEM FUZIL e QUERO CHÁ, duas polquinhas
feitas em parceria com Zé Marcolino e que obtiveram grande aceitação.
Em 1978, uma nova versão da conhecida toada-baião SERROTE AGUDO foi gravada por
Luiz Gonzaga. Em 1981 o mesmo ocorreu com CACIMBA NOVA, numa gravação que conta
com a participação do próprio Zé Marcolino. Suas últimas parcerias com Luiz
Gonzaga ocorreram em PROJETO ASA BRANCA (1983), BOCA DE CAIEIRA e EU E MEU
FOLE, todas gravadas em 1986.
Além de Luiz Gonzaga, o seu intérprete mais assíduo, Zé Marcolino teve
composições suas gravadas também por Dominguinhos, Quinteto Violado e Trio
Nordestino, dentre outros.
Com produção do Quinteto Violado, Zé Marcolino chegou a gravar o disco NUMA
SALA DE REBOCO, sem contudo ter obtido a atenção e a divulgação merecidas.
Poeta nordestino de indiscutível valor e de grande autenticidade, Zé Marcolino
foi também violeiro e repentista. A sua poesia, que sempre teve o sertão como
fonte maior de inspiração, retrata com muita riqueza o universo sertanejo, sua
gente e seus hábitos. Suas músicas brejeiras, com temas telúricos e pregações
naturalistas, têm o cheiro da terra molhada, da flor da catingueira e do
mandacaru. Sua música é o próprio sertão, ora seco e triste, ora verde e
alegre. Ouvindo os baiões e as toadas em composições suas ou em parceria com
Luiz Gonzaga, somos transportados à nossa terra de origem, ao nosso saudoso e
distante pé de serra.
Zé Marcolino foi um poeta que, dono de uma poesia rica e espontânea, soube como
poucos, representar o sertão na sua forma mais pura e primitiva. Com o seu
desaparecimento num acidente de carro no interior de Pernambuco em setembro de
1987, perdeu Luiz Gonzaga mais um de seus grandes parceiros, e a música
nordestina, já tão desfalcada, ficou ainda mais pobre.
Sem Zé Marcolino, ficou mais triste a CANTIGA DE VEM-VEM. O PÁSSARO CARÃO,
inconformado, já não canta nem faz adivinhação. E até o CABOCLO NORDESTINO,
forte e introvertido, esqueceu o seu jeito rude de ser, para também chorar com
saudades do “POETA”.
Marcos Barreto
blog Cariricaturas.
Um dos grandes compositores injustiçados. Zé era maior do que muitos imaginavam. Sou grande fã desse grande artista.
ResponderExcluirElias Souto - Fortaleza - CE
Artista maravilhoso!Pena que a industria cultural desse mundo doido jogue pra escanteio tanta gente excepcional! Saudade grande Zé Marcolino
ResponderExcluirSinto no ar o cheiro da injustiça para com o POETA Zé Marcolino. Muitos biógrafos do Velho Lua, praticamente ignoram este que foi sem dúvidas um dos mais autênticos parceiro do rei do baião. Pedro Monteiro
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