Músico
morreu no Recife, aos 75 anos, no Imip, onde estava internado para tratar um
câncer de próstata
Carlos foi o criador do projeto Asas da América, que popularizou o frevo na voz de ícones da MPB, como Geraldo Azevedo, Gil, Caetano e Chico Buarque
Morreu neste domingo (1º/set), às 16h45, no
Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) o cantor e
compositor caruaruense Carlos Fernando, aos 75 anos. O músico, internado na
unidade hospitalar desde a última sexta-feira, sofria de câncer de próstata e
estava com infecção pulmonar. O velório acontece na capela do Cemitério de
Santo Amaro e o sepultamento está marcado para o meio-dia da segunda-feira (2).
Carlos Fernando se encontrava internado no setor de tratamentos
paliativos da oncologia do Imip. Desde 2010, o compositor convivia com o
câncer. Durante este período, o artista contou com a ajuda da família e dos
amigos para o tratamento. “Esse é um momento de muita dor para a família. Mas a
gente quer lembrar dele com a alegria e felicidade que tinha, porque ele era
uma pessoa feliz”, disse a filha do músico, Joana Bizzotto Silva.
Após a notícia do falecimento de Carlos Fernando, a família e os
amigos se reuniram no hospital, onde o corpo foi velado durante a madrugada. Um
dos amigos mais presentes nesses últimos dias de Carlos foi o engenheiro Décio
Valença, irmão de Alceu Valença, que conhecia o compositor há muito tempo.
“Carlos Fernando era um grande homem. Um amigo que reunia amigos. Uma pessoa
maravilhosa”, disse Décio.
FREVO - Em sua
carreira como compositor e produtor, o caruaruense Carlos Fernando fez o frevo
ganhar asas, ampliando os horizontes do gênero que até os anos e 1970 vivia
refém do carnaval. Ele misturou o frevo à MPB, modernizando o centenário ritmo
pernambucano e incorporando-o ao repertório nacional por meio de sucessos como Banho
de cheiro – gravado por Elba Ramalho em 1983 e por muito tempo
executado nos quatro cantos do País durante os doze meses do ano.
Como
produtor, o maior êxito de Carlos Fernando foi a série Asas da América, um
projeto inovador que colocou os maiores nomes da música brasileira para
cantarem frevo. O primeiro LP da série, lançado em 1979, trazia Caetano Veloso,
Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Chico Buarque, Jackson do
Pandeiro, além de dois nomes do udigrudi pernambucano dos anos 70, Marco Polo e
Flaviola.
Além de ter oxigenado o gênero, o Asas da América foi o primeiro
disco brasileiro que reuniu uma seleção de intérpretes contratados de
gravadoras concorrentes. A maioria das faixas levava a assinatura de Carlos
Fernando, idealizador do projeto. A série chegou a sete volumes, incluindo um
dirigido ao público infantil, lançados ao longo das décadas de 1980 e 1990.
Eles foram relançados em CD três décadas depois, no ano de 2009,
remasterizados, numa caixa comemorativa.
Mas Carlos Fernando não compôs apenas frevos. Ele também assinou
músicas para novelas (Saramandaia e Sinhazinha Flor, da TV Globo), filme
(Pátria Amada, da diretora Tizuka Yamazaki) e série de TV (O Sítio do Pica-Pau
Amarelo). Sua primeira composição foi Aquela Rosa, em parceria com
Geraldo Azevedo, que também estreava como compositor. Gravada em 1967 por Teca
Calazans, num compacto da gravadora Rozemblit, pelo selo Mocambo, a canção
conquistou o primeiro lugar no Festival de Música Popular do Nordeste, promovido
pela Revista Manchete e pela TV Jornal do Commercio.
Esse ponta-pé inicial no universo musical se deu meio por acaso.
Carlos Fernando começou no meio artístico aos 18 anos, fazendo teatro com Luiz
Mendonça, fundador do Movimento de Cultura Popular no Recife. Na época, ele
ainda tinha o objetivo de fazer o curso superior arquitetura. Até que escreveu
uma peça de teatro chamada A chegada de Lampião no inferno,
baseada no cordel de José Pacheco. Ele mostrou o texto para Geraldo Azevedo,
que achou parecido com letra de música e lhe propôs a parceria que
posteriormente resultaria em Aquela rosa.
Em 1974, já no Rio de Janeiro, onde foi viver, Carlos Fernando
foi assistente de produção do célebre disco gravado em dupla por Alceu Valença
e Geraldo Azevedo, lançado pela gravadora Copacabana. Foi no Rio de Janeiro que
ele ampliou sua bagagem de compositor, tendo suas músicas gravadas por grandes
nomes da MPB como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jackson do Pandeiro, MPB-4,
Fagner, Chico Buarque, Zé Ramalho, entre outros.
Em 2007, Carlos Fernando produziu e dirigiu o CD duplo 100
anos de frevo - É de perder o sapato, lançado no contexto das
comemoração ao centenário do ritmo. No Carnaval de 2009, ele foi um dos
homenageados do Carnaval pela Prefeitura do Recife. No mesmo ano, foi relançada
a série de cinco CDs Recife Frevoé, produzida por Carlos Fernando a partir do concurso
de músicas carnavalescas instituído pela prefeitura a partir de 1996, com apoio
da TV Jornal. Neles, Carlos Fernando aplicou a consagrada fórmula utilizada no
projeto Asas da América, mesclando composições inéditas, que concorreram no
certame, com clássicos do frevo.
João Marcelo Melo e Mateus Araújo
Jornal do Commercio
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