![]() |
Foto: Diego Bresani/Divulgação |
Estão lá as influências dos irmãos, Eliene, que gostava de Jorge Benjor, e Dadá, que não perdia a oportunidade de tocar Zé Ramalho. Do pai, ela herdou o batuque e, dela mesma, veio a admiração pela interpretação marcante de Elis Regina, além da marcação afro na maneira de cantar. Tudo isso deu o tom ao disco, com produção caprichada, bem à altura das grandes divas da MPB. Tem mais influências nesse caldeirão de sonoridades. Ellen vem de um lugar que considera peculiar.
“A bandeira do Distrito Federal tem setas apontando para várias direções. Não venho de uma cidade, de um estado. É como se morássemos num não lugar. Por outro lado, somos formados por povos de várias partes do país e até do mundo, no caso das pessoas que vieram para as embaixadas. Temos uma integração nacional e internacional grande e, por outro lado, não temos um sotaque, uma tradição, um prato típico.” Segundo ela, sua música dialoga com esse cenário múltiplo e instigante.
O CD atual é retrato da diversidade de onde veio. Começa com a regravação de Anunciação, de Alceu Valença; segue por Não lugar, composição dela que propõe uma síntese da sensação de não pertencimento a local algum; e continua com parcerias, como Maria Maria e Aqui é o país do futebol, ambas de Milton Nascimento e Fernando Brant, interpretadas com participação especial de Carlinhos Brown. Ainda no segmento de releituras, ela se apropria de Nuvem passageira, de Hermes Aquino, e de Zumbi e Taj Mahal, as duas de Jorge Benjor. O disco fica mais interessante quando revela o lado autoral, caso da ótima Testando, em que parece colocar para fora a situação vivida por ser negra e perceber no dia a dia o preconceito velado.
“Andando na rua, de noite, muita gente branca já fugiu de mim, a minha ameaça não carrega bala, mas incomoda meu vizinho/ O imaginário dessa gente dita brasileira é torto/ Grita pela minha pele qual será o meu fim/ Eu não compactuo com esse jogo sujo/ Grito mais alto ainda e denuncio esse mundo imundo.”
O momento atual é de celebração para Ellen Oléria. Aos 30 anos, depois de insistir tanto por espaço no competitivo mercado das intérpretes, a hora parece ter chegado. “Sonhei, invoquei, convoquei, desejei, mas não sabemos o dia em que a chance chegará, ou se chegará. Desejei demais chegar a um número maior de pessoas com meu trabalho. Não tem nada a ver com a fama propriamente dita e, por isso, entrei na disputa do The voice.” Deu certo. Ela não se incomoda de, mesmo com tanta estrada profissional, parecer aos olhos dos outros que começou depois do programa de televisão. Pelo contrário. “Estou tendo uma oportunidade a que tantos aspiram o tempo todo. Minha meta é realizar um projeto artístico sustentável.” Hoje, Ellen mantém estrutura de 18 pessoas nos bastidores vivendo direta e indiretamente do seu canto. “Sempre acreditamos no potencial de movimentação da economia da música”, conta ela, deixando escapar o lado produtora, que, durante anos, exerceu sem ajuda de ninguém.
NA ESTRADA DA MÚSICA
Ellen Oléria nasceu em Brasília, no Distrito Federal, em 1982, e foi criada em Chaparral, região da cidade satélite de Taguatinga. Começou artisticamente como musicista e, pouco a pouco, soltou a voz em coros de igrejas, influenciada pelos pais. Aos 16 anos, começou a carreira e um ano depois virou profissional. Ela também é atriz, formada em 2007 pela Universidade de Brasília (UnB).
A voz marcante e a mistura de sonoridades – bossa nova, funk, hip-hop, MPB, samba e soul –, a poesia das letras e as melodias próprias logo chamaram a atenção do público independente. Artistas de renome como Lenine, Paulinho Moska, Chico César, Ney Matogrosso, Margareth Menezes, Milton Nascimento e Sandra de Sá foram convidando Ellen para participações especiais em shows.
Confira teaser de Aqui é o país do futebol part. Carlinhos Brown:
Sérgio Rodrigo Reis - Estado de Minas
Nenhum comentário:
Postar um comentário