
Tangedor de bodes, de violas, com o toques violão clássico aliado à tradição secular dos cantadores nordestinos, Elomar é um dos pilares da musicalidade da região: infância entre a morada em fazendas e os estudos na cidade grande
A ocasião que o traz de volta é o espetáculo "Cancioneiro", apresentado ao lado do filho, o maestro, violonista e violoncelista João Omar. Com eles, compondo o septeto, estarão também o quarteto de violões formado por Maurício Ribeiro, Hudson Lacerda, Avelar Júnior, Kristoff Silva e a cantora Letícia Bertelli. De hoje a domingo, eles se debruçam sobre o repertório de cantorias do velho trovador - ao todo são mais de 200 composições gravadas, 49 delas devidamente partituradas e incluídas em livro homônimo ao espetáculo. A tarefa da escrita musical ficou a cargo dos próprios músicos que o acompanham nos show.
O show, hoje e amanhã, às 20 horas, e domingo, às 19 horas, ainda tem ingressos à venda. No palco da Caixa Cultural, eles apresentam alguns dos temas mais representativos do cancioneiro de Elomar, como "O violeiro", música que abria seu primeiro compacto, em 1968, e que estaria também no LP que o apresentou ao público, "Das Barrancas do Rio Gavião", 1972. Do LP de estreia, completamente rearranjadas para o septeto, estão também "O Pidido" e "Cantiga de Amigo", tida como uma das obras primas do violeiro.
"Sete candeeiros iluminam a sala de amor, sete violas em clamores, sete cantadores, são sete tiranas de amor para a amiga". O trecho de "Cantiga de Amigo" falava das cantorias de sua fazenda, e é talvez uma pintura antecipada das violas que compõem o espetáculo.
Do encontro com Patativa do Assaré em Fortaleza, apesar de não lembrar o martelo declamado, Elomar não esquece a conversa no palco: "eu disse, ´Patativa, de lá de casa, nunca imaginei que você soubesse que eu existo´. Ele, então, retrucou na hora, ´Égua! E eu que não queria morrer sem te conhecer, Elomar. Um outro também amigo meu, cantador me disse que antes de morrer ainda haveria de te conhecer, pessoalmente´. ´Quem?´, e ele respondeu, ´O Cego Oliveira´. Eu quase caí do tabuado do palco".
Legado
Tangedor de bodes, de violas, com o toques violão clássico aliado à tradição secular dos cantadores nordestinos, é um dos pilares da musicalidade da região. O "príncipe do sertão", como o chamou certa vez Vinicius de Morais.
A contar do primeiro LP, são 41 anos de carreira, 15 discos lançados e um farto material ainda inédito. Elomar assina com Xangai, Vital Farias e Geraldo Azevedo os discos "Cantoria" 1 e 2, preciosa série do cancioneiro nordestino. Entre as curiosidades biográficas que explicam sua forte ligação com esta raízes, consta que ele é descendente direto do bandeirante João Gonçalves da Costa, fundador do arraial que deu origem à cidade de Vitória da Conquista.
Carreira
Morador da Casa dos Carneiros desde 1980 - silencioso refúgio localizado a 20 km de Vitória da Conquista, na divisa com Minas Gerais - é de lá que ele retira a inspiração e o sossego necessário para compor. Um exercício cotidiano daquilo que canta. A década de 1980, aliás, foi quando produziu alguns de seu principais discos, como o sinfônico "Fantasia Leiga para um Rio Seco" (1981), a ópera "O Auto da Catingueira" (1983), e a série "Cantoria". Já demonstrava sua inclinação para dar uma cara mais elaborada à musicalidade nordestina.
Nascido em dezembro de 1937, Elomar Figueira Mello dividiu a infância entre a morada em fazendas da região e os estudos na cidade. Durante breve passagem por Salvador, ele graduou-se em arquitetura e teve suas primeiras noções de violão clássico.
"Meu pai tem um estilo com características da música erudita. Definições em acompanhamentos, linhas de canto que se assemelham a essa prática da música culta", ilustra o maestro João Omar. Junto com o pai, na última década, ele se dedica a dar corpo à cerca de dez óperas do compositor. Quatro delas já estão finalizadas e orquestradas - "O Auto da Catingueira", "A carta", "O retirante", "O peão montador". Todas no, entanto, inéditas no palco. Quem sabe, seja este o motivo de uma próxima visita ao TJA.
Mais informação
Elomar apresenta o show "Cancioneiro". Hoje e amanhã, às 20h, e domingo, às 19 h, na Caixa Cultural (Av. Pessoa Anta, 287 - Praia de Iracema).
Contato: (85) 3453.2770
REPÓRTER
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