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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

domingo, 12 de maio de 2013

Literatura »"A morte é a coisa mais cotidiana que existe", diz Affonso Romano de Sant'Anna

Escritor mineiro volta ao Recife no dia 21 de maio para oficina de criação poética no Sesc Santa Rita.
Zuleika de Souza/CB/D.A Press

Levanto-me. Vou ao cartório/ autorizar minha cremação. Autorizar/ que transformem/ minhas vísceras, sonhos e sangue/ em ficção. O que pode haver /de mais radical?/ Assinar este papel/ tão simples/ tão fatal./ Autorizar a solução final/ de todos os poemas.” Os versos de Affonso Romano de Sant’Anna não são mero exercício poético. Pelo contrário, refletem o âmago do escritor mineiro, que considera a morte uma das coisas mais cotidianas.

Não por acaso, é o tema central de Sísifo desce a montanha (2011), cujo título se refere ao personagem da mitologia grega condenado a empurrar uma pedra até o cume da montanha, apenas para vê-la rolar para baixo. “Já carreguei essa pedra, alcancei o topo, e  estou quase do outro lado”, diz. O flerte com a morte por meio de metáforas é acompanhado da ânsia de produzir e viver mais, a ponto de Affonso trabalhar em cinco projetos simultaneamente. 

Zuleika de Souza/CB/D.A Press
Aos 76 anos, ele já se preocupa em deixar escritos para serem publicados postumamente. Por esse motivo talvez desista de transformar em livro um antigo diário onde narra encontros com Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga e Clarice Lispector. Sobre a relação com esta última, no entanto, começa a abrir o baú: em parceria com a mulher Marina Colasanti, vai lançar em breve a obra Com Clarice. 

Munido da contradição própria dos poetas, é como se Affonso cantasse aquela velha canção: “vem, mas demore a chegar. Eu te detesto e amo, morte, morte, morte… que talvez seja o segredo desta vida”. Orgulhoso da própria trajetória, lança este mês a coletânea Que presente te dar? - crônicas de amor e outros afetos (Leya, 173 páginas, R$ 29,90), com textos publicados em jornais nas décadas de 1980 e 1990.

Alguns deles, ressalta o autor, fizeram a diferença para muita gente. “Você escreve uma crônica e de repente transforma a vida de uma pessoa sem saber. Ela muda de emprego, de cidade, termina um relacionamento. Guarda aquilo como um talismã”, compara. Segundo Affonso Romano, por causa de Mulher madura, uma leitora se mudou para a Grécia e de lá lhe escreveu uma carta agradecendo. “Antes que elas cresçam, por exemplo, é muito usada em casamentos, batizados… o livro reúne as crônicas mais transcritas e populares entre os leitores”. 


Depois de participar de congresso de leitura realizado no Recife, na quinta-feira, o escritor mineiro já tem nova viagem marcada para a capital pernambucana. De 21 a 24 de maio, ministra oficina de criação poética no Sesc Santa Rita. “Vou dar vários exemplos e motivações sobre a escrita da poesia. O que é, como ela surge, o porquê de escrever… tudo sobre o mistério da produção literária”.

A respeito do curto intervalo de tempo entre as duas visitas, Affonso rebate: “Sou quase pernambucano. Estive no Recife pela primeira vez em 1962 ou 1963, quando Miguel Arraes ainda era prefeito. Vim participar de um encontro sobre alfabetização e cultura popular, época em que o método Paulo Freire era uma coisa avassaladora”, relembra. “De lá para cá, estive aqui inúmeras vezes lançar livros, participar de conferências… estou sempre por aqui. Mas está bom de falar, pois preciso deixar espaço no seu jornal para você escrever sobre Ariano Suassuna, Raimundo Carrero, Ricardo Brennand”, brinca. 


Oficina de Criação Poética, com Affonso Romano Sant’Anna
Quando: 21 a 24 de maio –9h às 12h 
Onde: Laboratório de Autoria Literária Ascenso Ferreira, no Sesc Santa Rita (Rua Cais de Santa Rita, 156 - Bairro de São José)
Inscrições gratuitas no local.  


 ENTREVISTA >>>>

Que crônicas compõem o novo livro? 
São aquelas de grande interesse para o grande público. A mulher madura, por exemplo, já foi adaptada para a TV e para o teatro. Antes que elas cresçam é muito usada em casamentos, batizados… o livro reúne as crônicas mais transcritas e populares entre os leitores. Esse livro reúne afetos e amores, mas tenho obras como Nós, que matamos Tim Lopes, sobre violência, Perdidos na Toscana, sobre viagens, A cegueira e o saber, com crônicas culturais. São pequenos ensaios que o leitor lê e digere sem dificuldade. Procuro diversificar sempre, e o resultado é sempre bom, chega a mudar a vida das pessoas.

Mudar como? 
Você escreve uma crônica e de repente transforma a vida de uma pessoa sem saber. Ela muda de emprego, de cidade, termina um relacionamento. Guarda aquilo como um talismã. A crônica entra sem permissão na vida do leitor.

Tem algum exemplo?

Na década de 1980, Augusto Ruschi, um grande ecologista, iria morrer porque havia tocado em um sapo envenenado na Amazônia. Escrevi uma crônica dizendo que era preciso fazer algo para salvar a vida dele, e o então presidente José Sarney mandou buscar dois pajés em aldeias distantes. Fizeram uma pajelança, e isso salvou a vida dele.
Outra vez, uma leitora mandou uma carta confessando que se mudou para a Grécia depois de ler a crônica Mulher madura.

Como será a oficina de criação no Recife?
A ideia é reunir um grupo de pessoas interessadas em discutir literatura. Vou dar vários exemplos e motivações sobre a escrita da poesia. O que é, como ela surge, o porquê de escrever… tudo sobre o mistério da produção literária sobre o misterio da criação literaria. Espero que seja produtivo. Para mim, pelo menos, sempre é.

Será a segunda visita à cidade em  duas semanas…
É verdade! Sou quase pernambucano. Estive no Recife pela primeira vez em 1962 ou 1963, quando Miguel Arraes ainda era prefeito. Vim participar de um encontro sobre alfabetização e cultura popular, época em que o método Paulo Freire era uma coisa avassaladora.

Quais os planos pela frente? 
Já entreguei para a editora o livro Com Clarice , que escrevi com minha mulher, Marina Colasanti. Fizemos textos sobre nossa convivência com a autora por muitos anos, incluindo uma famosa entrevista de três horas gravada no Museu da Imagem e do Som em 1977.  Além disso, tenho outros cinco projetos simultâneos, livros contando minha trajetória na poesia, no ensaio, na crítica, na crônica, e um outro sobre Drummond e João Cabral.

Não é muita coisa para fazer ao mesmo tempo?
Fora esses ainda estou pensando se publico ou não um diário que tenho há muito tempo. Estou relendo aos poucos. Nele conto muita coisa sobre política, sobre minha vida, a relação com Drummond, Rubem Braga, Clarice…

O que lhe impediria de publicá-lo? 
Eu. (risos).  Tenho que deixar alguma coisa para publicação post mortem.

O senhor lida tão bem assim com a morte?
Claro, a morte é a coisa mais cotidiana que existe. Meu pai costumava dizer: “ultimamente tem morrido muita gente que não morria” (risos). No meu livro Sísifo desce a montanha falo muito sobre morte, até sobre a minha cremação. Na realidade, já carreguei essa pedra, alcancei o topo, e  estou quase do outro lado.

Por muito tempo levantou a bandeira do incentivo à leitura. Ainda é uma preocupação?
Sim. Há poucos meses,  dois editores importantes deram entrevistas dizendo que havia um problema grave no Brasil, que era o excesso de livros. Segundo eles, as livrarias não suportavam a quantidade, pois algumas editoras chegam a publicar quase 100 obras por mês. Escrevi uma crônica, então, apontando o equívoco. Não existe excesso de livros, existe falta de leitores. Ou seja, o leitor também pode ser produzido, como o livro. Ele é resultado de um processo cultural, de uma política nacional de incentivo à leitura.

Como vê a interferência da tecnologia nesse contexto?
Existe muita discussão se ter um computador na mão atrapalha ou não a leitura. É uma discussão complexa. Prefiro lutar na direção de transformar essas máquinas em alidas da política de leitura. Qualquer pessoa na margem esquerda do Rio Negro ou em Bagé, no Rio do Grande do Sul, pode baixar no seu computador ou no seu telefone Machado de Assis, Balzac, Dante, Cervantes. Ou seja, as pessoas ainda não se deram conta de quem têm uma biblioteca nas mãos.  Além disso, bibliotecários, professores e escritores não desenvolveram campanhas para que essas bibliotecas pessoais ganhem espaço na vida do cidadão.


Fellipe Torres - Diario de Pernambuco


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