RIO - Parece simples agora: os Strokes
não são uma banda para casar. Pode ser duro admitir, mas basta rever os sinais,
que sempre estiveram por toda a parte. Um desgaste que vem se acumulando desde
aquele efêmero brilho inicial, chamado “Is this it”, lançado em 2001.
A partir dali, a promessa de melhores
dias nunca se concretizou. A cada novo lançamento, uma decepção, seguida pela
torcida para que da vez seguinte desse certo, que tudo iria voltar a ser como
antes. E agora, com a proximidade de “Comedown machine” — previsto para chegar
às lojas no próximo dia 26 —, o quinto disco de uma carreira marcada mais pela
presunção do que pela dedicação, o grupo nem se esforça mais para manter as
aparências e esconder o clima ruim: para ele, nada de entrevistas e nada de fotos
novas. Pior, os Strokes parecem ter virado uma outra pessoa: Julian
Casablancas.
Dói também ver o primeiro vídeo
extraído do disco, de uma de suas melhores músicas. Em tom de nostalgia (para
alguns, de despedida), “All the time” mostra Casablancas, Albert Hammond Jr.,
Nick Valensi, Nikolai Fraiture e o brasileiro Fabrizio Moretti em alegres
imagens de arquivo, na estrada, no estúdio, na televisão, no palco, ao longo de
mais de uma década de atividade. Dói porque o penúltimo disco, o fracote
“Angles” (2011), foi lançado em meio a inúmeras tensões internas, com o
vocalista isolado dos demais e as brigas dando o tom das gravações.
E não era para ser assim, acreditavam
os milhões de fãs que se derreteram de amores pelo grupo quando “Is this it”
foi lançado. Num ano marcado pela dor do 11 de Setembro, o disco soava como uma
redenção em formato de rock de garagem. Suas 11 músicas eram marcadas pela
poderosa simplicidade de suas guitarras, por uma sonoridade retrô que remetia
ao Velvet Underground e pela voz algo blasé de Casablancas (filho de John
Casablancas, da agência de modelos Elite). O pacote era completado por um
visual cheio de estilo, com bonés, calças skinny e tênis All Star. Há tempos
ninguém vestia jaquetas de couro com tanta propriedade.
Mas um bom começo, pose e atitude não
bastam. O show do grupo no Planeta Terra, em São Paulo, há dois anos, foi
emblemático: lá estava um grupo estático, sem carisma, montado em sua própria
imagem e em seu passado de uma única glória. A apresentação, fria e
unidimensional, revelava músicos que não evoluíram como instrumentistas nem
como performers. Como se manter apaixonado assim?
Repleto de sintetizadores, “Comedown
machine” mostra os Strokes preguiçosamente seguindo a onda do seu frontman.
Em diversos momentos, o disco mais parece o segundo álbum solo de Casablanca,
com seu inócuo flerte com a new wave e os sons oitentistas, do que com o som
que marcou os Strokes. O mais constrangedor deles é a faixa “One way trigger”,
que muitos por aqui viram como uma estranha incursão pelo tecnobrega, mas que
soa mesmo como uma bad trip “inspirada” pelo A-Ha e marcada pelo
falsete invasivo de Casablancas.
O resto do disco tem mais baixos do que
altos. “50 50” é uma aventura no caminho certo: as guitarras, afiadas e
nervosas, cercando a voz de Casablancas, enterrada pela mixagem. “Tap out”, que
abre o disco, começa com a promessa de guitarras distorcidas, mas acaba
lembrando um lado B do Blondie. Desprovida de personalidade, “Welcome to Japan”
poderia estar em qualquer disco do Duran Duran. E “80’s comedown machine” é
doce demais para quem dava a impressão de andar no lado selvagem da música. É
sinal, não muito claro, de que os Strokes estão em busca de novos fãs. Luz
verde, então, para seus antigos amores partirem para outra também. Afinal,
ninguém nessa relação fala mais a mesma língua.
CARLOS ALBUQUERQUE
O Globo
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