Por Zelito Nunes
"Cantar devia ter sido
Minha primitiva escola
Ter os dedos calejados
Dos arames da viola
Cantar como o xexéu preto
Na solidão da gaiola"
Manoel Filomeno de Menezes, Manoel Filó,
nasceu no dia 13/10/1930, na fazenda Taboado no então município de Afogados da
Ingazeira. O Taboado situa-se a uns cinco quilômetros do povoado de Jabitacá,
contemplando a serra da Carnaíba que faz fronteira com a Paraíba e na época era
propriedade de Chico Cazuza e dona Mariquinha que era tia do poeta.
Mariquinha era irmã de Tereza Maria de Jesus
mãe de Manoel e mãe do também poeta Heleno Rafael, "Heleno de Tia Mariquinha"
como carinhosamente nós o chamávamos. Maria de Jesus visitava a irmã, quando
foi acudida nas dores do parto, quando veio ao mundo o poeta Manoel que foi
mais um dentre os doze que viriam. Ainda criança foi morar com os pais o poeta
José Filó e dona Tereza, no pequeno ainda hoje, povoado de Mundo Novo, um lugar
de várzeas e riachos fecundos, perdido entre os municípios de Ouro Velho na
Paraíba e São José do Egito, em Pernambuco. Poeta por vocação e cigano por
instinto, Manoel passou a vida se mudando, tendo morado dentre outras cidades,
em São Paulo, Recife, Paulo Afonso, Monteiro e Arcoverde, (havia se mudado há
três meses, para a cidade-mãe da poesia, o seu porto mais seguro, São José do
Egito). Foi empresário bem sucedido no ramo de autopeças, mas a sua natureza de
poeta, não lhe permitia conviver com o espírito do lucro, vivia distribuindo o
que juntava, com os mais necessitados ou não, por isso a sua vida foi toda de
altos e baixos até o fim quando partiu levando somente uma alma de cara limpa,
as mãos vazias e um coração pleno de bondade e poesia. Não foi um grande
cantador por que não quis, (seguramente por uma questão de generosidade, para
não ofuscar o brilho dos companheiros). São da sua lavra, dentre muitos outros:
Respondendo a uma "deixa" de Job
Patriota:
Job:
"inseto tem feito coisas
que a gente às vezes estranha"
Filó:
"No sertão tem uma aranha
De uma qualidade escassa
Que tapa a sua morada
Com lã da cor de fumaça
O tecido é tão perfeito
Que a chuva bate e não passa".
Com Manoel Chudu:
Chudu:
"Essa morena é bonita
Como a flor da açucena"
Filó:
"O corpo dessa morena
É macio igual a fuba
Tem a beleza tocante
Do leque da carnaúba
Cheirosa igualmente à pinha
Que o papa-sebo derruba"
O padre Assis, um italiano radicado há muitos
anos no Pajeú, grande admirador dos poetas populares e hoje vigário de Tabira,
segundo o poeta e seu velho companheiro, Zé de Cazuza, costumava chamá-lo
sabiamente de "Manoel Filósofo". Quem contestaria?
"Não me vem pelo desejo
Tudo aquilo que espero
Não quero as coisas que vejo
Não tenho as coisas que quero"
O poeta na sua bondade e grandeza, soube como
poucos, transitar no meio dos jovens e generosamente passar para eles os seus
ensinamentos. A sua convivência com os mais novos, produziu bons frutos e deixa
herdeiros que não fariam vergonha ao mestre, dentre outros, estão: Jorge Filó,
seu filho, poeta e cordelista, autor do excelente livro/cordel, A IGREJA DO
DIABO. José Paes de Lira Filho - Lirinha do CORDEL DO FOGO ENCANTADO. Felizardo
Moura - POETA E APRESENTADOR de festivais de cantoria e seu companheiro mais
constante. Antônio Marinho do Nascimento - poeta declamador e autor do livro de
poesias, NASCIMENTO.
Interpoética
que a gente às vezes estranha"
De uma qualidade escassa
Que tapa a sua morada
Com lã da cor de fumaça
O tecido é tão perfeito
Que a chuva bate e não passa".
Como a flor da açucena"
É macio igual a fuba
Tem a beleza tocante
Do leque da carnaúba
Cheirosa igualmente à pinha
Que o papa-sebo derruba"
Tudo aquilo que espero
Não quero as coisas que vejo
Não tenho as coisas que quero"
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