TRANSMUTAÇÃO
O tempo e as musas não se entendem bem.
Não há um contrato que firme este ato,
Nem rezas que sirvam pra sempre de amém.
Amores são cais... Mais além há um arco.
Palavras de amor, juramentos, mentiras,
Se afogam com as liras na volta do barco.
É justo que as mãos logo se desenlacem.
As flores de mágoa que nos contaminam...
O tempo às acolhe. Depois outras nascem.
Sem ódio e sem guizo; com dias, com dor.
Um corpo de carne e de sangue e desejos
É vítima dos beijos mal dados do amor.
Não de outro plano nem dos outros seres.
Amor que embriaga ciúmes e afetos.
Que sente prazer em causar desprazeres.
Da tarde vermelha: bons tempos e mínguas.
Das unhas riscando outro traço nas costas.
Da dança das bocas no enrosco das línguas.
Na louça com pratos e copos expostos.
Amores se acabam num leito de cama.
Silêncio velando dois lados opostos.
As lutas inglórias... Quão belas são elas!
Amores se acabam como um terremoto
Ou como um pavio terminando nas velas.
A brasa final de manhã inda arde.
Amores se acabam como a samambaia
Largada num canto, domingo de tarde.
Conversas faladas de certo são artes.
Caminhos opostos curando as feridas...
As partes contando e forjando outras partes.
O amor revelar ter a dor mais legítima.
Botar no olhar um olhar contrafeito
Que possa servir ao discurso de vítima.
Saudade do rio que passou, não deságua.
Palavras mal ditas com voz embargada
São cartas de amor perfumadas de mágoa.
O tempo passado os amores percorrem.
Amores findados se tornam uma espécie
De corpos celestes: as luzes não morrem.
Lucas Rafael.
Belíssima poesia.
ResponderExcluirMeu medo é que do nada Lucas Transcenda a composição física da matéria por sua tamanha singularidade e se torne uma evolução que nós, meros mortais não é dado o direito de compreender ou sentir ou mesmo apreciar tamanha grandiosidade.
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