Quando em março cheguei no interior
Eu passei pela chuva no caminho.
Ela disse, o verão ficou sozinho
Enterrado sem força e sem vigor.
Vi abelha pousando numa flor
E menino brincando do terreiro.
Do café de mamãe senti o cheiro
E apressei a passada para casa,
Como um pássaro que bate a sua asa
Já sabendo o final do seu roteiro!
No cercado escutei voz de vaqueiro
De manhã aboiando em seu cavalo.
Despertei no cantar feliz do galo
Lá no sítio no aceiro do terreiro.
Vi um sapo montado num balceiro
Dirigir numa forte correnteza.
Dos sinistros saber fazer defesa
Pra não ser por nenhum atropelado.
Todo bicho já nasce habilitado
Pelas leis divinais da natureza!
Quem chorava até ontem de tristeza
Hoje ri com a chuva e a fartura.
Logo logo terá fruta madura
Enfeitando uma cesta numa mesa.
Deus é Pai e com sua sutileza
Tem poder de fazer transformação.
Os humanos só fazem previsão,
Mas não têm de certeza cem por cento.
Todo choro de dor e sofrimento
Só se acaba com chuva no Sertão.
Quem plantou sua roça de feijão
Em abril já enxerga o resultado.
O Nordeste se sente abençoado
E seu povo nem lembra do verão.
É o inverno a maior transposição
Do projeto: "fartura em nossa mesa".
Pra o roceiro, sem dúvida, essa riqueza
Vale mais que milhões numa poupança.
É com chuva que o verde da esperança
Faz brilhar os olhares da pobreza!
Estou certo que o autor da natureza
Quando quer Ele atende nossa prece.
Basta a gente ter fé que a chuva desce
Gota a gota formando correnteza.
O trovão dá sinal na redondeza
E o relâmpago clareia o chão molhado.
O barulho da enchente é ritmado
E parece uma orquestra na biqueira.
Como é bom escutar a noite inteira
As pancadas da chuva no telhado!
.
Andrade Lima
15/04/2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário