O
poeta, compositor e cantor Maciel Melo, de quem sou fã e conterrâneo das
margens do inspirador e poético Rio Pajeú, o Pajeú das flores, que nos dá razão
de cantar, saiu em defesa, ontem, num artigo neste blog, do autêntico e
verdadeiro forró pé-de-serra, que vem perdendo, a cada ano, nos palanques
juninos, seu histórico e garantido espaço para os chamados hits sertanejos.
O alerta de Maciel não é o primeiro nem tampouco soa
solitário, nem chega a ser pregado no deserto. Tem eco e substância. Antes
dele, Elba Ramalho e Alcymar Monteiro, cada um ao seu modo, já tinham
protestado nas redes sociais contra esta grande e perniciosa invasão no São
João de uma derivada musical de duvidoso gosto. Podem me chamar de cafona, como
diz uma canção de Maciel, mas como ele e todo bom matuto de ouvido viciado em
Gonzagão, também adoro forró.
Até porque, como disse Rogaciano Leite na poesia “Os
críticos”, sou do Pajeú das flores/Sou da terra onde as almas/São todas de
cantadores”. Lá, aprendi também que o canto da roça e da choupana vale mais que
mil prantos das sofrência que apareceram por aí. Que me desculpem os que batem
palmas para Marília Mendonça e coisas tais, mas trata-se de um modismo sem
apelo cultural, sem poesia, sem alma e sem encanto.
Eu gosto de quem canta o Sertão, que é meu. Gosto de verso
que tem cheiro de marmeleiro, aroma de bode e flor de mandacaru, como os de
Maciel, Petrúcio Amorim, Flávio Leandro, Maria Dapaz, Jorge de Altinho, Flávio
José, Santana, Alcymar Monteiro, Nena Queiroga, Josildo Sá e meu amigo Ivan
Ferraz. Gosto de quem canta o som que brota mansinho de uma grota quando a
chuva cai por lá.
Gosto do amanhecer catingueiro, no bico do Sabiá. Gosto da
casca do umbu-cajá, gosto de verso e aboio matutos. Gosto de rapadura, o nosso
manjar. Gosto do mel da for de catingueira, mais doce que o mel que os reis da
sofrência curam a sua rouquidão nos palanques em que antes apreciávamos Luiz
Gonzaga agarrado à sua sanfona tocando e cantando xote, baião e xaxado.
A rigor, os festejos juninos têm raiz nos brejos do
Sertão. Caruaru e Campina Grande, que hoje rivalizam, pegaram carona na
tradição sertaneja e mutilaram o pé-de-serra. Vivi quando adolescente um São
João em que se dançava na beira da fogueira vendo o milho ser assado, tirando o
gosto do seu sal com o doce da pamonha.
Por isso, assino embaixo em tudo que Maciel trovejou na
sua dura pena em defesa do forró. E louvo aos que concordam com ele e comigo
revivendo Euclides da Cunha: “Não desejo Europa, o Boulevard, os brilhos de uma
posição. Desejo o Sertão, a picada malgradada e a vida afanosa e triste do
sertanejo”.
Aos que possam me jogar pedras por esta defesa tão enfática
que faço em favor do nosso forró pé-de-serra ainda recorro a Luiz Gonzaga com
esta frase fantástica, cheia de amor pelo Sertão: “Quero ser lembrado como o
sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o Sertão, que cantou as aves, os
animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o
amor”.
Blog
de Magno Martins
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