Deste de ti cem por cento
Nunca pediste um aumento
Nem promoção no emprego
Por dez motores forçavas
Por dez homens laboravas
E à noite suportavas
As mordidas do morcego.
Só por um feixe de palha
Animal nenhum trabalha
Do tanto que trabalhavas
Depois de velho caído
Certo do dever cumprido
Nunca foi reconhecido
O grande lucro que davas.
Depois se escanchava nela
E na frente e atrás dela
Botava mais dois guris
Furava com as esporas
Corria duas, três horas
Quebrava cinco, seis toras
De pau malhando os quadris.
Lembro teu pêlo bonito
Parece ouvir o apito
Da força da tua voz
Chego à triste conclusão
Que a raça em extinção
Deixa saudade ao sertão
E muita falta pra nós.
Tombando feixe de lenha
Que o sertão talvez não tenha
Animal melhor de carga
Hoje, porque estás cansado
És no desprezo atirado
Pra viver abandonado
Numa vida tão amarga.
De quem espera não cansa
Adia tua vingança
Para outra encarnação
Pede para o Soberano
Para nesse outro plano
Voltares um ser humano
E o homem voltar gangão.
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