Seguidores

Para Que Vim


Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

CINEMA: Crítica > A música inventa a memória no filme pernambucano Aquarius

Filme terá exibição seguida de debate nesta segunda-feira, com o diretor, no São Luiz
Sonia Braga protagoniza o filme do cineasta Kleber Mendonça Filho. Foto: Victor Jucá/Divulgação
 Aquarius será exibido e seguido de debate, nesta segunda-feira, às 15h30, com o diretor Kleber Mendonça Filho e o filósofo Érico Andrade, na Mostra de Cine e Cidade do Recife, no Cine São Luiz. Ingressos: R$ 10 e R$ 5. Informações: 3184-3157

*Por Érico Andrade 
O cinema pode ser entendido, segundo Tarkovski, como a capacidade "de registrar o tempo através de signos exteriores e visíveis, identificáveis aos sentimentos". O desafio que 
Aquarius se impõe é trazer para o plano da montagem de fotogramas, a referência aqui é Eisenstein, uma narrativa com vistas a costurar diferentes quadros pelo som. A música de Aquarius substitui os ruídos da cidade de o Som ao redor e dá aos diferentes quadros o registro de uma só memória. É a música que liga os anos da história de Clara quando a montagem de diferentes cenas é feita ao som de "Toda menina baiana".

Aquarius capta feridas sociais com sensibilidade e delicadeza

São as músicas que passeiam pelo Recife e identificam os sentimentos de Clara aos objetos externos, à cidade. A música que quando não é cantada é recitada, como na cena, em que Clara remete a filha à musica 
Nervos de aço, de Paulinho da Viola, ou mesmo apenas vista, como na linda dedicatória de Clara aos filhos presente no seu livro sobre um músico, sobre Villa Lobos, que no quadro seguinte entoa para preencher de afeto o passado, em uma palavra: lhe conferir memória. É a música que inventa a memória de Aquarius e impregna o edifício, cujo nome é homônimo do título do filme, de história. Micro-história, para ser preciso. Aquariusfunciona como uma micro narrativa da cidade.

Se, em ao 
Som Redor, essa micro-narrativa da cidade estava centrada na rua, com suas matizadas personagens, em Aquarius ela passa a habitar a feição decidida e livre de Clara. As mulheres e seus desejos, já retratadas em Eletrodomésticas e no próprio Som ao Redor, ganham em Clara algo raro no cinema: uma personagens feminina que não é governada, como observou Ana Paula Portella, pelo sentimentalismo dramático ou pela subserviência à crueldade da sociedade normatizada pelas regras do machismo. 

Clara encerra um elemento importante da política contemporânea que consiste, entre outras coisas, em transformar o corpo em espaço de resistência política. O corpo de Clara também é história, micro-história, que transformar o desejo em ato de resistência como na sequência de cenas que permite religar os seus olhos de voyeur (diante da suruba no apartamento vizinho, encomendada para lhe constranger a vender o seu apartamento) à liberdade do sexo casual e prazeroso com um michê (termo da época); como ela irá confidenciar à amiga em outra cena.

Clara é a mulher que habita, numa cidade violenta, um prédio que só não é fantasma, como ela faz questão de lembrar, porque ela insiste, persiste, em guardar a sua memória, e, consequentemente não abandonar o seu apartamento, que no presente caso significaria deixar que o capital erguesse mais um dos seus símbolos fálicos. A violência urbana que cerca Clara não é mais a negra (do menino negro) que permeia a fantasia da classe média das ruas de Setúbal. Ela está no seio da própria classe média. Ela á força das construtoras. Ela é branca como Clara. Quando os dois trabalhadores da construtora se aproximam dela (neste momento o espectador, sobretudo de classe média, guarda dentro de si a sensação de uma violência iminente) eles trazem consigo uma preocupação com a resistente senhora e avisam do plano da construtora de deixar os cupins, trazidos sobre medida, fazerem os prédio ruir.

No entanto, Clara é a cidade que não se entrega. Ela é, impossível não fazer menção à música, "madeira de lei que cupim não rói". Por meio da história de Clara o diretor Kleber Medonça Filho consegue mostrar a força da micro-história capaz de fazer da narrativa de uma personagem a narrativa da cidade que tal como Clara não quer se apagar.

Érico Andrade
ericoandrade@gmail.com
Crítico de cinema, filósofo e professor doutor em filosofia da UFPE

 Por: Érico Andrade - Especial para o Diário de Pernambuco

Nenhum comentário:

Postar um comentário