“Se passar mais um ano sem chover
Vai ficar pouca gente no Sertão”
Pela seca cruel que nos comove
Faz dois anos completos que não chove
Acabou-se a fartura do roçado
Não tem pasto pra o gado no cercado
Desse jeito se acaba a criação
Morre um bicho por falta de ração
Falta até urubu pra lhe comer
Se passar mais um ano sem chover
Vai ficar pouca gente no Sertão
Fevereiro foi seco não pingou
Quando em março o inverno começou
Porém só uma chuva nele deu
Quem plantou a lavoura se perdeu
Com quarenta e seis dias de verão
Já que o povo não tem outra opção
A vingança que tem é só dizer:
Se passar mais um ano sem chover
Vai ficar pouca gente no Sertão.
É certeza que a água vai faltar
Pra beber, pra lavar, pra cozinhar
Só se for de algum poço artesiano
Nessa água quem for lavar um pano,
Ela corta a espuma do sabão
Da que encrua caroço de feijão
Assim mesmo é melhor do que não ter
Se passar mais um ano sem chover
Vai ficar pouca gente no Sertão.
Pois a seca só trás calamidade
Carro-pipa abastece uma cidade
Mas água que traz é limitada
Vê-se a fila de latas na calçada
Todo mundo esperando o caminhão
Nisso o povo se agita ,faz pressão
Que o prefeito só falta endoidecer
Se passar mais um ano sem chover
Vai ficar pouca gente no Sertão.
A miséria cruel que está se vendo
A pobreza humilhada recebendo
Uma feira que vem de mês em mês
Mas a feira que veio da última vez
Só foi óleo fubá e macarrão Q
Quando vem um punhado de feijão
Não há fogo que faça amolecer
Se passar mais um ano sem chover
Vai ficar pouca gente no Sertão.
De lucrar já perdeu a esperança
Por que tudo demais a gente cansa
Esse povo já está desenganado
Disse um velho que vinha do roçado:
Já perdi toda minha plantação
Pra acabar com a safra de algodão
Só faltava o bicudo aparecer
Se passar mais um ano sem chover
Vai ficar pouca gente no Sertão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário