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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Poesia; "A casa do ébrio", um poema de João Batista de Siqueira "Cancão"

Cena do filme "O Ébrio" com Vicente Celestino

A CASA DO ÉBRIO

Era um casebre tristonho
De cujas paredes tortas
Vinha um rangido enfadonho
Dos gonzos de duas portas
As telhas já nodoadas
Duas roletas deitadas
Numa camarinha escura
O vento, quando passava
Parecia que falava
Nas frinchas das fechaduras.

Na parede do nascente
Um banco desmantelado
Um garrafão de aguardente
Que ainda havia sobrado
Junto ao quarto de dormida
Cera que foi derretida
Do resto de algumas velas
No chão, marcas de escarros
Cacos de vidros, cigarros
Rolavam por cima delas.

Uma rede remendada,
Outra parte descosida
Em um torno pendurada
Pela fumaça tingida
De um lado havia um cambito
Onde um couro de um cabrito
Sobre um arame pendia
Mais adiante, um jirau
Junto à travessa de um pau
Onde um morcego vivia.

Uma corda, uma rodilha
Bem acima de um caixão
Um pote, numa forquilha
Vazava junto ao fogão
Um gato cego e doente
Deitado sobre um batente
Por certo sentia sono
De fora, um jumento olhava
O seu olhar revelava
A malvadez do seu dono.

Uma vara de ferrão
A banda de uma tigela
Meio quilo de sabão
Embrulhado dentro dela
A banda de um cobertor
Atada em um armador
Onde havia um candeeiro
Uma camisa de saco
Mostrava por um buraco
A tampa dum tabaqueiro.

Uma cadeira quebrada
As pernas de um tamborete
Uma foice enferrujada
Encabada num cacete
Ao lado de uma cangalha
Havia um chapéu de palha
Com um remendo de pano
Troco de mandioca
E um anzol numa taboca
Pra pesca do fim de ano.

Havia armado um quixô
Encostado a um baú
Costurado com cipó
Todo feito a couro cru
Num recanto separado
Conservava-se embrulhado
O braço de uma viola
Zelava por tradição
Que seu pai foi campeão
De cantar pedindo esmola.

Uma calça de azulão
Perto da porta do meio
A bainha de um facão
Balançava em um esteio
Numa mesinha na sala
Havia cascas de bala
Um bisaco e uma garrucha,
A manga de um paletó
E um galho de mororó
Guardado pra tirar bucha.

Cinco ovos de galinha,
Um punhado de limão
Uma cuia com farinha
Sobre a boca de um pilão
Uma rolinha pelada
Numa gaiola quebrada
Junto à porta dormia
Em frente, um cão cochilava
Com certeza decorava
Sua cruel profecia.

Um pedaço de perneira
Um serrote e uma enxó
Tudo dentro duma esteira
Amarrada em um cipó
Um candeeiro sem asa
E num recanto da casa
Quatro cartas de baralho
Em um barbante, num prego
Atada por um nó cego
Estava preso um chocalho

A canela de um viado
Uma ponta de carneiro
Em um gibão amarrado
Um facho de marmeleiro
Em frente havia um baú
Bem apoiado no chão
Sobre sua tampa aberta
Mostrava uma prova certa
Donde guardava o carvão.

Abaixo de um travesseiro
Um pouco de sola em dobra
Dada por um curandeiro
Pra mordedura de cobra
Ais um cachimbo de barro
Que o mau cheiro de sarro
Chegava até o cozinho
Em um recanto, num banco
Um sapato preto e branco
Que recebeu de um padrinho.

Muitas formigas pequenas
Umas vinhas, outras iam
E assim muitas centenas
Entre os torrões se escondiam
Duas varas emendadas
Numa parede pregadas
Quase na forma de uma “vê”
Se o vento balançava, vinha
Do terreiro ou da cozinha
Um cheiro não sei de quê.

Uma criança chorava
Juntinho da mãe doente
Que com esforço lhe olhava
Mas já com ar diferente
O rosto banhado em pranto,
Deitado sobre um recanto
Numa parece encostada
A face triste e sóbria
Que durante aquele dia
Não tinha comida nada.

Depois, um homem barbado
Entrava cambaleando
Num andar lento e pesado
Exasperado falando
Um ferimento num braço
Se ia aumentar o passo
Botava a mão na parede
Sorria e depois chorava
Pelos seus traços mostrava
Sinais de quem tinha sede.


João Batista de Siqueira “Cancão”
Poema extraído do livro: “Palavras ao plenilúnio” de Lindoaldo Campos

CANTIGAS E CANTOS

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