O ano de 1965 foi uma festa para a música popular brasileira: dos boleros e sambas da velha guarda, passando pela bossa nova, canções de protesto e pelo rock - o Brasil fervia. E foi ali, há cinquenta anos, que tomou forma um dos maiores fenômenos de nossa música, com Erasmo Carlos, Wanderléa e Roberto Carlos estrelando o programa televisivo que batizaria toda uma geração: a Jovem Guarda.
Divisor de águas, em pouco tempo, a nova atração estava em primeiro lugar de audiência. Em quatro anos no ar, entre 1965 e 1968, o programa se confundiu com a história da própria Jovem Guarda enquanto movimento, que viveu naqueles anos seus tempos áureos.
Nomes como Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, Deni e Dino, Martinha, Rosemary, Leno e Lilia viraram mitos até hoje lembrados.
"Acho que a Jovem Guarda faz sucesso até hoje porque, por mais que as coisas se modifiquem, e digam que amor é coisa careta. No fundo, as pessoas gostam disso, e vão gostar sempre. O sucesso da Jovem Guarda é essa mistura de amor e coisas pra frente, guitarras, bateria, som", sugere o músico Renato Barros, líder do Renato e Seus Blue Caps, um dos protagonistas daquela geração, até hoje na ativa com seu conjunto.
Em 2015, fãs e artistas comemoram os 50 anos do "iê iê iê". Considerado o primeiro e, ainda hoje, um dos maiores fenômenos de massa da indústria fonográfica nacional, em torno da Jovem Guarda giram ainda críticas e preconceitos, mas há também uma enorme saudade e carinho por parte de seus admiradores. O Caderno 3 de hoje embarca nessa onda, revisitando histórias, entrevistando testemunhas oculares e contando um pouco do que foi - e para muitos ainda é - a eterna Jovem Guarda.
Primórdios
Os primeiros capítulos dessa se confundem com a própria chegada do rock'n roll no Brasil. A novidade, que explodiu no Estados Unidos em 1955, chegava ao País, ainda em 1955, em versão de Nora Ney - intérprete, até então, de músicas de fossa - para "Rock Around the Clock". A música de Bill Haley virou "Ronda das horas".
No final daquela década, as bandas de rock já começavam a se disseminar pelo País, como o The Snakes, primeira banda do jovem Erasmo, ou "The Sputniks", que reunia Roberto Carlos e Tim Maia, ambos adolescentes no Rio de Janeiro. As primeiras grandes estrelas do rock brasileiro, foram, no entanto, a dupla Celly Campelo e Sérgio Murilo, considerados os pré-cursores do que seria a Jovem Guarda.
Os dois colecionaram sucessos entre 1959 e 1962, que já tomavam a direção das levadas românticas e ingênuas que se popularizariam nos anos seguintes, como "Estúpido Cupido", versão de Fred Jorge para "Stupid Cupid", e "Banho de Lua", baseada na italiana "Tintarella di luna".
"Não é um movimento. Não tinha uma proposta, não tinha um manifesto, não era o caso", defende o pesquisador e produtor musical Marcelo Froes, autor do livro "Jovem Guarda Em Ritmo de Aventura" (2000). A tese de que os artistas daquela geração teriam saído diretamente das fábricas subterrâneas das grandes gravadoras, rejeita Froes, é igualmente falsa. "Não foi fabricado nada. Foi totalmente espontâneo. As gravadoras apenas souberam capitalizar o que estava ali, como qualquer coisa que venda. Depois que a Jovem Guarda aconteceu ficaram mais atentos, até, aos talentos, e oportunidades que surgissem", analisa.
Fábio Marques
Repórter
Diário do Nordeste
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