Perfil
A história de Jessé de Paula já foi contada pelo Diario duas vezes: em 2009, no caderno Vida Urbana, e em 2012, na revista Aurora.
Confira o texto, de 2009, da repórter Ana Braga sobre Jessé:
O violino está para a música clássica assim como o ônibus está para a cidade. Ambos são necessários. O primeiro à arte e o outro, à rotina, ao vaivém da escola, da faculdade, do trabalho. Mas, e quando o instrumento de som requintado - considerado o comandante da orquestra - faz dueto com o motor barulhento do coletivo? E quando a viagem acontece com Carinhoso, Eu sei que vou te amar, Fascinação, frevos, baiões e sinfonias tocadas ao vivo? Essa tem sido a experiência de passageiros na Região Metropolitana do Recife. E os ônibus, único palco do violinista Jessé de Paula, de 24 anos, que se apresenta sonhando em gravar um disco e ter um violino elétrico. A remuneração do artista vem não só em moedas e cédulas miúdas, mas principalmente em respeito.
A matemática
Ontem Jessé saiu para tocar nas linhas do Centro do Recife. Partiu da Avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro, em direção a Olinda. Passou por Bairro Novo, Casa Caiada, Jardim Atlântico, Rio Doce e chegou à cidade vizinha, Paulista. Nesse trajeto, subiu em dois ônibus. Pela apresentação recebeu R$ 11. Desses, usou R$ 5,60, para as duas passagens no Anel B - a mais cara da Região Metropolitana do Recife. Não sobrou muito. Aliás, nesse dia, sobrou nada para aproximar Jessé dos sonhos de anos do violinista. O custo médio de um violino elétrico é R$ 3 mil. Gravar um disco com pelo menos três das músicas regionais que ele fez, num estúdio barato do Recife, sai em torno de R$ 300. Para isso, precisa antes registrar as composições. Mais R$ 20 por cada pasta de partitura, segundo o instrumentista.
Música é, antes de qualquer coisa, frações, compassos e cálculos, que arrumados de maneira harmônica, podem dar resultados agradáveis ao coração. Mas, no caso de Jessé, a matemática tem sido ingrata. O violinista chega a subir em dez ônibus, diariamente. Faz isso cinco ou seis vezes, por semana. Tenta escolher os horários de pico e assim tocar para mais gente. Com sorte, tira R$ 35, no dia que trabalha em dois turnos, como um operário da música. Só um jogo de quatro cordas de aço, que o instrumento precisa a cada mês, custa R$ 40. E são mais R$ 5 para a alimentação na rua. Sobra pouco, mas o ônibus, o palco é necessário para o violonista. "Todo artista tem que ir aonde o povo está", repete Jessé o verso da música de Milton Nascimento.
O palco
Jessé passa pela catraca. A apresentação inicia quando ele abre o estojo com o instrumento. São incomuns a presença do violino e seus sons dentro do ônibus. Da mesma forma são o calor extremo, a chuva, o suor do instrumentista sobre o delicado objeto de trabalho feito em madeira - que custa no mínimo R$ 350 na fábrica. Como numa verdadeira platéia de teatro, os passageiros tentam encontrar a música, às vezes abafada pelo motor barulhento do veículo. Difícil dar atençãoao show, enquanto a cabeça está na rotina, no trabalho, na volta para casa, na prova por fazer. Mas Jessé sabe como atrair. Toca de frevo a sinfonias. Entre as conhecidas de Capiba, Bach e Beethoven, também executa as suas composições. "São músicas de melodias e ritmos regionais, como o xaxado e o baião. As pessoas se identificam muito", conta Jessé. Tempo desses precisou "pegar de ouvido" um dos temas da novela A Favorita e um brega famoso. Foram pedidos do público.
"Eu vejo as pessoas comprando DVD e CD pirata por R$ 5 e R$ 3. Todo mundo gosta de entrenimento. Por que eu não poderia tocar nos ônibus ou na rua? Em Paris, a prefeitura faz concurso para os músicos tocarem nos metrôs. Além disso, eu vejo na televisão e na internet os artistas, famosos ou não, colocando seus trabalhos na rede, para serem copiados. Quem quiser contribuir, dá o que quiser", comenta Jessé. E é assim que ele se comporta no ônibus. Não pede. Apenas espera que o público, gostando da música, dê o que quiser e puder. "A maioria respeita. E isso já é maravilhoso. Só uma vez um senhor pediu ao motorista que parasse numa guarnição da PM e disse para eu descer. Eu desci, na boa. O que eu poderia falar para aquele senhor?", pondera o instrumentista. Já a aposentada Maria Helena, do final do ônibus, cantava o frevo de bloco Madeira do Rosarinho. "Eu também estudo música. E isso que esse rapaz faz é maravilhoso. Ele não tem que ter vergonha de nada", observa a espectadora, usuária da linha PE-15/ Pau Amarelo. Além dos clássicos, Jessé também toca no improviso, feito no repente e no rap, estilo que inspirou a banda da adolescência, a OcubmanREP (Pernambuco escrito ao contrário).
A ópera (ou o rap)
A história de menino de Jessé de Paula Silva poderia ser contada numa ópera ou num rap. Uma ópera daquelas que mistura drama feliz e triste. Um rap daqueles fortes, que fala de família, de sociedade desigual, de preconceito, de improviso. "Meu pai saiu de casa quando eu tinha seis meses de idade. Quem me criou foi a minha avó", conta o instrumentista, nascido no Hospital Tricentenário de Olinda. Para acompanhar Dona Josefa, Jessé participava das celebrações na Igreja Batista da cidade. "Naquele tempo, os regentes eram gringos. E eu fica na salinha de culto infantil, tentando aprender alguma coisa, inclusive música. Então, meus primeiros registros musicais foram nesse ambiente", lembra.
Jessé ganhou de uma tia uma bolsa de estudos no Conservatório de Música de Olinda, Cemo. "Era mais como uma terapia, porque eu era muito agitado, muito treloso, em função dos problemas em casa", fala o rapaz. Mas ele deveria dar um retorno, digamos assim. Tinha que tirar notas azuis, estar presente em todas as aulas e mostrar dedicação. "Aos sete anos eu tive o primeiro contato com a música. Foi com uma flauta doce. Aprendi com o professor Arthur Jonhson pelo método Suzuki, que é voltado para crianças. Aos nove, quando eu já tinha dominado a flauta, via aquela túia de instrumentos diferentes e queria aprender mais", fala o rapaz. E a tia lhe deu outra chance: um violino.
"Eu chegava da rua e ia ao quarto estudar. Mesmo assim, meus avós se incomodavam com a altura do som. Minha mãe, por conta de um transtorno psicológico, às vezes ficava eufórica com a música. Aí, aos poucos eu fui ficando sem privacidade", conta Jessé. Os óculos, diz ele, usa para corrigir os 2,5 graus de hipermetropia. "De tanto eu ler à noite, usando somente a luz de vela, fiquei com esse problema", diz o instrumentista. Aos 17 anos, ele saiu da casa da avó. De lá para cá, morou sozinho, dividiu teto com amigos e companheira. "Agora, estou residindo numa espécie de pousada, no bairro de Santo Amaro". É um lar temporário, enquanto Jessé não chega mais perto dos sonhos.
Os sonhos
Jessé sonha muito. Sonha em gravar um CD com músicas dele. "Depois de um tempo estudando grande artistas, a gente pega o próprio jeito. E vai se identificando com um mundo de coisas. Mesmo tendo formação clássica, eu gosto muito dos ritmos da minha terra, como o xaxado e o baião. Uma das canções que fiz se chama Melodias Regionais. Eu toco ela no ônibus e as pessoas chegam a dançar", orgulha-se o instrumentista. O rock'n'roll também inspira Jessé e outro ideal dele. "Gosto de rock, mas preciso de um violino elétrico para tocar com mais potência. No dia que eu conseguir um, vou formar a banda que eu tanto sonho. Vou encontrar o meu canto, parar de viver como cigano", planeja. A banda será o canto, o meio de trabalho e, principalmente, a família de Jessé. Se ele vai também deixar o ônibus quando isso acontecer? "Irei tocar de vez em quando, para lembrar de quem me ajudou".
Segurança - Por medida de segurança, na plataforma, os usuários do metrô devem aguardar o desembarque em fila, antes de embarcar no trem. Não é permitido ultrapassar a faixa amarela antes de o trem abrir as portas. Ao toque da campanhia, o usuário não deve mais entrar nem sair do trem. Também é preciso ter cuidado para não ficar preso nas portas ou cair no vão entre o trem e a plataforma. A via é eletrificada e pode causar acidentes fatais
Entre as normas de segurança do metrô, é proibido:
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