EU ME CRIEI FOI COMENDO
FARINHA COM
RAPADURA
Eu colocava num
saco,
Rapadura com
farinha,
Era a refeição que
eu tinha,
Para não sentir-me
fraco,
Com fome, tirava um
taco,
Fazia aquela
mistura,
Saboreando a
doçura,
Um pedaço ia
roendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Eu me criei no sertão,
Nos trabalhos do
roçado,
Vivia tangendo
gado,
Plantando milho e
feijão,
Batata, arroz,
algodão,
Cuidando da
agricultura,
Depois da safra
madura,
A colheita ia
fazendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Enfrentei sol e calor,
Nos serviços de
roceiro,
Trabalhando o dia
inteiro,
Com coragem e com
vigor,
Ia até o sol se
pôr,
SEm ter medo da
quentura,
A pele ficava
escura
E as rugas no rosto
ardendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
No roçado ou na vazante,
Pra suportar o
rojão,
Se fazia rubacão,
Gostoso e
fortificante;
E aquele sol
causticante
Queimava toda
gordura,
Mas a reserva
segura,
Depois ia
abastecendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Saía de madrugada
De casa para o
serviço,
Atravessando
caniço,
Seguindo pela
estrada,
Cumpria toda a
jornada,
Pisando na pedra
dura,
Ia sentindo
amargura,
Pelo cansaço
estupendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Já estava acostumado
Naquela zona rural,
Com feijão d’água
no sal,
Deixando o caldo
adensado,
Com farinha
temperado,
Sem condimento e
verdura,
Que reduzia a
gastura,
Sem ficar me
maldizendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Sou nordestino guerreiro,
Destemido e
resistente,
Que trabalhou no
sol quente,
Sem entrar em
desespero.
Na sombra do
juazeiro,
Pra aliviar a
quentura,
Recebia a brisa
pura,
Foi assim que fui
vivendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Adulto, jovem e
menino,
Seguindo essa
tradição,
Nas quebradas do
sertão,
Enfrentaram o sol a
pino,
Eu também fui
tangerino,
Cultivando essa
ventura,
Cheio de força e
bravura,
Hoje fico
revivendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Eu usava um matulão
Resistente para a
luta,
Andava dentro de
gruta,
Na maior
disposição,
Se aparecia um
rasgão,
Na roupa, em
qualquer altura,
Mamãe fazia a
costura,
Completando com
remendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Cerca de pedra ou de vara,
Ou de arame
farpado,
Me deixava
calejado,
Recebendo o sol na
cara,
Ia até a noite
clara,
Pra tecer a
cobertura,
Reforçando a
estrutura,
Pra não ficar
destorcendo,
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
A gente fazia broca,
Coivara no
tabuleiro,
Deixava pronto o
aceiro,
Pra queima e depois
destoca;
Na mão formava
pipoca
De calos, com
assadura
Pelo corpo e
raladura,
Ficando dias
doendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Saía de manhãzinha,
Pra trabalhar numa
broca,
Com espingarda de
soca,
E um bisaco de
farinha,
Com rapadura
pretinha,
Que se fazia a
mistura,
E a cabaça na
cintura,
Com água pra ir
bebendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Todo homem nordestino,
Vindo do meio
rural,
Já conhece o
ritual,
Desde o tempo de
menino,
Trabalhou no sol a
pino,
Com raça e
desenvoltura,
Vivendo da
agricultura,
No rosto o suor
descendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Farinha é de mandioca,
Rapadura, vem da
cana,
De peojota ou
caiana,
Que dá na primeira
soca,
Cada feixe se
coloca,
Pra se extrair a
doçura,
Preservando a seiva
pura,
Quem provar, fica
querendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
A farinha tem
amido,
Rapadura, a
energia,
A mistura é
garantia,
Pra o homem ficar
nutrido,
Dinâmico e
fortalecido,
Cheio de
musculatura,
Mantendo a sua
postura,
No campo
desenvolvendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Mesmo tendo a casa cheia
De comida todo dia,
O camponês tem
mania
Do costume da
aldeia,
Completava a sua
ceia,
Do seu modo sem
censura,
Seja qualquer
criatura,
Do meu jeito ia
fazendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Me lembro como se fosse
Hoje naquela
vivenda,
Que na época da
moenda,
Se fazia alfenim
doce,
Mas tudo isso
acabou-se,
Me enveredei pra
leitura,
Consegui a
formatura,
Noutro curso fui
crescendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Hoje em dia é diferente
Em qualquer área
rural,
Não é tradicional,
Como foi
antigamente,
Lá trabalha pouca
gente,
Hoje é outra
conjuntura,
Porque aquela
cultura,
Está desaparecendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Tenho orgulho de dizer,
Que no sertão fui
criado,
trabalhando no
roçado,
Indo até o
anoitecer,
Pra ver a planta
crescer,
Em beleza e
formosura,
E a casa encher de
fartura
Da safra que ia
colhendo.
Eu me criei foi
comendo
Farinha com
rapadura.
Bebia mel e garapa,
Leite e suco de
caju,
De manga, cajá,
umbu,
E comia fubá e rapa
De queijo com soro
e papa,
Arroz doce e
tapioca,
Beiju, pamonha e
pipoca,
Bolo e filhós da
fritura,
Borra, nata e
rapadura
Farinha seca e
paçoca
José de Sousa Dantas

FARINHA COM RAPADURA
Eu colocava num saco,
Rapadura com farinha,
Era a refeição que eu tinha,
Para não sentir-me fraco,
Com fome, tirava um taco,
Fazia aquela mistura,
Saboreando a doçura,
Um pedaço ia roendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Nos trabalhos do roçado,
Vivia tangendo gado,
Plantando milho e feijão,
Batata, arroz, algodão,
Cuidando da agricultura,
Depois da safra madura,
A colheita ia fazendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Nos serviços de roceiro,
Trabalhando o dia inteiro,
Com coragem e com vigor,
Ia até o sol se pôr,
SEm ter medo da quentura,
A pele ficava escura
E as rugas no rosto ardendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Pra suportar o rojão,
Se fazia rubacão,
Gostoso e fortificante;
E aquele sol causticante
Queimava toda gordura,
Mas a reserva segura,
Depois ia abastecendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
De casa para o serviço,
Atravessando caniço,
Seguindo pela estrada,
Cumpria toda a jornada,
Pisando na pedra dura,
Ia sentindo amargura,
Pelo cansaço estupendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Naquela zona rural,
Com feijão d’água no sal,
Deixando o caldo adensado,
Com farinha temperado,
Sem condimento e verdura,
Que reduzia a gastura,
Sem ficar me maldizendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Destemido e resistente,
Que trabalhou no sol quente,
Sem entrar em desespero.
Na sombra do juazeiro,
Pra aliviar a quentura,
Recebia a brisa pura,
Foi assim que fui vivendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Nas quebradas do sertão,
Enfrentaram o sol a pino,
Eu também fui tangerino,
Cultivando essa ventura,
Cheio de força e bravura,
Hoje fico revivendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Resistente para a luta,
Andava dentro de gruta,
Na maior disposição,
Se aparecia um rasgão,
Na roupa, em qualquer altura,
Mamãe fazia a costura,
Completando com remendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Ou de arame farpado,
Me deixava calejado,
Recebendo o sol na cara,
Ia até a noite clara,
Pra tecer a cobertura,
Reforçando a estrutura,
Pra não ficar destorcendo,
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Coivara no tabuleiro,
Deixava pronto o aceiro,
Pra queima e depois destoca;
Na mão formava pipoca
De calos, com assadura
Pelo corpo e raladura,
Ficando dias doendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Pra trabalhar numa broca,
Com espingarda de soca,
E um bisaco de farinha,
Com rapadura pretinha,
Que se fazia a mistura,
E a cabaça na cintura,
Com água pra ir bebendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Vindo do meio rural,
Já conhece o ritual,
Desde o tempo de menino,
Trabalhou no sol a pino,
Com raça e desenvoltura,
Vivendo da agricultura,
No rosto o suor descendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Rapadura, vem da cana,
De peojota ou caiana,
Que dá na primeira soca,
Cada feixe se coloca,
Pra se extrair a doçura,
Preservando a seiva pura,
Quem provar, fica querendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
A mistura é garantia,
Pra o homem ficar nutrido,
Dinâmico e fortalecido,
Cheio de musculatura,
Mantendo a sua postura,
No campo desenvolvendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
De comida todo dia,
O camponês tem mania
Do costume da aldeia,
Completava a sua ceia,
Do seu modo sem censura,
Seja qualquer criatura,
Do meu jeito ia fazendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Hoje naquela vivenda,
Que na época da moenda,
Se fazia alfenim doce,
Mas tudo isso acabou-se,
Me enveredei pra leitura,
Consegui a formatura,
Noutro curso fui crescendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Em qualquer área rural,
Não é tradicional,
Como foi antigamente,
Lá trabalha pouca gente,
Hoje é outra conjuntura,
Porque aquela cultura,
Está desaparecendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Que no sertão fui criado,
trabalhando no roçado,
Indo até o anoitecer,
Pra ver a planta crescer,
Em beleza e formosura,
E a casa encher de fartura
Da safra que ia colhendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.
Leite e suco de caju,
De manga, cajá, umbu,
E comia fubá e rapa
De queijo com soro e papa,
Arroz doce e tapioca,
Beiju, pamonha e pipoca,
Bolo e filhós da fritura,
Borra, nata e rapadura
Farinha seca e paçoca
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