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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

domingo, 22 de junho de 2014

Poesia: "Eu me criei foi comendo farinha com rapadura", um mote glosado por José de Sousa Dantas


EU ME CRIEI FOI COMENDO
FARINHA COM RAPADURA

Eu colocava num saco,
Rapadura com farinha,
Era a refeição que eu tinha,
Para não sentir-me fraco,
Com fome, tirava um taco,
Fazia aquela mistura,
Saboreando a doçura,
Um pedaço ia roendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Eu me criei no sertão,
Nos trabalhos do roçado,
Vivia tangendo gado,
Plantando milho e feijão,
Batata, arroz, algodão,
Cuidando da agricultura,
Depois da safra madura,
A colheita ia fazendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Enfrentei sol e calor,
Nos serviços de roceiro,
Trabalhando o dia inteiro,
Com coragem e com vigor,
Ia até o sol se pôr,
SEm ter medo da quentura,
A pele ficava escura
E as rugas no rosto ardendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

No roçado ou na vazante,
Pra suportar o rojão,
Se fazia rubacão,
Gostoso e fortificante;
E aquele sol causticante
Queimava toda gordura,
Mas a reserva segura,
Depois ia abastecendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Saía de madrugada
De casa para o serviço,
Atravessando caniço,
Seguindo pela estrada,
Cumpria toda a jornada,
Pisando na pedra dura,
Ia sentindo amargura,
Pelo cansaço estupendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Já estava acostumado
Naquela zona rural,
Com feijão d’água no sal,
Deixando o caldo adensado,
Com farinha temperado,
Sem condimento e verdura,
Que reduzia a gastura,
Sem ficar me maldizendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Sou nordestino guerreiro,
Destemido e resistente,
Que trabalhou no sol quente,
Sem entrar em desespero.
Na sombra do juazeiro,
Pra aliviar a quentura,
Recebia a brisa pura,
Foi assim que fui vivendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Adulto, jovem e menino,
Seguindo essa tradição,
Nas quebradas do sertão,
Enfrentaram o sol a pino,
Eu também fui tangerino,
Cultivando essa ventura,
Cheio de força e bravura,
Hoje fico revivendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Eu usava um matulão
Resistente para a luta,
Andava dentro de gruta,
Na maior disposição,
Se aparecia um rasgão,
Na roupa, em qualquer altura,
Mamãe fazia a costura,
Completando com remendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Cerca de pedra ou de vara,
Ou de arame farpado,
Me deixava calejado,
Recebendo o sol na cara,
Ia até a noite clara,
Pra tecer a cobertura,
Reforçando a estrutura,
Pra não ficar destorcendo,
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.


A gente fazia broca,
Coivara no tabuleiro,
Deixava pronto o aceiro,
Pra queima e depois destoca;
Na mão formava pipoca
De calos, com assadura
Pelo corpo e raladura,
Ficando dias doendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Saía de manhãzinha,
Pra trabalhar numa broca,
Com espingarda de soca,
E um bisaco de farinha,
Com rapadura pretinha,
Que se fazia a mistura,
E a cabaça na cintura,
Com água pra ir bebendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Todo homem nordestino,
Vindo do meio rural,
Já conhece o ritual,
Desde o tempo de menino,
Trabalhou no sol a pino,
Com raça e desenvoltura,
Vivendo da agricultura,
No rosto o suor descendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Farinha é de mandioca,
Rapadura, vem da cana,
De peojota ou caiana,
Que dá na primeira soca,
Cada feixe se coloca,
Pra se extrair a doçura,
Preservando a seiva pura,
Quem provar, fica querendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

A farinha tem amido,
Rapadura, a energia,
A mistura é garantia,
Pra o homem ficar nutrido,
Dinâmico e fortalecido,
Cheio de musculatura,
Mantendo a sua postura,
No campo desenvolvendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Mesmo tendo a casa cheia
De comida todo dia,
O camponês tem mania
Do costume da aldeia,
Completava a sua ceia,
Do seu modo sem censura,
Seja qualquer criatura,
Do meu jeito ia fazendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Me lembro como se fosse
Hoje naquela vivenda,
Que na época da moenda,
Se fazia alfenim doce,
Mas tudo isso acabou-se,
Me enveredei pra leitura,
Consegui a formatura,
Noutro curso fui crescendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Hoje em dia é diferente
Em qualquer área rural,
Não é tradicional,
Como foi antigamente,
Lá trabalha pouca gente,
Hoje é outra conjuntura,
Porque aquela cultura,
Está desaparecendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Tenho orgulho de dizer,
Que no sertão fui criado,
trabalhando no roçado,
Indo até o anoitecer,
Pra ver a planta crescer,
Em beleza e formosura,
E a casa encher de fartura
Da safra que ia colhendo.
Eu me criei foi comendo
Farinha com rapadura.

Bebia mel e garapa,
Leite e suco de caju,
De manga, cajá, umbu,
E comia fubá e rapa
De queijo com soro e papa,
Arroz doce e tapioca,
Beiju, pamonha e pipoca,
Bolo e filhós da fritura,
Borra, nata e rapadura
Farinha seca e paçoca

José de Sousa Dantas  

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