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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Uma "véia" bem lôca » Zabé da Loca chega aos 90 anos como um patrimônio vivo da cultura do estado

Chico César dedicou versos a tocadora de pífano pernambucana criada em uma gruta
Zabé já não toca mais pífano, instrumento que lhe rendeu o título de revelação da música brasileira, em 2009. Foto: Teresa Maia/DP/D.A Press
Zabé já não toca mais pífano, instrumento que lhe rendeu o título de revelação da música brasileira, em 2009. Foto: Teresa Maia/DP/D.A Press

Monteiro (PB) - Aos 90 anos, Zabé da Loca passa o tempo vendo o tempo passar, da varanda da casa de alvenaria doada pelo Incra, à beira da estrada, onde mora há oito anos. Natural de Buíque (PE), vive desde a adolescência em Monteiro, no Cariri paraibano, onde foi “descoberta”, em 2003, pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário e pelo projeto Dom Helder Camara.

Sorridente, Zabé fala pouco. Josivane Caiano - percussionista, articuladora de cultura, vizinha e uma espécie de filha de consideração - diz que a moderação com as palavras vem do tempo do quase isolamento na loca onde Isabel Marques passou boa parte da vida e de onde saiu o apelido transformado em nome artístico. A gruta, ela já não visita há mais de um ano. O caminho de 200 metros da estrada até lá é serra acima, cheio de pedregulhos. Zabé também já não toca mais pífano, instrumento que a fez conhecida e que lhe rendeu o título de revelação da música brasileira, em 2009. Fumante desde os 7 anos, ela tem bronquite crônica e passou 22 dias internada no ano passado, tratando um enfisema pulmonar.

Mas o gosto pelas festas é o mesmo da juventude. No último aniversário, no começo do ano, foi dormir às 4h30. Quando relembra diz, rindo, que queria outra comemoração daquela. É nessas horas que a bem-humorada e ativa Zabé mais se parece com a adolescente que fugia de casa no meio da noite para dançar e tocar pífano e tudo quanto era instrumento de percussão no meio das festas, em meio aos homens, sem dar ouvidos a comentários machistas.

Josivane é filha, mãe, amiga e registro oral da memória de Zabé. Conta que nem a barriga grande da primeira gestação fez a menina, ainda Isabel, ficar longe dos festejos. “Para onde ela ia, levava o pífano. Naquela época, Zabé entrava na festa tocando e dançando. As bandas eram só de homens, imagina o que significava isso”, observa.

Na região, machismo é palavra que enraíza entre pedras, igual à vegetação local. Zabé não tinha muito mais que 16 anos quando engravidou pela primeira vez. “O fazendeiro que deu uma terrinha para o pai dela morar dentro das terras dele se engraçou dela e a engravidou. A mulher do fazendeiro a expulsou e o pai dela, pra não perder a casa e tudo mais, colocou-a para fora.
Ela veio para Santa Catarina (distrito de Monteiro), onde trabalhou nas terras de Manoel Soares, limpando o mato, plantando feijão, colhendo algodão… Foi aí que ela, que aprendeu a tocar pífano com o irmão aos 7 anos, conheceu um baiano, tocador de pífano, realejo e outros instrumentos de sopro e percussão”, conta Josivane.

Zabé casou com Delmiro e foi morar numa casinha de taipa. Delmiro morreu, a casa começou a ruir e Zabé decidiu morar na loca. A gruta formada por duas grandes pedras foi fechada por paredes de taipa que ela construiu. Ali, criou dois filhos e um sobrinho. A filha, fruto da primeira gestação, foi doada a uma família que foi morar em Brasília. Ela já tinha quase 70 anos quando conheceu a mãe. Morreu há dois com complicações cardíacas.

Na loca onde morou - Zabé conta que foram 25 anos, mas Josivane acha pouco provável e diz que pode ter sido muito mais, perto de 50 -, Isabel dormia em uma cama feita com finos pedaços de madeira postos lado a lado. Hoje, vive em uma casa de dois quartos, dorme em uma cama com colchão de espuma, ao lado de um pequeno santuário, onde guarda as imagens de São José e de Padre Cícero. Tem TV a cabo, mas não assiste. No quarto de hóspede, os filhos de Josivane se revezam para não deixar Zabé sozinha à noite - é só um cuidado, mas ela nem liga. Nas paredes, títulos  e o cartaz do documentário O mundo encantado de Zabé da Loca, patrocinado pela Petrobras. Recebe três salários mínimos e é conhecida na região como mulher abastada. Parte da renda é investida por Josivane em um novo projeto social (o primeiro durou quatro anos), que ensina música, dança, poesia e teatro às crianças da região. É o Projeto Zabé da Loca. Uma forma de perpetuar a arte da Isabel do Cariri e de manter firmes os laços do povo do semiárido paraibano com a cultura local.

Gruta foi fechada por paredes de taipa que a própria Zabé construiu. Foto: Teresa Maia/DP/D.A PressHistória
Do engano…
O primeiro registro sonoro de Zabé foi feito em 1997, quando ela tinha 73 anos. Era a primeira formação da banda, com Livino no prato, Beiçola e Zabé no pífano, Setenta na caixa e Pinto na zabumba - Josivane, que toca prato, fez parte da sexta formação, que tocou em Olinda no ano passado. “Veio um pessoal aqui e gravou o CD Idade da Pedra. Mas ela nunca recebeu nada por isso. Disseram que não tinham conseguido fazer o CD, mas depois soubemos que o disco existia”, diz Josivane.

…ao encanto
Em dezembro de 2003, o Ministério de Desenvolvimento Agrário gravou, em parceria com o projeto Dom Helder Camara e com a produção da Fundação Quinteto Violado, o primeiro trabalho público de Zabé. O segundo foi gravado em 2008, no Recife.

Música
O compositor e conterrâneo Chico César dedicou a Zabé os seguintes versos:

“Dona Zabé da Loca
é uma véia bem lôca
que toca pife muderno
numa caverna do sertão
Dizem que é mesmo que tá vendo Jimi Hendrix
que aparece assim como se fosse a estrela fênix
(...)
Diz que é altos empenos
que tem perfume e veneno
no piado que pia a loca”

(Música Zabé)

Discografia
CD Bom todo (2008)
Crioula Record, R$ 24,90
CD Zabé da Loca (2003) - MDA

Juliana Colares - Diário de Pernambuco

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