Dono de uma voz singular e de um conhecimento profundo sobre a sétima arte, José Wilker surpreendeu a todos neste sábado, dia 5 de abril de 2014, e vai embora sem se despedir. A suspeita da causa da morte foi um infarto fulminante. Ele estava na casa da namorada, a jornalista Claudia Montenegro, no Rio de Janeiro. Deixa três filhas.
Ativo e intenso, nós, seus espectadores, do teatro, do cinema ou das novelas, mal conseguimos tirar da memória o bordão, “deite que eu vou lhe usar”, repetido pelo coronel Jesuíno no remake da minissérie Gabriela (de Jorge Amado).
São várias as lembranças dos personagens vividos na pele do cearense José Wilker que chegou ao Recife aos 13 anos e aqui fez amizades que cultivou até o dia de hoje, como Arlete Sales, para citar só um exemplo.
O que dizer de Roque Santeiro, que voltava para pertubar a viúva Porcina? E o ex-bicheiro Giovanni, de Senhora do Destino, com suas frases “felomenais”? Me arrisco repetir as palavras do coronel Belarmino, em Renascer, e dizer que todo reconhecimento a ele é “justo, muito justo, justíssimo”. Era fácil seus bordões caírem na boca do povo. Isso se chama sintonia com o público. Este último, então, foi criado por ele com o aval de Benedito Ruy Barbosa.
Foram 29 novelas. O sucesso do programa “Sai de Baixo” tinha seu dedo também, era o diretor e apesar da cara sisuda, esbanjava humor. Um artista completo. Fez mais de 69 filmes e não escondia de ninguém seu amor pelas telonas. Quando aparecia como comentarista do Oscar chamava a atenção com as cores dos óculos.
Seu último papel, Dr. Hebert, foi na trama de Walcyr Carrasco, em Amor à Vida. O personagem era pequeno para o seu tamanho. Especulavam que ele pediria para sair da novela, mas o profissionalismo não o deixou e ele, até o fim, deu sua contribuição, abrilhantando o elenco ao lado de Eliane Giardini, CarolinaCastin e Bárbara Paz, com quem fez par romântico, e contracenando com Antônio Fagundes, Ari Fontoura e Mateus Solano.Hoje, não tem como não pensar que a arte cênica ficou “mais pobre”, como declarou, por meio do Twitter, Aguinaldo Silva que o conhecia desde 1961 quando dividia com Wilker o Recife. Ficam eternizados os personagens, as ovelas, os bordões, o sorriso largo. Mas acima de tudo, fica guardado namemória o jeito autêntito de ser e a capacidade de incorporar os papéis que lhe propunham.
Diário de Pernambuco
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