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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Cinema: Entrevista » Filme do pernambucano Marcelo Gomes é exibido no Festival de Berlim

O Homem das Multidões é projetado pela primeira vez neste sábado na capital alemã
Imagens do filme são quadradas, com bordas arredondadas. Fotos: Rec Produtores/ Divulgação
Imagens do filme são quadradas, com bordas arredondadas. Fotos: Rec Produtores/ Divulgação

Juvenal é um maquinista que conduz milhares de pessoas de trem todos os dias, mas nunca interage diretamente com elas. Margot é cheia de amigos na internet e vai casar com um deles, mas vive sozinha com sua família. O encontro entre essas duas figuras solitárias é um dos trilhos percorridos pelo filme O homem das multidões, filmado em Belo Horizonte, dirigido pelo pernambucano Marcelo Gomes (Cinema, aspirinas e urubus) em dupla com o mineiro Cao Guimarães (Andarilho). Os atores Paulo André (do Grupo Galpão) e Sílvia Lourenço interpretam os protagonistas do longa-metragem, que é exibido neste sábado no Festival de Berlim. Uma das principais peculiaridades do filme é o formato da tela, simetricamente quadrada. O penúltimo trabalho de Marcelo Gomes foi Viajo porque preciso, volto porque te amo(selecionado para o Festival de Veneza), codirigido com o cearense Karim Aïnouz, que também está em Berlim com seu novo longa, Praia do Futuro (com Wagner Moura e Jesuíta Barbosa no elenco). O último foiEra uma vez eu, Verônica, que venceu o Festival de Brasília e estreia na França na próxima quarta.


Horas antes de embarcar para a Alemanha, o cineasta cedeu entrevista para o Diario sobre O homem das multidões, que entra em cartaz no Brasil no dia 2 de maio. Com a participação no Festival de Berlim neste sábado, Marcelo Gomes torna-se o único diretor pernambucano que conseguiu ter longas-metragens selecionados para os três principais festivais do mundo: Cannes (Cinema, aspirinas e urubus, 2005), Veneza (Viajo porque preciso, volto porque te amo, 2009) e Berlim (O homem das multidões, 2014).

 (Rec Produtores/ Divulgação)

ENTREVISTA // MARCELO GOMES


É verdade que O homem das multidões foi escrito em Berlim? Você acha que o cotidiano dessa cidade interferiu nas situações vividas pelos personagens?

Parte do roteiro foi escrita em Berlim. Eu ganhei uma bolsa de residência artística para passar um ano em Berlim, do DAAD (Deutscher Akademischer Austausch Dienst), e convidei o Cao Guimarães para passar dois meses em Berlim trabalhando comigo. Então posso dizer que o primeiro tratamento do roteiro foi escrito em Berlim. É uma cidade grande e, como toda cidade grande, tem seus solitários, anônimos, nas ruas. Mas, depois que a gente veio pro Brasil, o filme tomou um espírito bem brasileiro, sobre a solidão nas cidades grandes brasileiras, que são barulhentas, ruidosas. Não é aquela Berlim silenciosa, com grandes espaços verdes. Mas o filme tem um estilo muito universal e pode se passar em qualquer lugar do mundo.

Como não havia trens no conto original de Edgar Allan Poe, essa inclusão pode ter sido uma influência de Berlim?
O conto original foi mais um desencadeador de tudo. Os trens talvez tenham vindo mesmo da influência de Berlim, pois todo dia a gente andava de trem. O trem é muito presente em Berlim. Por ser um maquinista, ele leva a multidão. É um cara que manipula a multidão de um lugar para outro. Ele vê a mulstidão entrar e sair do vagão mas não interage com ela. Esse olhar dele pela janela, esse formato da janela do trem, deu a ideia do formato escolhido para contar essa história.

Em que lugar da cidade o filme será exibido neste sábado no festival?
Neste sábado, o filme passa pela primeira vez em um cinema chamado Kino International, que era o grande cinema da Berlim Oriental, das grandes estreias dos filmes do Leste Europeu. No dia 10, vai ser a sessão de gala, com a equipe. Diferente do Festival de Cannes, o de Berlim é um festival de público. É o maior festival de público do mundo. Cannes é maior que Berlim, mas é só para as pessoas ligadas a cinema, para a indústria, não existe venda de ingressos.

Depois de fazer esse experimento com a tela quadrada, você conseguirá voltar para o formato retangular convencional em seus próximos filmes?
É impressionante como os realizadores de cinema do mundo não usam a janela como linguagem. É raro você ver isso acontecer. Os artistas plásticos fazem muito isso, mas o cinema contemporâneo dificilmente usam outras janelas que não sejam os formatos clássicos. Quando resolvemos fazer o filme, queríamos que nossos personagens sentissem um sentimento de claustrofobia o tempo todo. Foram os personagens que nos pediram esse tipo de janela, uma janela claustrofóbica. Juvenal vive uma solidão analógica e Margot vive uma solidão virtual. Aquele quadrado é o quadrado da Polaroide e também é o quadrado do Isntagram, assim como é tambéma janela do trem, que é por onde Juvenal vê o mundo passar. Não escolhemos essa janela para fazer uma chinfra ou uma bossa. Não. Aquele tipo de janela foi uma necessidade dramatúrgica do filme. Se houver outro filme onde a necessidade dramatúrgica for uma janela triabular, oval ou gigantesca, então tá tudo certo. A gente vai por aí. O bacana é usar a janela do filme como linguagem.

Juvenal é triste? Você concorda com o poeta que diz "triste é viver na solidão"?
Ele é ansioso, é tímido, mas é muito consciente do estado de solidão dele. O triste se aproximaria do depressivo, mas ele não. Ele faz ginástica todos os dias, caminha pelas ruas. Não é um deprimido ou um melancólico. Ele pode ter uma tristeza intrínseca porque ele não consegue transgredir aquele estado de timidez, mas eu acho que ele está bem no mundo dele. Agora, de uma forma ou de outra, como todos nós, os dois personagens querem algo melhor para a vida deles, sair de um estado para chegar a outro, mas não quer dizer que a única razão de uma vida melhor seja uma companhia.

Você acha que os sentimentos de solidão dos personagens são um fenômeno contemporâneo das grandes cidades ou é algo mais universal? Isso existia no texto original?
O homem das multidões é o primeiro conto da literatura universal a abordar a solidão nas grandes cidades. É um conto pequeno. É meio patológico, o personagem segue aquela multidão porque não consegue ficar só, diferente do flâneur do Baudelaire, que é aquele homem que caminha e adora estar na multidão. O que a gente queria era contemporaneizar essas questões, trazer para o mundo atual. Então a gente resolveu construir esse personagem, Juvenal. Ele não conseguia se relacionar com as pessoas por um profundo estado de timidez, mas incomodava a ele o fato de ficar sozinho. Agora, ele vivia, de uma certa forma, de bem com ele mesmo. Mas ele não vivia angustiado ou triste neste estado. Pra atualizar essa questão, a gente construiu o personagem da Margot, que vive a solidão das redes sociais. É aquela doce ilusão de que você está cercado de pessoas, mas você não está cercado de ninguém. É um grande simulacro do execício da sociabilidade. Não existe o corpo, a matéria, nessas sociabilizações. O que existe são mediações tecnológicas.

A solidão também seria um dos temas principais de seus filmes anteriores, Cinema, aspirina e urubusViajo porque preciso, volto porque te amo e Era uma vez eu, Verônica?
É, todos eles são extremamente solitários. São personagens que, de uma forma ou de outra, estão em busca de alguma coisa que eles nem sabem direito o que é. O bacana da Margot e do Juvenal é que existe ali um projeto de encontro.

Há uma separação clara entre cenas dirigidas por você e por Cao Guimarães?
A gente tem um gosto cinematográfico muitíssimo parecido em quase 99% dos filmes que a gente assiste. Isso foi fundamental para uma simbiose e uma organicidade muito grande. A gente trabalhava em tudo juntos, na preparação dos atores, na direção, na concepção, na ideia, na fotografia. Aí fica para vocês, críticos, decidirem onde é que tem muita caosice e muita marcelice. O Cao, por exemplo, nunca trabalhou com figurantes e em várias cenas dirigiu uma figuração muito grande. Por outro lado, eu tinha ideias de planos muito plásticos, pictóricos, sem a participação dos atores. O trabalho de um influenciou o outro e vice-e-versa, essa é a magia do trabalho.

Como ocorreu a escolha da música de Gilberto Gil para a cena final? Ela já estava prevista nas filmagens ou surgiu na montagem?
Surgiu no roteiro. A gente estava escrevendo o roteiro, o Cao estava ouvindo essa música, aí me pediu pra ouvir. O Gil fez a síntese da nossa história. Quando o filme estrear no Brasil, em maio, vou convidar o Gil pra assistir.


Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

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