Autor lançará sua primeira obra ficcional,
com ilustrações feitas por ele mesmo, durante o festival A Letra e a Voz, no
dia 22 de agosto
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João Câmara fez um "conto ilustrado", nas suas palavras, sobre a velhice
Andréa Rêgo Barros/PCR
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O pintor
João Câmara, aos 69 anos, mal se acomoda na cadeira antes de confessar: todo
mundo tem um romance secando dentro de si. A frase não espanta quem acompanha o
artista paraibano radicado em Pernambuco há muito tempo, sem dúvida um dos mais
fortemente ligados à literatura – Câmara, além de produzir ensaios e até mesmo
uma espécie de autobiografia artística, já criou diversos quadros baseados em
Proust, Joyce, Balzac e Melville. O romance que está preso dentro do pintor
ainda não veio, mas a sua primeira investida fora do campos das artes plásticas
será mostrada ao público agora.
Trata-se
do conto ilustrado Abishag, hóspede inevitável,
volume com 48 páginas que Câmara vai lançar no dia 22 deste mês na programação
do festival A Letra e a Voz, no Museu Murillo La Greca. A obra, originalmente,
era apenas um texto curto de duas páginas, criado a partir de uma dura
inspiração da vida: a velhice.
Na
narrativa, um pintor, representado como o próprio Câmara, recebe uma visita
indesejada, uma moça que vem sem anunciar para ocupar sua casa e seu tempo. As
ilustrações sugerem mulheres sensuais e um tom erótico à trama, mas, se há algo
erótico na novidade, existe também uma desconfiança: a sensualidade é sempre
misteriosa e, portanto, perigosa.
Essa trama principal, acrescida
de ilustrações, foi ampliada ainda por comentários do próprio Câmara sobre o
que é narrado, em temas como a velhice, a inveja e os sonhos a partir de nome
que vão de Dante e Shakespeare a Joyce, Kafka e Zizek. As duas páginas ganharam
24 ilustrações, que, por fim, se juntaram ao texto adicional para formar um
livro híbrido, entre comentário, narrativa e desenhos digitais. Tanto que, na
sua própria abertura, a obra propõe diferentes possibilidades: “O leitor poderá
ignorar o texto em letras menores, poderá deixá-lo para depois ou cair nele
para safar-se da correnteza ligeira, vagando e divagando com o autor por um
pouco mais de tempo”.
“O livro estava pronto há muito tempo e foi publicado em 2012,
mas desde então esperava um lançamento”, conta Câmara. “Ele tem uma relação com
o momento atual, com a internet, na mistura de vários textos e leituras com
imagens. Para essa sensibilidade moderna, essa mistura não é uma novidade”.
Para o pintor, no entanto, é melhor classificar o volume como um experimento
despretensioso, “uma anedota” – ainda que isso pareça uma simplificação da
força do conto.
Diogo Guedes
Jornal do Commercio
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