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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

sábado, 13 de julho de 2013

Poesia: Poeta Gilmar Leite e Alexandre Gurgel >> Vale a pena ler

TEXTO DE ALEXANDRE GURGEL SOB A ÓTICA DO MEU POEMA DEDICADO A POETISA SEVERINA BRANCA.

A poesia laudatória nordestina nos versos de Gilmar Leite, sob a luz do Romantismo.

Por Alexandre Gurgel

Mesmo fazendo versos sem ciência do termo “laudatório”, alguns poetas nordestinos cantam exaltando a vida, por vezes sofrida, de personagens do cotidiano sertanejo, como se a literatura já fosse inerente n’alma do vate. O poeta Gilmar Leite, natural do sertão de São José do Egito, cidadezinha pernambucana às margens do Rio Pajeú, em seus versos, canta uma louvação a uma prostituta que viveu na cidade nos idos de 70, chamada Severina Branca. No tempo em que as meretrizes eram muito pobres ou de pouca beleza, vendendo o corpo para alimentar seus filhos, muitas vezes de pais que não assumiam a paternidade, e sem o amparo dos órgãos governamentais, Severina Branca foi a pioneira naquele recanto sertanejo de pouca fartura.

Na voz de Severina Branca, o poeta Gilmar Leite decanta a alma romântica do “eu oprimido”, esmagada pela solidão e pela brutalidade do mundo. Uma espessa melancolia se apossa dos seus versos, e por todos os lados vê-se o lado sombrio e inútil da existência. Ao sentir que os seus vínculos com o mundo foram rompidos, o poeta apega-se no próprio “eu”. Um “eu” incômodo, estranho, que ameaça ora com o caos, ora com o êxtase, ao mesmo tempo, um “eu” angustiado, incapaz de transformar o mundo. O poeta utiliza aspectos da literatura romântica com gritos de subjetividades que confessam seus medos e sofrimentos. 


Gilmar Leite verseja a inconformidade do artista romântico com o “mundo cruel” com uma série de procedimentos de fuga, dando voz à Severina Branca, cujo silêncio da noite é a única testemunha daquela vida de muitos pecados. Já que a sociedade não quer escutá-la ou não sabe compreendê-la, já que ela está perdida numa realidade incômoda e brutal, já que sua sensibilidade não possui força para mudar o destino, resta-lhe apenas a tentativa de escapar dessa noite silenciosa, abrindo seu coração para as amarguras da vida. 

Uma das características românticas é o “mal do século”, uma “enfermidade moral” e não física. Resulta do tédio (“ennui”, “spleen”), mas não do tédio comum (aborrecimento diante da chatice da vida). A concepção romântica aponta para um aborrecimento desolado e cínico, que ressalta tanto a falta de grandeza da existência cotidiana quanto o vazio dos corações sem esperanças. Estes acreditam ter vivido todas as paixões e ter experimentado todos os abismos. Severina Branca cria uma espécie de sentimento mórbido de insatisfação da vida e de manso desespero, com a alma machucada de torturas. Algo próximo à sensação de absurdo da vida, quando Severina roga a Deus para que sua vida seja levada, terminada aquele sofrimento agourado por aves estrigiformes de hábitos noturnos.

Em contraponto ao presente insatisfatório, o poeta encontra elementos românticos, constantemente no passado, com versos sublimes, delineando intelectualmente seus valores. Esta condição de mito, onde Severina Branca é ovacionada, obedece a uma tendência de fuga da realidade, pois, de acordo com os ideais românticos, tanto o mundo medieval como o mundo infantil representa o paraíso perdido, uma época de ouro na qual as criaturas seriam felizes. Pela nostalgia de um tempo que os artistas do Romantismo desconheciam - caso do passado histórico - nega-se o presente, hostil e causador de sofrimentos, conforme podemos ver na narrativa do poeta Gilmar Leite.

Na poesia romântica brasileira, há grande variedade métrica, de ritmos e de rimas, indicando a liberdade de composição que os autores experimentam. Gilmar leite começa a cantar as desventuras de Severina Branca usando um dístico, glosado e rimado em versos decassílabos. O poeta faz uso intenso de adjetivos, em função de sua força expressiva e de seu poder de qualificar uma numerosa gama de sentimentos expressos no peito de Severina. Os adjetivos, segundo os românticos, ampliam ao máximo a conotação emotiva das palavras, fixando tonalidades e nuanças da natureza e das paixões humanas.

A saudação aos heróis Dante e Virgílio, criando um vínculo divino entre o poeta e o legado dos antigos aedos, serve como guia para contar a história daquela mulher mitológica, que amargou as horas do ocaso, flamejadas nas manhãs do sertão de Pernambuco. Ao longo do poema, Gilmar Leite usa uma linguagem romântica, deixando a impressão de nobreza naquele sofrimento sem fim e dando ênfase declamatória à Severina Branca, através de metáforas, hipérboles, alegorias e outras figuras. De alguma maneira, o lirismo desse poeta pernambucano alcançou o grau laudatório dos grandes poetas românticos, conduzindo seus versos para o encantamento, revelado na voz de Severina Branca.

Observação de Gilmar Leite: O mote abaixo, que é o titulo do poema, foi feito pela poetisa/meretriz Severina Branca. Ele foi dado na década de 70, quando então cantavam versos de improviso em São José do Egito, na barbearia de Zé Rocha, os poetas repentistas Job Patriota e Zé Catota (ambos felecidos). Já descambando pra meia noite, a poetisa perambulando pelas ruas da cidade chega ao recinto da cantoria e fica assistindo aos vates em noite de inspiração. No momento do silêncio das violas, enquanto os cantadores tomavam um aperitivo, alguém presente na cantoria sugeriu que a poetisa desse um mote para os bardos improvisarem. A poetisa/meretriz na sua angústia e dor disse o mote abaixo, que por si só é um poema. Os cantadores improvisaram; só que os versos se perderam entre as paredes daquela madrugada dos idos anos 70, sem haver nenhum registro do que foi feito sobre o mote da poetisa/meretriz. Ela depois fez alguns, que infelizmente se perderam na oralidade; outros poetas também fizeram, abordando o tema. Eu nunca imaginei fazer um dia, pois pensava que o assunto já tinha se esgotado. Mas certa noite, eu fui tomado pela inspiração e fiz os decassílabos abaixo sobre o mote de Severina Branca. Hoje, Severina Branca reside num povoado distrito de São José do Egito chamado “Mundo Novo”. Nos dias de feira (sábado), antes dos primeiros goles de álcool a poetisa/meretriz ainda consegue dizer alguns versos de sua autoria

O silencio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras

Mergulhei nos abismos infernais
Que nem Dante deu passos com Virgilio
Na procura de achar algum auxílio
Eu sofri nos subúrbios marginais.
Vi o ocaso nas horas matinais
Entre os braços de estranhas criaturas
Os contatos fortuitos às escuras
Ecoavam com um sopro dum gemido
“O silêncio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras”.

Troquei beijos com bocas amargosas
Sob as luzes de um velho candeeiro
E dos corpos senti estranho cheiro
Entre as sombras de noites vaporosas.
Hoje as marcas das dores horrorosas
São sinais dos momentos de loucuras
Machucando minh'alma com torturas
E deixando o meu ser enlouquecido
“O silencio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras”.

Inda sinto o tremor da mão suja
Afagando o meu corpo pecador
Ao invés do prazer sentia dor
E no peito uma voz dizendo fuja.
Entre as brechas das telhas a coruja
Agourava as minhas desventuras
Eu gritava pra Deus lá nas alturas
Leve logo este ser que é tão sofrido
“O silencio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras”.

Muitos homens chegavam embriagados
Dando chutes na porta como loucos
Os gentis para mim foram tão poucos
Eram seres tristonhos, reservados.
Eu perdi a noção dos meus pecados
A miséria causa-me tonturas
Numa vida com facas de agruras
Que cortavam meu peito ressequido
“O silencio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras”.

Sobre a cama meu corpo se tremia
De fraqueza, de fome e de sede;
Noutro canto a filhinha numa rede
Quem olhasse pensava que dormia.
Pois a fome causava-lhe agonia
Lhe roubando fagulhas de venturas
Eram cenas cruéis de vidas duras
Condenadas num mundo corrompido
“O silencio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras”.

Hoje eu vivo jogada ao relento
Sem um teto sequer para dormir
O passado, o presente e o porvir,
Me jogaram no duro calçamento
Condenada no frio isolamento
O meu corpo só tem as ossaturas
Pra os insetos fazerem aventuras
Ferroando o que já foi consumido
“O silencio da noite é quem tem sido
Testemunha das minhas amarguras”.

Fonte: Facebook Gilmar Leite
          Pajeú da Gente

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