
O sentimento é demonstrado na forma carinhosa com que se refere à cidade natal, afirmando que "o Rio Salgado nos deu de beber", enfatiza, ao defender
Afeto semelhante é possível perceber em relação ao "Rei do Baião", materializado no trabalho "Concerto para Gonzaga", projeto que reúne a música de Luiz Gonzaga com a Orquestra Criança Cidadã, sob a regência do maestro italiano Vittorio Ceccanti. Idealizado por Alcymar Monteiro, que teve oportunidade de gravar três vezes com o "Velho Lua", o artista canta acompanhado pelas 75 crianças que integram o projeto social, realizado no bairro do Coque, um dos mais carentes de Recife. O projeto levou dois anos para ser concretizado, explica Alcymar Monteiro, completando que a gravação teve como cenário o Teatro Guararapes.
A paixão pela música vem de família. Neto de violeiro e sobrinho de sanfoneiro, Alcymar Monteiro começou a cantar aos cinco anos de idade. Mas a música era apenas uma das maneiras que o cantor encontrou para se aproximar da arte, enveredando depois pelo teatro, música, fazendo o curso de Letras. No entanto, a arte musical tocou mais o artista, principalmente, após conhecer, em Recife, Luiz Gonzaga, levando para o mestre ouvir o disco "Ave de arribação".
Era o início de uma amizade, resultando em gravações, tornando-se compadre. Alcymar Monteiro lembra do encontro.
Em tom direto e seco, Luiz Gonzaga perguntou o que o cantor queria com a música. "Você quer se aproveitar ou fazer música?", conta. Como a resposta do jovem artista veio de imediato, o "Rei do Baião" se convenceu de que sua intenção era das melhores para com a música. O temor do oportunismo que Luiz Gonzaga tanto temia, em relação ao forró, ritmo que mistura aboio, cantoria, baião, xote, samba e coco, é sentido, hoje, por Alcymar Monteiro, que defende o "autêntico forró", que não dispensa o zabumba, o triângulo e a sanfona. "O forró se tornou urbano e ganhou uma nova dimensão", observa o artista, que se orgulha de ter passado por diversas fases da evolução
Fala com prazer de ter suas músicas gravadas por cantores como Luiz Gonzaga, Fagner, Alceu Valença, Dominguinhos, Sivuca, Jair Rodrigues, Zé Ramalho e Elba Ramalho.
Ao longo das três décadas de carreira, o artista contabiliza 86 trabalhos, dos quais 80% são de sua autoria, afirmando sempre trilhar pelos caminhos e veredas daquilo que chama de "autêntico forró". O cantor começou sua carreira nos anos 1970, no programa de calouros do apresentador da extinta TV Ceará, Augusto Borges, em Fortaleza. Esclarece que o forró tem raízes no samba, sendo na sua opinião uma síntese da miscigenação do povo brasileiro com influências ibérica, negra e indígena. No entanto, destaca a porção afro do ritmo e reitera: "O forró é uma música negra", diz, justificando os seus criadores, no Nordeste, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro serem negros.
Alcymar Monteiro fala sobre sua saída de Ingazeiras, terra do artista plástico Aldemir Martins, de quem fala com carinho. "Ele nunca voltou a Ingazeiras", lembra, diferentemente de Alcymar Monteiro que mantém contato com a sua terra natal. "Sempre volto lá. A cidade conserva a sua brejeirice e os meninos ainda brincam de esconde-esconde", ri, enquanto fala sobre a importância do pertencimento. Aliás, o artista sentiu na pele essas questões, à primeira vista, subjetivas, mas que se tornaram reais em alguns discursos que ouviu, durante o tempo em que viveu em São Paulo, de 1975 a 1985.
Conforme o artista, foi inevitável o convívio com essas diferenças: "Foi bom porque São Paulo é uma máquina que destrói realidades de frente", destaca. Conta que, certa vez, em uma gravadora, ouviu que sua voz "tinha um sotaque muito nordestinado", conta, acrescentando que foi quando descobriu que "a autenticidade é a maior bandeira do artista, seu maior legado. Foi quando viu também que estava no rumo certo.
Considera-se um dos representantes do "forró brasileiro", sua música já cruzou o Atlântico, realizando shows no Festival de Montreaux, Suíça, em 2001, gravou disco em espanhol e em 2005 concorreu ao Grammy Latino.
O primeiro DVD foi gravado em 2006. Alcymar Monteiro fez parte da chamada geração "Pessoal do Ceará" que assim como Fagner, Ednardo e Belchior teve de virar "ave de arribação", migrando para São Paulo. Nos dias atuais, o artista não precisa mais sair para tentar a carreira no eixo Rio-São Paulo. A desvantagem dessa nova realidade, na sua opinião, é a falta de um controle de qualidade, justificando ter ficado fácil gravar. Naquela época, era preciso o crivo do diretor artístico de uma gravadora.
Mais informações
Lançamento do "pocket" Concerto para Gonzaga (CD/DVD), do cantor Alcymar Monteiro, que canta acompanhado pela Orquestra Criança Cidadã músicas de Luiz Gonzaga, produzido pela Ingazeira Discos. R$ 30,00
IRACEMA SALES
REPÓRTER - Diário do Nordeste
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