Texto:
Paulo Passos
O TEMPO
O tempo, meus amigos, é um ladrão
Que rouba a juventude e a fantasia,
Que tira, dos fulgores, a alegria
E só devolve dor e solidão.
Invade nossas vidas, qual tufão
Varrendo o que restou da utopia,
Deixando marcas de melancolia
Nas cordas de um sofrido coração.
Porem, a mente humana, estranha nave,
Que nem o tempo vil pode invadir,
Viaja em pensamentos, segue o rumo,
Porque a esperança é uma ave
Que se empoleira n’alma, e faz surgir
Caminhos novos, mesmo que sem prumo
*MARTELOS AGALOPADOS
Mata rude, poema vislumbrante,
Que
expõe o teor da natureza,
Serra,
monte, a chapada, que beleza!
As
braúnas soberbas, sol gigante.
A
planície de cor tão cintilante,
Muitas
feras que o solo atravessaram;
“Os
caciques nas lutas que ganharam”,
Muitos
casos repletos de memórias;
São
poemas gravados nas histórias,
Que
os tempos cruéis também levaram.
Madrugada de um dia encantador,
Em
que a terra tranquila ainda dormia,
Nevoeiro
no bosque, que escondia
O
clarão divinal com esplendor.
Na
cortina da tarde, ao sol se por,
As
estrelas no céu, sutis piscavam;
Quando
as flores no prado namoravam,
Pela
mata, chorava uma acauã;
Onde
“os véus da tristeza da manhã”
Prantos,
dores na terra, derramavam.
Cada
verso ou estrofe de Cancão
Nos
remete ao poder da sinfonia,
Suas
rimas traduzem uma magia
Ao
falar das belezas do sertão.
Nos
mostrou, na sutil vegetação,
A
destreza dos pássaros pequeninos,
Que
fugiam dos golpes tão ferinos
De
outra ave que voa sobre a serra,
Retratando
nas “tardes dessa terra,
Gaviões
de punhais tão assassinos”.
Cancão
viu borboletas tão bonitas
Pelas
rosas molhadas de orvalho,
Sabiás
solfejando em algum galho,
Andorinhas
cismadas, esquisitas.
Viu
nas relvas, as garças bem aflitas,
Rouxinóis
pelas palhas dos coqueiros;
Viu
nos lagos, os densos nevoeiros
Escondendo
segredos pela mata,
Escutou
a sinfônica da cascata,
Nas braúnas, “canções madrugadeiros”.
Sua
verve, poeta, é alegria,
Ao
falar de uma rosa lá do mato
Que
continha um murmúrio muito grato,
Como
a água da fonte da poesia.
Com
afagos da brisa calma e fria,
Cancão
viu o arco-íris na amplidão;
O
aroma da rosa sobre o chão,
Liberava
um orvalho divinal,
Qual
rainha fiel do matagal,
Enfeitava
essa flora do sertão.
Que
beleza, Cancão, O bananal
Majestoso,
sadio, verde e bonito,
Onde
abelhas de um bosque esquisito,
Procuravam
sugar mel magistral!
E
colhendo esse néctar divinal
Dos
divinos serenos, flamejantes,
Fabricavam
esse mel pelos instantes,
“No
contato sublime da aragem”;
Como
fosse um “rumor de uma roupagem”
De
umas matas desertas e distantes.
Seu
poema Caraibeira morta
Mostra
todo o poder da inspiração,
A
linguagem sublime de Cancão
É
tal qual o verdume de uma horta.
Seus
verbetes poéticos nos conforta,
Leva
o povo ao delírio da viagem;
Essa
árvore que tinha uma folhagem,
Foi
morada dos lindos passarinhos,
Mas
os galhos secaram aos pouquinhos,
Foi
murchando e perdeu sua roupagem.
Cancão
disse, através da poesia,
Que
essa árvore já teve a sua história;
Mas
morrendo, ficou só na memória,
Pelos
cantos do pó da terra fria.
Ao
tombar, a gigante nesse dia,
Sob
os golpes cruéis de um machado,
“Foi
vendida na porta de um mercado”,
Transformada
em vil recordação;
Na
memória do gênio do sertão,
Que
ficou com seu peito machucado
Foi
vestida de sol que apareceu
Pra
Cancão sua Noiva espiritual,
Uma
santa de dom fenomenal,
Com
branduras mostrava o rosto seu.
Com
um lençol de alvura prometeu
“Placidez
como os pingos da neblina”;
Com
as “cores febris da palestina”,
Deu
a bênção a Cancão, depois, chorou;
Todo
o mundo cruel se transformou
Num encanto de paz, graça divina.
.
Paulo
Passos
*Martelos agalopados, retirados do livro: Cancão, um gênio inocente.
CANTIGAS E CANTOS
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