Alcymar
Monteiro afirma ser três em um: compositor, produtor e cantor. Ele também é
arranjador dos seus próprios trabalhos e possui autonomia sobre o resultado
final. Conta com a ajuda valiosa do filho e empresário, Alcymar Junior, e da
esposa, Jenniffer. “Nosso trabalho possui uma identidade porque não tem
interferência de outros pensamentos”, explica.
“Sinto-me
sempre começando. Cada trabalho que faço tenho que pensar do início e me
reinventar, mas ao mesmo tempo é preciso permanecer com autenticidade. É isso
que faz o artista não ser esquecido”, destaca o cearense, que já dá início às
comemorações de 30 anos de carreira, a serem completados em 2014. Para celebrar
a data, está programado gravação do CD e DVD Vozes do frevo. O show está
marcado para setembro, no pátio externo do Parque Dona Lindu, e contará com participação
do maestro Spok, Naná Vasconcelos, Bloco da Saudade e Getúlio Cavalcanti para
gravar o frevo Último regresso.
Sempre se
reinventando, Alcymar está presente nas redes sociais e é adepto ao
compartilhamento de informações. Ele disponibiliza canções no Palco Mp3. “O
artista tem que ter todas essas ferramentas na mão, Facebook, email. Uso
sempre. Todo dia, posto uma foto diferente. As redes sociais são fundamentais,
além disso tem o rádio e a TV, dois complementos importantes. Mas redes sociais,
devido abrangência e velocidade, são as ferramenta mais positiva que um artista
pode ter. Você posta uma informação agora, em um segundo já está no Japão,
Inglaterra, França, na China”. E acrescenta: “Gonzaga já dizia que a informação
iria ser muito rápida e que quem não se adequasse seria esquecido”, lembra o
artista que pegou três fases tecnológicas da música: LP, CD, DVD/Blue-ray.
Mesmo
depois de ter participado de festivais na Europa, Alcymar ainda gostaria de
realizar sonhos. “Acho que nossa música não chegou ainda ao ponto que eu quero.
Ter uma música tocada nacionalmente, sem ninguém me identificar como ‘artista
nordestino’. Quero ser conhecido como artista brasileiro que canta um ritmo que
representa minha origem”.
Apesar de
defender os valores regionais, Alcymar não gosta de rótulos. Ao ser questionado
se gosta de ser chamado de “um cantor da terra”, ele não titubeia: “Não, cantor
da terra é minhoca. Pertenço ao mundo, ao Brasil e represento um povo de 60
milhões de pessoas, o Nordeste. Me magoa ter essa separação. Será que só vão
reconhecer meu trabalho quando eu for para o plano espiritual?”. E critica a
mídia por dar mais atenção a “artistas vazios”. “Vejo tanta resistência ao
certo e facilidade ao errado. Isso amargura muito o artista não ser reconhecido
em vida. Pelo trabalho, luta, ideias e performance”, afirma.
ENTREVISTA
De onde vem
a inspiração para compor?
Isso é uma
coisa espiritual, que pode surgir tomando banho, viajando, no avião, fazendo um
lanche. Levo sempre um gravador para registrar a ideia e depois vou
aperfeiçoando.
Como é sua
relação com o público?
É o carinho
que paga todo o sacrifício do artista. Faço parte da vida das pessoas. Mas uma
coisa me incomoda: quando chego no canto, lavo as mãos para comer e alguém
interrompe a hora da refeição, querendo me cumprimentar com a mão suja. Muitas
vezes as pessoas acham que o artista tem que estar à disposição o tempo
inteiro. É preciso impor um limite.
Como
compositor, você já foi gravado por outros artistas?
Sim. Já fui
gravado por Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Alceu Valença, Marinês, Raimundo
Fagner, Zé Ramalho.
E as bandas
da nova geração do forró, eles procuram você para regravar suas músicas?
Não. E faço
questão que não gravem. Eles vão, de certa forma, distorcer o nosso trabalho. O
verdadeiro forró só existe um. Se tirar o triângulo, a zabumba e a safona, pode
ser tudo no mundo menos forró. Eu acho que não é esteriotipando a mulher,
cantando pornofonia, que você vai construir uma etnia musical. Acho que o forró
precisa de renovação, mas desde que o artista tenha talento para representá-lo.
Porque a cultura não precisa de ninguém, a gente que precisa dela. Eles fazem
apologia ao mal gosto, aos palavrões, faltam com respeito aos mais velhos e
deseducam a juventude. Acho que o caminho não é esse. Tem lugar para todo mundo
e cada um escolhe qual deve seguir. Meu caminho é do verdadeiro e autêntico, é
do Gonzagueano e Jacksoneano.
Você trouxe
novidades para o forró. Como foi esse processo?
Botei
metais, cordas, bogôs, mas não tirei triângulo, zabumba e sanfona. Nossa música
não perdeu a identidade. Já gravei Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque,
Gonzaguinha, Patativa, por exemplo. E essas canções não perderam a essência do
autêntico forró.
Você teria
vontade de fazer alguma parceira improvável?
Minha
história me proíbe cantar músicas que não representam nada para mim ou para os
outros. Não faria parceria, pois eles bebem de uma água que eu não bebo. É
impossível juntar o joio com o trigo. Eles pegaram nossa inovações, e a partir
desse algo novo, deturparam e esteriotiparam. O novo virá sempre. Agora não
pode pegar o novo e escandalizar. Não ouço, não gosto desse tipo de música. Já
gravaram algumas coisas minhas, o Mastruz com Leite gravou Cavaleiro Alado. Mas
não recriaram nada. Zé Ramalho me disse certa vez: "Quando regravar uma
obra nunca repita o arranjo, porque é mesmice". É preciso trazer algo
novo. Cada obra, quando é feita, o artista que produz coloca sua alma, você não
temo direito de mexer na alma de alguém. Música e poesia são espirituais, um
legado de Deus, ninguém pode meter a mão.
O que acha
do sertanejo?
Eles sabem
que no fundo, no fundo, serão esquecidos. Isso vem do vazio que outros grupos
deixaram. Não ficou nada, não preencheu o espaço. As pessoas ficam
procurando algo para se apegar. A mídia mostra muito, o tempo todo. O que é um
erro. Quem fala por você é sua obra. Não me pergunte desse pessoal, que não
sei.
E
Gonzagão?
Gonzaga
implantou no Brasil a filosofia da música brasileira. Ele foi um gênio que
criou a verdadeira música do Brasil. Pouca gente sabe, mas o forró é uma música
negra. Os dois maiores expoentes são negros: Luiz Gonzaga e Jackson do
Pandeiro. Até isso ele teve sorte, conseguiu romper preconceitos. Tive o prazer
de partilhar dez anos de convivência com o mestre. Ele era matutão, simples.
Gostava de comer caldo de cana com pão doce na beira das estradas. Certa vez,
durante viagem para o Crato, paramos na Serra das Guaribas, em um barraca, para
ele comer bolo de bacia com caldo de cana. Era autêntico, sem meias palavras. E
meu cumpadre, padrinho do meu filho.
Como é sua
relação com Dominguinhos?
Nossa
relação sempre foi muito boa. Dois irmãos que se encontraram no forró, que
lutam por ele e que tem como base a autenticidade. Depois de Gonzaga ele é o
artista mais completo da música brasileira. Uma pessoa que produz alegria,
poesia, positividade. Tenho certeza que ele vai se recuperar. Agora ele está
bem melhor, os rins estão funcionando, ele se comunica com as pessoas através
da escrita. Se Dominguinhos sair da trincheira será mais um grande general a
menos.
Como surgiu
o seu figurino?
Uma vez,
Gonzaga disse: "Você tem uma voz identificável, mas se você não criar um
detalhe físico, você passará despercebido. Porque a velocidade das informações
que virá vai ser muito grande. Crie um tipo". Aí veio a ideia do branco.
Como sou espiritualista, significa algo bom. Também é bom para luz, para o
palco. Uma cor ímpar. O chapéu foi inspirado no meu pai e a cor branca foi
adotada por ser a mistura de todas as cores. Não gosto de usar preto, que
representa a ausência das cores.
ALCYMAR POR ALCYMAR
Quem é?
Sou uma
pessoa calma, espiritualista, de bem com a vida. Cantar é minha missão e não
minha profissão.
Trabalho
O trabalhar
é uma terapia. Quando subo no palco e sinto uma energia ímpar, fico novo,
renovado.
Religião
Sou
Kardecista, não por opção, por nascença. A espiritualidade aflorou quando tinha
25 anos. Não como carne, não bebo e não fumo. Acho importante ter compromissos
com o outro, ajudar e servir. Isso me torna um ser humano razoável.
Amor
É a parte
mais sublime de Deus. Como disse Gonzaguinha: “A vida é o sopro do criador numa
atitude repleta de amor”. (O que é o que é, de Gonzaguinha).
Felicidade
É você
estar bem com você, com Deus e com as pessoas.
Família
É tudo.
Quem não tem, não tem nada. Familia é a base, sustentáculo que mantém o mundo
de pé.
Futuro
O futuro é
duvidoso. Vejo hoje no futuro um presente apressado. As pessoas estão
angustiadas para viver tudo rapidamente. A vida tem que ser vivida
homeopaticamente. Acho que essa pressa de chegar a lugar nenhum é muito
perigosa.
Relaxar
Gosto de
ficar no mato, próximo à natureza, colher frutas do pé. Meu hobbie é plantar
fruteiras: pitanga, acerola, graviola, manga.
Para 2014
Alcymar
também vem trabalhando no disco A bandeira brasileira do forró, que deve ser
lançado em 2014. O álbum contará com parcerias de Geraldo Azevedo, Chico César,
Caetano Veloso, Zé Ramalho, Antônio Barros e Gilvan Neves. Duas canções que vão
compor o disco estão prontas: País do futebol (um frevo sobre a seleção
brasileira) e Fly (homenagem ao seu canário de estimação).
Números
86
trabalhos
12 discos
só de Frevo
4 DVDs
Agenda
19/06 –
Frei Miguelim (PE)
22/06 –
Tucano (BA)
23/06 –
Petrolina (PE)
23/06 –
Senhor do Bonfim (BA)
25/06 –
Tanque Novo (BA)
26/06 –
João Pessoa (PB)
27/06 –
Socorro (SE)
28/06 –
Campina Grande (PB)
29/06 –
Retirolândia (BA)
30/06 –
Maceió (AL)
Fonte:
Diario de Pernambuco
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