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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Poesia: Cordel >> A Porta de São José do Egito, por Arlindo Lopes


 Arlindo Gomes Lopes, nasceu em São José do Egito-PE, no dia 21 de Dezembro de 1959. Filho de José Lopes da Silva (Tibôa) e Maria do Socorro Gomes Lopes.
Concluiu os cursos de 1º e 2º graus no Colégio Édson Simões no ano de 1979. Graduado pela Faculdade de  Formação de Professores de Arcoverde em 1985, no curso de Ciências Físicas e Biológicas. E no Ano de 2002 concluiu o curso de Especialização de Programação do Ensino de Biologia pela Faculdade de Formação de Professores de Petrolina.
Leciona na Escola Édson Simões desde o ano de 1983 e foi oficialmente seu primeiro diretor eleito, aonde chegou a Administrar por seis anos os rumos deste educandário.
         Casou-se no ano de 1992, com a Professora Maria do Socorro Siqueira Leite Lopes (Tôta). Desta união nasceu o casal de filhos: Ravi Leite Lopes e Raíra Leite Lopes.
         Além da Profissão que exerce como professor é também pintor publicitário e cordelista.
         Participou de vários festivais de Teatro (como ator e autor) nas peças: “É assim...”; “Vive-se Assim” e “O Fim da Morte”. Além destas escreveu “O Preço de um Presente”,Um Presente do Passado para o Futuro e “Auto da Rua da Baixa.” Ganhou vários concursos de poesias e obteve expressivas colocações com músicas nos festivais: FEMPP- São José do Egito e FERCAN – Afogados da Ingazeira.
No ano de 1999, publica o livro “Faces do Sonho”, o qual foi muito bem aceito pela crítica do Mundo Poético.
         Hoje, Arlindo tem 36 Títulos de cordéis editados, dentre eles estão: “Joca Batista e o Caixa Eletrônico”, “Biu Doido e suas respostas Geniais”, “Eternos Poetas”, “Amigo ser ou não ser...”. Além de criar as histórias de cordéis, o poeta é também o xilogravador de suas capas.
         Recentemente os cordéis “Édipo Rei”, “A Vida de Jesus Cristo” e “A Galinha dos Ovos De Água” foram publicados, na forma de livros ilustrados, pela Ensinamento Editora Ltda, Brasília-DF, para fazerem parte do Projeto Cesta Básica da Cultura e do Conhecimento (CBCC).
                                                     Por Socorro Siqueira (Tôta)

Assista Ao Vídeo: Recital - Cantoria (Áudio)
Arlindo Lopes - Festa Universitária - 2002

A PORTA DE SÃO JOSÉ DO EGITO  (Cordel completo)

Toda vez quando penso no passado
O meu rosto se cobre de ternura
Minha vista parece mais escura
E meu choro na mente é ocultado
A tristeza não larga do meu lado
Minha dor é rangido de cancela
Que aprofunda o buraco da mazela
Feito pelo passado que marcou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

Minha mente forçou mais um desejo
Me levou ao lugar que me criei
Foi na “rua do arranco” que morei
Numa casa com frente de azulejo
Fecho os olhos, parece que inda vejo
Um menino sentado na janela
Sou eu esse pequenino “magricela”
A viver nesse tempo que voou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

No terreiro de casa fui singelo
Dividia com outro a brincadeira
Do Pião, Garrafão, Barra-bandeira
Outro jogo surgia num “duelo”
Com castanhas jogadas no “pitelo”
Só ganhava quem mais tinha cautela
E torrava um punhado na panela
Pra depois dividir com quem "errou"
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

A energia do gás de candeeiro
Clareava a cozinha, sala e quarto
Só parteira sabia fazer parto
Sem cobrar de ninguém nenhum dinheiro
Uma roupa vestia o ano inteiro
O calçado comum era a chinela
O cordão era o cinto sem fivela
E o prazer de viver nunca falhou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

O coreto da igreja “meu castelo”
Era palco do velho leiloeiro
Que na festa só nosso padroeiro
Costumava vender com seu martelo
Essa imagem da mente descongelo
Só invejo a primeira cavadela
Que apagou do meu ser da vela
E meu reino não mais se iluminou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

Um dobrado suave ainda escuto
Vindo lá pelo lado da pracinha
É o sopro divino da bandinha
É o toque “silêncio”, um minuto!
Zé Bizunga, maestro, viveu luto
Pois a banda morreu na passarela
E o solfejo da música “aquarela”
Do Brasil”, nunca mais aqui soou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

Ao pecar, procurei Sebastião
Confessei todo mal da minha mente
Ele velho, cansado e já doente
Concedeu-me de Deus o seu perdão
E me deu um aviso em oração:
“Meu irmão Jesus Cristo se rebela
Para quem esquecer sua capela
Foi seu padre Rabelo quem falou”
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

Seu Vital, o vaqueiro do sertão
Nosso mais forte herói da vaquejada
Quando a rês arrancava em disparada
Adentrando o roçado do patrão
Se equipava das vestes do gibão
No cavalo botava sua sela
Não visava porteira, nem cancela
Só pensava na rês que desgarrou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

Nossa rua da baixa teve a sina
D’um asilo, tal qual tamarineira
Com Milonga, Mané Quelé, Bandeira
Luxim, Pedro Truvinca, Sapucina
João Guará, Manteguinha, Carolina,
Peru, Tia, Zé Gago, Vila Bela.
Vi Biu Doido com fitas na canela
E Inácio levando o que sobrou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela


Eu descia no rio São José
Tendo água na beira da barreira
E chegava no poço “Goiabeira”
Para dar um perfeito “Canga pé”
E gelado tal qual um picolé
Me cobria com a terra amarela
Para a pele ter “bronze de canela”
Porém, hoje meu rio já secou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

Corre, corre menino que tá nu
Pois “o boi de Severo” vai pegar
Só aquele que quiser trajar
Fantasias do “bloco papangu”
Disse alguém mais cuidado tenhas tu
Se esse boi te pega, te atropela
E domingo não vais ao “mela-mela”
Não ligue pois o boi “PIO” matou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

O meu pai, por “Tibôa” conhecido
Foi na vida o mais bravo lutador
Trouxe a sina de ser agricultor
Foi dos homens aquele mais sofrido
Seu trabalho pesado foi cumprido
Sem jamais ter alguém qualquer tutela
Odiava a promessa de Balela
Deu seu sangue aos seus  filhos que criou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

“Forasteiro” meu campo bem lembrado
Todo dia eu jogava uma pelada
E fazia da vida uma jogada
No silêncio cortado por meu brado
Ao invés de te darem alambrado
Te tornaram monturo de favela
E nenhum craque agora se revela
Pois a bola que lá correu murchou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

Na calada da plena madrugada
Se escutava uma voz de um seresteiro
Um rapaz solitário no terreiro
Dedicava uma música a sua amada
Era a vida querendo a paz sonhada
Era um jovem amando uma donzela
Hoje a minha cidade me revela
Que o boêmio daqui se retirou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

No barraco boneco foi chorão
Um amigo que a turma conheceu
Não se sabe dizer quem não comeu
Beira seca do couro do barrão
Tira gosto de toda geração.
Tinha tripa, preá, peixe e costela
Com tristeza a cambada tagarela
Chora a perda de quem tanto chorou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

Meu prazer é dizer que conheci
Lourival,  Jó,  Cancão,  Zezé Lulu
Pude ver o talento de Xudú
Em pé-de-parede que assisti
Eu confesso que nunca mais ouvi
Cantoria cantada como aquela
Cada vate cantou sua querela
Um a um o seu pranto derramou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

Neste dia fiquei imaginado
No prazer que me dava a mocidade
Eu não tinha desgosto, nem maldade
E na vida vivia a tudo amando
Mas o tempo por mim se aproximando
Transformou meu viver numa novela
Nunca mais pude ter a vida bela
Nunca mais meu prazer se renovou
Quando a porta do peito se Fechou
A saudade escondeu a Chave Dela

Arlindo Lopes   
01/11/95

Cantigas e Cantos

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