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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Entrevista com Ed Motta ´Música é um oxigênio, um hábito obsessivo´

Após quatro anos, Ed Motta lança novo disco. Além de falar sobre "AOR", o cantor alfineta a atual música brasileira

Para Ed Motta, a cena atual desanima: "Se eu fosse jovem hoje, teria vergonha". No entanto, revelações como Lucas Arruda devolvem as esperanças

Você é um grande colecionador de discos. Essa coleção imensa te serve de base quando você constrói o repertório de um novo disco?
Essa coleção serve de base pra tudo da minha vida. Se eu estou feliz, triste ou ansioso, tem sempre um disco tocando, 24 horas por dia, estou sempre ouvindo um LP a todo momento. Se eu estou viajando, tô sempre com um Ipod ou tocador de mp3. A música é quase como um oxigênio, é um hábito obsessivo. Essa historia da coleção, sempre que eu viajo pelo País, a primeira coisa que eu faço, antes mesmo de deixar a mala no hotel, é visitar os sebos da cidade, volto cheio de disco pro hotel.

E esses discos são, em geral, referências musicais do lugar em que você está ou raridades?
Tem de tudo. Vou procurar discos de artistas locais da época e vou pegar raridades também, da musica brasileira e internacional. Mas estou sempre atrás de uma novidade. Pergunto o que tem de diferente, o que só tem lá... geralmente, fico de olho em discos independentes lançados no local.

Seus primeiros discos têm muitas referências da música norte-americana. Depois, você fez um mergulho nos sons mais brasileiros. Essa distinção existe hoje? Você busca equilibrar suas influências?
Deixo isso seguir naturalmente. Minha música até hoje é moldada por esse cuidado técnico, muito próprio da cultura norte-americana de fazer música, esse critério com o estúdio... A influência que eu tive da música brasileira posso dizer que foi mais em relação à harmonia nos acordes, ouvindo Tom Jobim, Chico Buarque, então eu acabo usando esses sons como referências harmônicas, mas as composições em outros idiomas e o rigor do estúdio também estão lá.

O que determina que direção sua música vai tomar num álbum novo?
Quando estava pra fazer esse disco, não sabia se ia fazer um disco assim ou um outro disco instrumental, mas depois a coisa foi tomando forma. Nos últimos quatro anos, tenho me envolvido com essa coisa do AOR (Adult Oriented Rock). Canções buriladas, com requinte de harmonia e bem trabalhadas na pós produção, com trabalho de arranjos e mixagens, e ao mesmo tempo com o viés pop, uma tentativa de comunicar algo para o público também. Acho que o "AOR" é um disco fácil de ouvir, não é uma coisa para iniciados. Quem gosta de música pode ouvir o disco e gostar. Não exige uma bula. O jazz é mais difícil, você tem que ter uma certa informação sobre aquilo, sabe?

E em que medida há uma preocupação com o público?
Tem duas moedas isso aí, sempre tento fazer uma coisa que eu tenha orgulho, vontade de mostrar aquilo, mas faço tudo isso pra mostrar pros outros. A cada frase, penso: ´o que o pessoal vai achar disso aqui?´... Enfim, procuro levar o que eu penso que é o melhor para as cabeças das pessoas.

Você passou mais tempo produzindo cada canção do disco. Por que esse novo ritmo?
Meus quatro últimos discos são bem burilados no estúdio: penso na forma de fazer discos, na capa, o que eu vou usar... E essa demora, de fato, se deu porque, esteticamente, o disco obedece essa certa polidez de estúdio, ela idiomaticamente fala com essa produção. Um disco de jazz, por exemplo, não precisa de tanta técnica.
Sobre esse cuidado de estúdio, uma vez, você comentou que se dedicou a uma única música por uma semana, prazo irreal no mercado brasileiro. Você acha que esse trabalho de estúdio está em extinção no Brasil?
O Brasil tem uma criatividade gigante para a música e isso é respeitado no mundo inteiro, desde Ary Barroso, mas essa história de coisa mais metódica no disco é muito recente até. A música brasileira só viu isso na época em que o Lincoln Olivetti dominava o mercado, foi o período em que o Brasil teve os discos mais metódicos: Rita Lee, Gal Costa, era ele que fazia os arranjos. Além disso, é um gênio da eletrônica, ele sabe mexer até na parte eletrônica do negócio. A gente vive dizendo que se você der uma nave, ele conserta, sai pilotando e ainda toca teclado dentro dela! (Risos) Então, ele, pra mim, é a grande inspiração do que fazer no estúdio. Depois, na geração 1980, caiu em desuso, foi aquela época da influência do rock inglês, que dizia que ninguém precisava de grandes músicos ou de grandes arranjos. Mas agora é que tá uma loucura mesmo. Eu reclamava dos anos 80 por que não sabia o que ia vir agora! (Risos).

Mas você acredita que a indústria da pirataria e as novas formas de difusão da música, por exemplo, acabam tornando o produto disco (o álbum em si - capa, qualidade de gravação...) um tanto secundário?
Tem uma coisa do mercado, sim. Acaba que os grandes músicos do Brasil não conseguem entrar nos editais, a marca x de sabonete vai preferir patrocinar a cantora bonitinha que canta com voz de criança... Esse é o mercado de hoje. Em vários casos, os compositores autênticos, não que eles estejam sumidos, mas ficam à margem. Eu, particularmente, fico super desanimado. Não só com essa coisa do mercado e da pirataria, da venda, mas artisticamente mesmo, o fato é que vivemos um período muito ruim. Tanto que se eu fosse jovem hoje teria vergonha! Minha esperança mesmo é a cena independente. O exemplo que dou é o Lucas Arruda, que já falei várias vezes, pra mim ele é a revelação do ano, um garoto do Espírito Santo, multi-instrumentista. Então, se ele existe é por que existem mais no Brasil e essas pessoas estão caladas por que quem domina o mercado são menininhos de blusa xadrez e que imitam criança no palco. Minha sorte é que meu negócio é outro. Tenho meu público fiel, que me acompanha... Nunca fui um artista gigante, que faz turnês... Isso é pro pessoal que vende muito, eu nunca tive isso. E nem me importa tanto. A casa pode não estar tão cheia no show, mas se as pessoas se comunicam comigo, e vem ao camarim depois pra me dar bronca, dizer que eu errei a música tal, em tal hora, ou pra dizer que estava bom, é isso o que importa. Eu adoro errar letra de música só pra poder levar bronca do público depois! (Risos).

Motta segue à risca estilo que dá nome ao disco
Se AOR (Adult Oriented Rock) é mesmo essa música essencialmente de estúdio, mexida e remexida, com toque jazzístico, mas fácil de ouvir, então pode-se dizer que Ed Motta, de fato, fez aquilo a que se propôs.

Em "AOR", seu último álbum, o décimo da carreira, o cantor - reconhecido por emplacar hits swingados no início de sua trajetória, como "Manuel" e "Colombina" - lança um álbum enxuto, com jeitão de trilha sonora de novela dos anos 1990, daquelas que, de vez em quando, dá as caras no Vale a Pena Ver de Novo. Uma novela solar, que se passaria - provavelmente - no Leblon. O fato é que tem marcas de passado, talvez não só da tão recente década de 90 (uma percepção, aliás, desta que vos escreve, nascida no fim da década de 80), mas sim próprias dos anos 1970, ápice do AOR, representado principalmente por Christopher Cross e Alessi Brothers e, no Brasil, por Rita Lee e Guilherme Arantes.

Quando afirma que seu álbum foi bastante "burilado" em estúdio, Ed Motta demonstra o quanto conhece o mais novo filho. A assepsia sonora e as mixagens, próprias das construções musicais em estúdio, são muito vivas, perceptíveis logo que as canções chegam aos ouvidos.

O tempero jazzístico, típico de suas criações, no entanto, permanece. Para garanti-lo, Ed conta com um senhor elenco de colaboradores. As guitarras de David T. Walker, em "Ondas Sonoras", e de Chico Pinheiro, em "1978", são verdadeiros presentes para quem aprecia o instrumento. Os metais de "Latido" dão peso à faixa sete e, junto com a bateria certeira de Sérgio Melo, compõem a moldura da canção, com letra em espanhol, escrita por Daniel Spinetta.
O enorme aparato de instrumentos e burilagens, contudo, parece compensar a simplicidade das letras, que de tão medianas, aliás, geram uma certa incredulidade quando, no encarte, descobre-se compositores como Rita Lee e Adriana Calcanhoto.
A melhor delas, inclusive, parece ser a de autoria do próprio Ed Motta, intitulada "A Engrenagem". Nela, o cantor desabafa a respeito dos comentários feitos por ele em sua página do Facebook, que chegaram a ameaçar sua carreira, com cancelamentos de shows e tudo o mais.

Na letra, Ed Motta diz: "Não foi nada de mais / repetia tudo sem ter medo / não foi nada de mais / ficou tarde, eu sei / para rir outra vez".

Disco

"AOR"
Ed Motta
dwitza music
2013, 9 faixas
R$28,90

Mayara de Araújo
Repórter

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