“Depois saí pelo mundo e fui tocar na noite”, recorda o guitarrista e compositor, que foi morar nos Estados Unidos em dois períodos distintos: de 1996 a 2001 e de 2003 até 2005, quando retornou de vez ao Brasil. Como revela, as viagens foram necessárias para encontrar a identidade pessoal. Sem grana, mas com documento no bolso, Pedro Baby “foi viver”. E como a irmã Zabelê também já morava no exterior, escolheu os EUA, onde, por necessidade, foi tocar na noite.
“Precisava muito disso e tive sorte, já que em Nova York há noite e baile que já não existem no Brasil”, compara o jovem artista, cuja formação foi forjada na noite da Big Apple. Exatamente lá ele acabou se deparando com Bebel Gilberto, a filha de Miúcha e João Gilberto, com quem tocou em várias ocasiões. De volta ao Brasil, depois de acompanhar Marisa Monte e Ana Carolina, veio o convite para fazer Recanto, o novo show de Gal Costa, com quem Pedro acaba de gravar e lançar CD/DVD ao vivo.
“Além da relação próxima que tenho com Gal”, relata o guitarrista, “tinha de retomar a coisa maternal que tive em casa. Sou meio filho de Gal também”, afirma Pedro Baby, que, a partir de então, diz se sentir em condição de encarar qualquer trabalho. “Daí a confiança de fazer o convite para minha mãe retomar a carreira”, confessa o filho, responsável pela volta recente de Baby do Brasil aos palcos, em show incensado por público e crítica. Foi a partir de um papo com Gal Costa, em que ela falava do quanto deveria ser legal para um filho tocar com a mãe, que ele decidiu convocar Baby para voltar aos palcos.
Compositor solicitado
A seguir veio o disco de estreia de Preta Gil, em que ela gravava várias parcerias dele com David e Betão Aguiar, que vem a ser filho do também novo baiano Paulinho Boca de Cantor. Ivete Sangalo seria a próxima a gravá-lo, seguida de Maria Rita, cujo single 'Para matar meu coração', do disco 'Elo', de 2011, marcou o inicio da parceria de Pedro com Daniel Jobim, o filho de Paulo e neto de Tom Jobim. Melodista assumido, ele diz não gostar de fazer letras porque acaba se entregando muito. “Nas melodias, tento buscar o caminho doce, natural”, diz.
“Como músico, fui para o violão, que foi o meu primeiro instrumento, enquanto Davi, filho de Moraes, foi mais para a guitarra, apesar de ser um grande melodista”, diz, chamando a atenção para a diferenciada opção profissional dos filhos de Pepeu Gomes e Moraes Moreira, sócios-fundadores dos Novos Baianos. “Fui para o violão muito pela influência de João Gilberto, a fonte dos Novos Baianos”, orgulha-se da origem.
De acordo com Pedro Baby, ele já tinha noção da carreira dos pais quando se interessou por música. “Mas quando entendi, dei nome aos bois”, garante o filho de Pepeu, admitindo que a presença do grupo foi tão avassaladora para ele que chegou o momento em que não queria saber de nada além dos Novos Baianos. “Como via neles a conexão com João Gilberto, a partir de então tive a certeza de que queria ser músico”, confessa.
Com o ídolo João Gilberto ele teve contato apenas por telefone, algumas vezes. “Era meu aniversário, ele ligou da Espanha para a Bebel e ela falou da data. Ficamos uma hora conversando”, recorda feliz com a oportunidade. Na visão de Pedro Baby, o festejado pai da bossa nova foi responsável por apontar um caminho, uma direção para a música brasileira. “João conseguiu resumir muita coisa, tais como o choro e o samba, com o universo do jazz. A batida que ele criou determinou o nível de identidade para a música brasileira, ao lado das composições de Tom Jobim. Tudo é de uma profundidade grande, inesgotável.”
O primeiro disco solo do guitarrista-compositor pode estar a caminho. Entre os novos parceiros com os quais já está trabalhando estão Domenico Lancelotti e Arnaldo Antunes. “Há anos planejo o disco, mas acabei dando prioridade aos convites que recebi para trabalhar com outros artistas”, explica. Para ele, a gravação é um processo natural na vida do artista.
FÉ NA ARTE
Para Pedro, “graças a Deus que a mãe está viva” para poder mostrar às novas gerações a genuinidade do trabalho dela. “É bom a galera que pegou a música e a tecnologia em outro momento poder vê-la. O primor no tempo de minha mãe era a arte, que hoje tem menos importância.” Ele destaca que cada show de Gal Costa tem algo mágico. “É diferenciado, é filosofia de vida. Diferente do pop de hoje. Na época de minha mãe e de Gal era mais música por música”, analisa.
FÉ NA VIDA
Conectado a Deus de forma diferente das irmãs Nana e Sara Sheeva, que se tornaram pastoras – Zabelê, a outra irmã, também não se converteu – Pedro diz que apesar de viver o louvor, a dedicação e a disciplina, ele não se envolveu direta ou indiretamente com religião. “Lido de outra forma com isso”, afirma o filho de Baby do Brasil, que se diz “enfeitiçado”, atualmente, pela namorada mineira, radicada no Rio.
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