MÚSICA: Família de Dominguinhos dividida em disputa judicial

 

Em quase três meses de internação hospitalar, o mestre Dominguinhos venceu oito paradas cardíacas, duas infecções pulmonares e um quadro grave de arritmia. Internado na UTI isolada do hospital Sírio-libanês em São Paulo, o sanfoneiro, herdeiro musical de Luiz Gonzaga, se recupera de um início de infecção no pulmão, que surgiu há cinco dias e o tirou do quarto, levando-o de volta à UTI. Em um momento em que a saúde do sanfoneiro ainda inspira cuidados, a família dele passa por um momento delicado com a disputa antecipada da herança do músico.
De um lado está Mauro, filho do primeiro casamento de Dominguinhos. Do outro, a ex-mulher e amiga Guadalupe Mendonça e a filha Liv Moraes. Elas acusam Mauro de ter “se apossado” do apartamento do pai em São Paulo. Ele estaria proibindo Guadalupe e Liv Moraes de entrarem na residência. “Hoje (ontem) fui com o advogado pegar a sanfona dele e Mauro bloqueou nossa entrada”, contou a ex-esposa, que detém uma procuração de plenos poderes em relação a Dominguinhos desde 1994. Mauro entrou com um pedido na Justiça para ser o novo procurador do pai.
A conversa com Guadalupe na noite desta terça-feira aconteceu em tom de desabafo. Ela havia acabado de chegar do hospital. “Eu e Domingos sempre tivemos uma vida discreta, sem escândalos”, disse. “Agora, quando eu deveria usar minha energia toda para cuidar dele, me vejo obrigada a ter que fazer isso (ir para a Justiça)”.
Mesmo divorciado, Dominguinhos era bastante próximo de Guadalupe. Ele, inclusive, ainda morava em São Paulo por conta dela e da filha, que vivem na capital paulista. Cantora, Liv Moraes acompanhava sempre o pai nos shows, desde que ele começou o tratamento contra um câncer de pulmão, descoberto há mais ou menos sete anos.
De acordo com Guadalupe, a relação de Dominguinhos com Mauro não era próxima. “Em sete anos de doença, ele só visitou o pai uma vez, na primeira cirurgia. Domingos não gostava do jeito que o filho agia com as pessoas que se aproximavam dele para tirar fotos e pedir autógrafos. Ele era agressivo”, disse.
Quando entrevistei o mestre no final de 2011, no Exu, ele falou que queria trazer o filho para trabalhar com ele de novo – Mauro foi técnico de som e, na época, trabalhava como taxista. Dominguinhos teve ainda outra filha, Madalena, irmã de Mauro, falecida aos 49 anos.

 

Visitas – Antes de voltar para a UTI, Dominguinhos havia começado a receber a visita de parentes e amigos mais livremente. Há cerca de vinte dias, Elba Ramalho cantou para ele e Mestrinho – enteado do compositor João Silva – tocou sanfona. O apresentador Raul Gil, que é vizinho de Guadalupe, também fez uma visita. Quando Dominguinhos melhorar, duas visitas já estão agendadas: Jair Rodrigues e Luciano do Vale.
Os encontros foram recomendados pelos médicos e fazem parte de uma terapia para restabelecer a memória de Dominguinhos. “O quarto em que ele estava foi todo decorado com fotos de momentos felizes da nossa vida”, contou Guadalupe.
Dominguinhos não está mais sedado. Um dos rins funciona normalmente e a hemodiálise foi dispensada. O marcapasso provisório foi retirado e as arritmias diminuíram. Ele reage a estímulos, como apertar a mão dos familiares, mas ainda não fala. “Ele está se recuperando muito lentamente”, diz Guadalupe.
As visitas de amigos e artistas pernambucanos ainda são raras. “Quando ele estava no Recife, o estado dele não permitia visitas, mas agora pode (quando ele sair da UTI). Quem não visitou foi porque não quis. Ele ficaria magoado com isso, se ele pudesse falar. Estou com ele há 36 anos e sei como ele pensa”, disse Guadalupe, que está escrevendo um livro sobre a vida dela com o músico.
 
por Carolina Santos

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