terça-feira, 21 de abril de 2020

Poesia: "Velhice", um poema de Arlindo Lopes

Foto: Francisco Vieira

VELHICE

A velhice me persegue
Sem permitir minha fuga
Quanto mais o tempo passa
Mais ela não me refuga
E faz do meu corpo encosto
Deixando no velho rosto
O traço da nova ruga

Eu quando meu rosto afago
Sinto as rugas feito sendas
Ou um paredão rochoso
Dividido pelas fendas
E cada linha traçada
Torna a face mais marcada
Do que bordados de rendas

Cada ruga em mim surgida
Multiplica o meu pavor
Deixa na face estampada
A nuvem negra da dor
E faz crescer o meu pejo
Quando no espelho me vejo
Vejo em mim meu impostor

Meu rosto em decrepitude
Delata a soma da idade
Se eu pudesse voltaria
A viver a mocidade
E na minha meninice
Eu prenderia a velhice
Na cela da eternidade

Quis me curar da velhice
Com o milagre do esporte
Busquei também na ciência
A minha volta de forte
E numa longa procura
Descobri que só se cura
A velhice com a morte

Arlindo Lopes “Pirraia”

CANTIGAS E CANTOS 

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